Mazinha mas todos a querem. Agora é a Ucrânia com uma esmagadora maioria a votar a favor dos partidos pró- Europa. Os países que vivem mal, pouco desenvolvidos, tal como nós em 1986, esperam e preparam-se ansiosamente para entrar na UE. É a forma mais rápida e mais segura de deixarem a pobreza para trás. E, em alguns casos, como a Ucrânia, protegerem-se da ditadura e da força bruta. Basta olhar com serenidade para nós próprios. O país desenvolveu-se mais nestes últimos 28 anos que nos 100 anos anteriores.
Ainda no 25 de Abril de 1974, Portugal era uma ditadura fascista, miserável e analfabeta. Um país envolvido numa guerra injusta onde tanta da nossa juventude deixou lá o melhor da sua vida. Hoje somos um país desenvolvido, com um estado social digno e uma sociedade civil democrática.
A Ucrânia vive hoje um pesadelo parecido. Quer afastar-se da guerra e da pobreza e, em seu lugar, erguer uma democracia e um estado social.
Uns por indigência mental outros por facciosismo ideológico não querem ver a realidade.
A Ucrânia iniciou um processo de desagregação territorial para sobreviver à sua situação geoestratégica. Com ganhos para a sua posição política entre a UE e a Russia. Politicamente, parece ser um passo rumo ao ocidente. A maior autonomia nas regiões separatistas, afastando Bruxelas dos países que estão na órbita da Rússia, garante o equilíbrio. E o gás vai jorrar no próximo inverno e o rublo, a moeda Russa, vai voltar a apreciar-se com o fim do embargo comercial.
Com o Estado Islâmico a ameaçar tudo e todos voltou a negociação política. Putin, que queria chegar a Kiev em duas semanas, vai ter que refrear os intentos para melhor momento. Que pode nunca mais voltar. Para uma primeira impressão só há uma oportunidade e Putin não conseguiu ir além das regiões mais próximas com população de raiz russa. Foi a partir da Ucrânia que os povos povoaram o que é hoje o território russo. Falam a mesma língua e a maioria dos Ucranianos não esquece os anos de protectorado da ex-URSS. Todas as democracias saídas da desagregação da União Soviética uniram-se à UE ou estão a caminho.
Se nos colocarmos no lugar da Rússia é fácil perceber que a anexação da Ucrânia à UE é intolerável. O Ocidente aproximou-se da Rússia convencido que a interdependência económica esbateria a natureza imperial do estado Russo. Um erro crasso. Foi a partir da Ucrânia que nasceu o povo Russo e a língua é praticamente a mesma. Putin não permitirá nunca ficar sitiado na Praça Vermelha.
Antes de terminar queria propor-vos uma outra perspectiva, contrária às anteriores. Refiro-me a um ensaio publicado na última edição da Foreign Affairs no qual John J. Mearsheimer, um professor de relações internacionais da Universidade de Chicago, defende a tese de que a culpa de tudo o que se está a passar é do Ocidente e do seu desejo de integrar a Ucrânia na União Europeia, porventura até na NATO, algo que a Rússia sempre considerou intolerável. Vale a pena conhecer os seus argumentos: ( o observador) The crisis there shows that realpolitik remains relevant -- and states that ignore it do so at their own peril. U.S. and European leaders blundered in attempting to turn Ukraine into a Western stronghold on Russia’s border. Now that the consequences have been laid bare, it would be an even greater mistake to continue this misbegotten policy.
Ana Gomes (PS) luta ao lado dos democratas na Ucrânia. Diz que "é uma nova era" para aquele país. Pelo contrário o PCP diz que é "uma brutal ingerência" da UE e da NATO. Para os comunistas o que se passa na Ucrânia é o resultado do capitalismo que substituiu o comunismo naquele país. Para o PCP, os acontecimentos recentes na Ucrânia "evidenciam a instrumentalização por parte das potências imperialistas na NATO" do "profundo descontentamento acumulado entre os trabalhadores e "amplas camadas da população" que disse resultar do "desastre social e económico da restauração do capitalismo" naquele país nas últimas duas décadas.
Muito pode o capitalismo nas contas do PCP. Como é que milhares e milhares de pessoas na Ucrânia, na Hungria, na Roménia e em tantos outros países ex-comunistas estão ao lado do capitalismo é, para mim, um mistério . Será que viveram muito pior no sistema comunista?
Na Ucrânia as pessoas vão para a rua e revoltam-se com violência porque não têm nada a perder. Vivem na miséria há muitos anos. Em Portugal a maioria tem muito a perder. Há quarenta anos Portugal era tão miserável como é hoje a Ucrânia. Apesar de todos os erros e da injustiça social, os portugueses gozam de liberdade, do Serviço Nacional de Saúde, da Educação, da Segurança Social.
Quando os povos têm razões para serem violentos não precisam que se organizem Aulas Magnas a incitar à violência. Nem que meia dúzia de membros do PCP persigam o governo em protestos transmitidos pelas televisões. Os ucranianos vão para a rua por iniciativa própria, perderam a esperança, percebem que os querem prender novamente à ditadura e à miséria. Mais, o facto de os Ucranianos morrerem para se juntarem à União Europeia, na esperança de gozarem da mesma qualidade de vida dos portugueses, devia travar a demagogia. É que é feio fazer demagogia sobre as lições da Ucrânia.
O povo Ucraniano sempre viveu na miséria. Durante a ex- URSS a propaganda é que eram todos iguais. Com o ex-presidente em fuga começam a aparecer os sinais exteriores de riqueza. Palácios e casas luxuosas como não há no ocidente. O povo para fugir à miséria das manhãs que cantam "anda pelo mundo repartido". A fazer na emigração o que os portugueses fizeram nos anos 60. Os trabalhos mais duros e pior pagos. O povo Ucraniano tem muitas razões para querer juntar-se à União Europeia.
Nuno Roby Amorim : Constata-se por aqui no facebook que uma quantidade não negligenciável de pessoas defende que as manifestações na Ucrânia são o resultado de grupos neo-nazis e ultra fascistas. É conhecido que existem grupos com essas características entre os manifestantes, mas reduzir as manifestações apenas a isso, parece-me altamente demagógico. Mais, como segundo raciocínio, avançam que o presente conflito é resultado de uma hipotética estratégia ocidental, (leia-se EUA e EU), para controlar países afectos até agora à zona de influência de Moscovo. Em nenhum caso avaliam a hipótese de, pelo menos, parte dos ucranianos estarem simplesmente fartos de uma falsa democracia, ou de uma democracia musculada se preferirem, que não lhes tem melhorado a qualidade de vida. Maioritariamente estes comentários tem origem numa determinada esquerda portuguesa.Trocando por miúdos, fazer uma afirmação destas, é a mesma coisa de que dizer que o 25 de Abril foi uma revolução comunista que pretendeu colocar Lisboa sob a alçada da União Soviética. Não foi e com o tempo o poder oscilou entre pólos distintos. Deixem os ucranianos ter a sua revolução dos cravos porque a liberdade é universal...
O Presidente da Ucrânia vai marcar eleições antecipadas em 2014. Cidadãos morrem na rua pela liberdade. Querem viver em democracia juntando-se à União Europeia.
Na Venezuela, os opositores ao governo são presos e morrem cidadãos nas ruas. Também lutam pela democracia.