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BandaLarga

as autoestradas da informação

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Os serviços públicos devem ser grátis ?

E os transportes públicos devem ser grátis ? O que se verifica nos países europeus é que quer na Saúde quer na Educação à medida que os cidadãos sobem no seu rendimento procuram os hospitais privados e as escolas privadas.

O preço a partir de certo nível não é factor determinante.

"As pessoas acima de um determinado nível de rendimento não mudam para o transporte público por ser barato ou grátis mas apenas se apresentar vantagens. Se queremos tirar as pessoas dos automóveis temos que lhes oferecer bons transportes públicos, eficientes, rápidos, com boa cobertura."

Só hospitais públicos sem listas de espera e sem urgências esgotadas podem impedir o crescimento do sector privado. E só boas escolas públicas podem impedir o aumento da frequência de boas escolas privadas.

As más escolas públicas estão cheias de alunos pobres sem liberdade de escolha.

O caos dos transportes públicos

Foi uma cópia só que incompleta. Baixar o preço dos bilhetes sem aumentar a oferta do transporte. O resultado só pode ser um. Passageiros em terra.

Em alguns países da Europa a medida já foi implementada nos últimos anos com resultados muito bons. Numa cidade alemã a redução de carros privados foi de 60%. Mas lá fez-se o trabalho de casa. Melhores autocarros, melhores transportes ferroviários, melhor metropolitano e construção de parques na periferia da cidade para conter a entrada de carros.

Por cá fez-se o mais fácil, o mais barato e o que deu mais votos. Os cidadãos é que começam a fazer contas.

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Uma fraude com pedido de desculpas

Como se adivinhava a redução dos preços dos passes dos transportes públicos atraiu cerca de 160 000 utentes (só em Lisboa) mas não atraiu mais barcos, comboios ou autocarros. Resultado ? O caos .

Trata-se de uma fraude, acenar com um preço mais baixo para atrair cidadãos para um serviço que não existe.

As desculpas são as do velho charlatão apanhado com a boca na botija ( tipo Joe Berardo...). A culpa, bem entendido, é dos trabalhadores e das suas greves, os investimentos que não se fizeram e que deixaram apodrecer comboios e barcos são agora alegremente previstos lá para 2022 porque não há stocks deste tipo de maquinaria. Há que produzi-los primeiro coisa, claro, que não era possível prever. 

Num país decente o que é que aconteceria a um governo que vende um serviço que não existe ? E que leva ao engano 200 000 utentes em todo o país ? E que lhes fica com o dinheiro dos passes ?

Com cobrador mas sem maquinista. Esta não lembrava ao Joe...

Sair da listas de espera dos transportes e entrar nas da saúde

A economia não gera mais riqueza, os impostos estão a um nível que não dá margem para aumentar, a dívida não pára de crescer, a despesa pública com os transportes cresce à custa de quê?

É escolher entre a saúde e a educação. Para os professores não há dinheiro como disse e bem o primeiro ministro. Para os enfermeiros não há dinheiro como disse e bem António Costa. Mas há dinheiro para os passes em Lisboa e Porto ?

E não, não são as verbas que o governo nos vendeu ( para nove meses ). É muito mais e as verbas das autarquias também vêm do orçamento. E " à Costa" as verbas atribuídas dão todos os dias um salto . O dinheiro vai sair de algum lado.

As famílias terem mais dinheiro é bom mas não se esconda que estas mesmas famílias vão para as listas de espera do SNS quando estiverem doentes. É uma questão de prioridade e o governo escolheu uma medida eleitoralistas e oportunista. É boa ? É . Mas não chorem lágrimas de crocodilo por os utentes do SNS serem mal tratados .

Os professores arranjaram um bom argumento mas palpita-me que os sindicatos não o vão usar.

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Um passe de mágica nos transportes

Novos comboios lá para 2023. Novos eléctricos foi lançado agora o concurso. Era bem melhor que o governo distribuísse dinheiro pelas famílias.

O dinheiro vem do orçamento incluindo a comparticipação das autarquias pelo que vai ser retirado da saúde e/ou da educação. E o custo da medida já vai nos 117 milhões para nove meses. Vai ser bem mais. E quem vai receber agora dinheiro vai esperar meses para uma consulta no SNS. Lágrimas de crocodilo pela saúde...

Na "Opinião pública" vem a revolta do Algarve onde a A25 sem custos é um sonho adiado e das Caldas da Rainha vem a mágoa de quem beneficia de um autocarro de manhã e outro à tarde. É que no interior os transportes públicos são poucochinhos quando os há.

A medida não foi preparada para que o impacto positivo se faça sentir nas eleições e o impacto negativo se faça sentir depois. E é certo que no caso que se deseja de as pessoas trocarem o carro individual pelos transportes públicos teremos fortes problemas do lado da oferta.

É pena porque esta medida já é uma realidade há muitos anos em vários países europeus.

Os passes de António Costa e os frigoríficos de Valentim Loureiro

Em Gondomar, há uns anos, Valentim Loureiro resolveu comprar os votos da população oferecendo electrodomésticos. Foi um bruá de todo o tamanho e com razão. 

