Esfumado o sonho há agora outros sonhos a tornarem-se realidade. A derrota do PSD foi manifestamente exagerada e à direita entram no hemiciclo um deputado do INICIATIVA LIBERAL e um deputado do CHEGA. No futuro vamos ter estes dois partidos com uma muito maior exposição mediática e a profunda desigualdade que existe entre a esquerda(PS/PCP/BE/PAN) e a direita (PSD/CDS) irá desvanecer-se.O Iniciativa Liberal conseguirá eleger um deputado apenas dois anos após a sua formação coisa nunca vista por cá.
O universo político português começa a assemelhar-se com a generalidade dos universos partidários europeus, onde a social-democracia, a democracia cristã, os liberais e até a extrema direita estão representados( por cá só temos extremismos à esquerda) .
O espectro partidário tuga começa a mexer-se 45 anos depois. Está a sair de cena o resultado político da década de 70 e a nascer o cenário político resultado da nossa integração europeia.
Depois de quatro anos muito difíceis com as medidas da Troika o PSD mesmo assim ganhou as eleições legislativas. Nessa altura já a economia crescia, havia espaço para a devolução de rendimentos e para a redução da carga de impostos.
António Costa para salvar a pele tirou o coelho do chapéu, criou a geringonça e fez à esquerda o que o PSD teria que fazer à direita. Os objectivos eram os mesmos só as medidas eram diferentes.
Devolver rendimentos mais pausadamente, reduzir a carga fiscal, manter o défice controlado e baixar a dívida. O programa de compra do BCE, baixando os juros a níveis nunca vistos, criou a almofada financeira, juntamente com a criminosa redução do investimento e a degradação acentuada da qualidade dos serviços públicos muito especialmente no SNS.
O PS está a gora a beneficiar da mesma visão que os portugueses tiveram com o PSD nas últimas legislativas. Há que deixar que o PS de António Costa siga o seu caminho até se ver se o porto é ou não seguro. No próximo ano e no ano seguinte já se saberá.
Sem as reformas que o BE e o PCP não deixam fazer ( vejam como Catarina e Jerónimo gritam para que os avanços se mantenham e como temem as alterações à lei laboral e a CGTP ameaça que 2020 será um ano agitado) a economia irá entrar novamente numa pasmaceira que Costa teme. Centeno já deu mostras que está de mal aviadas e não quer enfrentar esse ciclo económico em baixa.
Ora, tudo isto será mais fácil de enfrentar se o PS tiver maioria absoluta e não precisar de ceder às reivindicações dos partidos à esquerda. Bastam os problemas que não conseguirá evitar.
Mudaram todos em relação às eleições legislativas anteriores menos o voto do povo. Que o PS acabe o que começou.
Vejamos o desempenho da Eurosondagem nos períodos eleitorais de 2011 e de 2015. Em Junho de 2011, o resultado das eleições legislativas foi o seguinte: o PSD alcançou 38,65% dos votos e o PS 28,06%. Ou seja, quase 10% de diferença a favor dos sociais democratas. No final de Maio, cerca de duas semanas antes das eleições, a Eurosondagem colocava o PSD à frente do PS pela diferença de 1,7%, 1,6% e 1,3%. Em Junho as sondagens da mesma empresa reconheceram o crescimento da diferença entre o PSD e o PS. Mas mesmo assim na última sondagem antes das eleições a diferença, segundo a Eurosondagem, era de 4,5%. Errou por mais de metade.
Em 2015, a coligação entre o PSD e o CDS (Portugal à Frente) recebeu 38,50% dos votos, contra 32,31% do PS. Ora, a Eurosondagem colocava o PS à frente por três pontos em Junho, com dois pontos em Julho, e em Agosto e no início de Setembro com um ponto de avanço. Na última sondagem publicada pela Eurosondagem, no dia 25 de Setembro, nove dias antes das eleições, o PS ainda estava ligeiramente à frente da coligação PSD-CDS com a diferença de 0,5%. Na mesma altura, a Intercampos colocava a coligação das direitas à frente entre cinco e seis pontos, e a Universidade Católica dava entre seis e sete pontos de avanço à PaF. Curiosamente a Aximage também errou consideravelmente na sua última sondagem antes das eleições de 2015, colocando o PS com menos 0,5% de votos.
Acredito que o PS vá à frente nas intenções de voto mas já quanto à diferença entre PS e PSD tenho muitas dúvidas.
