Um fato de banho islamita
Como se vestir um fato que cobre todo o corpo da mulher deixando apenas à mostra as mãos fosse um direito das mulheres e não uma imposição religiosa.
As bens pensantes dão piruetas no sentido de desviar o foco da discussão. Trata-se de um direito. Não trata. Trata-se de impor a uma sociedade laica e democrática a humilhação das mulheres.
O primeiro-ministro, Manuel Valls, saiu a apoiar as decisões dos municípios – “o uso do burkini não é compatível com os valores da França e da República”, disse o chefe do Governo. “As praias, tal como todos os espaços públicos, devem ser preservadas de reivindicações religiosas”, acrescentou Manuel Valls.
Mas laicidade significa respeitar a liberdade de ter ou não ter religião, e ser feminista não pode significar que se recuse a mulheres adultas, numa parte do mundo que lhes garante os mesmíssimos direitos que aos homens, a capacidade de tomar decisões sobre si.
Esta última forma de colocar o problema tem na sua raiz a mesma perversão que leva ao essencial da questão. Do que se trata é que o uso do fato de banho islâmico não é mais do que uma manifestação religiosa pública numa sociedade livre, democrática e laica.
A mesma ideia que subjaz aos vários tipos de "traje islâmico" - do hijab, lenço que cobre o cabelo, aos radicais burqa (espécie de tenda em que até olhos são tapados com rede) e niqab (apenas com os olhos à vista) -, e que nas praias e piscinas implica às mulheres que a acatam veranearem "vestidas" ou com aquilo a que se deu o nome de burkini.
Não nos iludamos. Estamos perante uma guerra em que uma sociedade livre está a ser invadida por radicalismos que atentam contra a liberdade individual e colectiva.