Agora temos Costa a reduzir drasticamente o preço dos transportes em vésperas de eleições sem que antes aumente a oferta com mais comboios, barcos e autocarros. Pelo menos durante algum tempo ( e vai ser largo) o que esta medida faz é aumentar o rendimento das famílias que usam os transportes públicos ( e que o país todo pagará) . Não haverá mais procura , não haverá menos poluição, não haverá menos carros no centro da cidade. O que haverá  é o governo distribuir dinheiro por alguns à custa dos outros todos.

É bom ? É, tal como o populismo de Valentim Loureiro. As famílias melhoram a qualidade de vida . Mas está dentro da regras ? Naquele tempo chamaram tudo ao Major e com razão.

Isto abre a porta a que os milionários que entrem na política possam comprar o voto popular. Basta abrir os cordões à bolsa. Burla a democracia mas é bom para os pobres .

 

A sorte do governo é se os Lisboetas não aderirem

Barcos para atravessar o Tejo só em 2021. Comboios para entrar em Lisboa só lá para 2023. Extensão do Metro só lá para 2023 . E se os Lisboetas aderirem ao transporte público ?

A redução do preço do tarifário é bom para os que já utilizam os transportes públicos e mau para todos os outros contribuintes que pagarão a factura. Para os que quiserem trocar o transporte individual pelo transporte público será uma grande desilusão. Basta usar o Metro para se perceber isso. Não cabe nem mais um passageiro e as estações ( parte delas) já foram alargadas para seis carruagens .

Se crescer a procura como é que se acomoda numa oferta que não responde já hoje ? Não acomoda .

Uma coisa é uma medida de justiça social que é boa outra, bem diferente, é melhorar a vida dos Lisboetas em termos de transportes. E isso não se faz a curto prazo e com o Estado sem dinheiro para investir nem mesmo a médio prazo. E a dívida cresceu nos últimos três anos 20 mil milhões de euros.

Ficam os votos .

 

O governo ( e os seus apoios) a comprar votos nas áreas de Lisboa e Porto

Com os incêndios florestais e dramas da população pensou-se que a intenção de voto abandonaria o governo . Tal não se verificou e a razão é bem simples.

Em 2015 o PS só elegeu mais deputados do que a direita em três círculos (Açores, Faro e Setúbal). Costa perdeu em todo o território acima do Tejo e em muitos distritos importantes perdeu com estrondo, obtendo apenas metade dos mandatos (veja-se Aveiro, Leiria, Viana do Castelo ou Viseu). Piorando as coisas, para formar governo o PS teve de se aliar a partidos que, no seu conjunto, têm em Lisboa, Porto e Setúbal cerca de 65% dos seus deputados.

Este facto explica bem a apressada medida da redução do preço dos transportes em Lisboa e Porto.

É dificil que os partidos tão dependentes dos grandes centros urbanos se preocupem com o interior .

Transportes : Se a oferta está uma miséria como raio se vai aumentar a procura ?

O investimento nos transportes públicos caiu imenso e a degradação dos respectivos serviços é dolorosa. Ninguém põe isso em dúvida  . Assim sendo como é que se vai aumentar a procura baixando o preço sem aumentar e/ou melhorar a oferta ?

Trata-se de uma golpada eleitoral. O resto do país vai pagar via orçamento a poupança nos bolsos dos lisboetas e dos portuenses. Onde há ( muitos) votos.

Os problemas da degradação dos transportes públicos aumentarão a médio prazo mas a curto prazo ( antes das eleições) a população vai sentir no bolso a poupança.

Há quem diga que a habitação à roda das grandes cidades vai ganhar muito com esta medida. Mas, pergunto eu, olhem para a IC 19 ( Lisboa-Sintra) : quando é que aqueles milhares de pessoas que torram dentro dos carros três horas/dia vão ter oportunidade de trocar o carro por transportes públicos ? Naqueles comboios cheios como latas de sardinha, permanentemente atrasados e perigosos ? A Ponte 25 de Abril vai descongestionar-se ? Mais comboios  na linha de Cascais a caírem de podre ? E a entrada a norte via aeroporto mudou, muda ? E a ponte Vasco da Gama ?

Onde está o dinheiro para investir em mais e melhores meios de transporte público ? A isso o governo não responde.

Sem mais e melhor oferta não haverá redução da utilização do automóvel

Para quem já utiliza a rede de transportes pública a baixa de preço é bem vinda( é bom para as famílias de mais baixo rendimento) mas é pouco para fazer mudar quem não utiliza. Sem uma melhor oferta - mais veículos, melhor conectividade, mais pontualidade, menos greves - a medida de Medina não terá impacto significativo.

Nesse aspeto, vale a pena ouvir o professor José Manuel Viegas (provavelmente a pessoa em Portugal que mais sabe de transportes), quando diz que a redução de preços pode ser muito importante para quem já usa os transportes públicos, nomeadamente as famílias de baixos rendimentos. Mas que não terá nenhum efeito na substituição do automóvel pelo transporte público. Também diz que: “O problema ataca-se com uma revisão global do esquema de serviços que são oferecidos à população. Se quisermos atacar o problema fundamental, o primeiro passo é redesenhar a rede. O verdadeiro problema que leva as pessoas a vir de carro é a má qualidade da rede, para muitas pessoas e muitas ligações que as pessoas têm de fazer. Era por aí que teríamos de começar”.

Medina já está em campanha eleitoral . Lisboa é para os socialistas uma rampa de lançamento para outros voos.