Sendo certo que o PSD vem subindo no barómetro da Aximage há seis meses consecutivos, o crescimento alcançado entre Fevereiro e Março - primeiro mês desde que o partido é presidido por Rio, que assumiu formalmente a liderança social-democrata no Congresso de meados de Fevereiro - representa a maior subida em quatro meses. Por outro lado, a distância agora verificada entre os dois maiores partidos (12,2 pontos percentuais) é menor do que era em Dezembro de 2016 (12,7 pontos).
As intenções de voto começaram a mexer, venceram a inércia e o que vem aí na governação não é melhor .
Resposta ao comentário do leitor ANTÓNIO FILIPE, que muito agradeço :
"Já quase toda a gente chegou à conclusão que, afinal, havia alternativa."
A única "já quase toda a gente" que se pode vêr é aquela, cerca de 80% dos sondados, que dá a sua confiança ao actual Presidente da República. O que o PR tem vindo a dizer é que o que foi feito ao longo de todos estes anos, incluindo os do governo anterior, foi necessário e que o que está a ser feito pelo governo actual se inscreve numa linha de continuidade. Portanto, a maior parte das pessoas tem consciência de que não havia qualquer "alternativa" à política que foi seguida e que no essencial continua a ser seguida. É verdade que há uma maioria das pessoas que hoje considera que o PS deve continuar a governar.
Mas esta maioria não é sequer esmagadora, é muito ligeira (quase metade dos sondados ou é contra o governo da geringonça ou não tem uma posição definida) e não é sequer homogénea, sendo constituida por diferentes minorias partidárias, muito distintas e que só estão basicamente de acordo em impedir a direita de governar.
Como várias vezes tenho aqui escrito, no PSD, para além de Passos Coelho só há Rui Rio com credibilidade nacional . E é isso que conta. São as sondagens que determinarão quem avançará. Claro que há Maria Luís Albuquerque, Santana Lopes, Luís Montenegro e outros mas que de uma forma ou outra estão ainda vergados a um passado recente . Rui Rio reservou-se e isso vê-se nas sondagens.
Depois, formatar um candidato a nível nacional não é fácil e dá-lo a conhecer ainda menos. Pelo meio temos as autárquicas que também vão deixar rasto em alguns desses nomes. Só Rui Rio se pode apresentar acima desses combates autárquicos .
A execução do orçamento em 2017 vai ser muito difícil e vai desgastar o governo bem como a oposição. Rui Rio também pode evitar esse desgaste e apresentar-se como alguém que tem uma alternativa. Falam por ele os dez anos de Presidente da Câmara do Porto de onde saiu em alta.
Por muito que se goste de Passos Coelho e do seu tremendo esforço como primeiro ministro a verdade é que em política não há gratidão.
A questão não é se deve avançar contra Passos Coelho por este estar com sondagens "poucochinho . A questão é se pode ganhar, se é quem melhor chega à maioria dos portugueses e se tem credibilidade. E não se duvide, são essas as características que serão determinantes na escolha do candidato.
Passos Coelho continua num combate desgastante depois de uma governação muito difícil . Mostra a resiliência de sempre e que se trata de um maratonista político , corajoso e conhecido no país e na Europa. Será sempre um adversário temível mas serão as sondagens a determinar quem avançará.
Por outro lado não vejo quem no PSD tenha ou venha a ter no curto prazo a popularidade e a credibilidade de Passos e Rio . Claro que as autárquicas também serão um teste importante, não só para Passos Coelho mas também para quem se apresente a votos. Se alguém em Lisboa tiver uma boa votação dá um passo importante junto do resto do país.
E Santana Lopes deixa a Santa Casa para se candidatar à câmara de Lisboa ? Pode baralhar as contas mas só avança com a garantia que terá fortes hipóteses. Tudo aponta para que o Congresso do PSD marcado para 2018 seja antecipado mas sempre para depois das autárquicas. Passos Coelho não deixará de tomar essa decisão
Um dia vi na RTP o José Rodrigues dos Santos, capacete militar na cabeça( para dar a ideia que estava na frente de batalha) a cobrir a Guerra do Golf . Para minha surpresa já tinha lido em jornais ingleses o que ele anunciava como notícia umas horas depois.
A partir daí comecei a fazer a diferença entre o jornalismo sério que verifica as fontes e o jornalismo parasita. A minha vida profissional permitiu-me, mais tarde, perceber que grande parte do jornalismo não é mais que trabalho de secretária e de espera das tais fontes próximas ou anónimas raramente sujeitas ao contraditório.
Os grandes eventos que podem mudar a evolução do mundo raramente são percepcionadas pelos jornalistas e comentadores que se limitam a seguir a opinião mais elitista e prevalecente."
"A imprensa está do lado das classes dominantes, preferindo olhar arrogantemente para os sinais de preocupação das pessoas comuns como atavismos reaccionários a tentar compreender o mundo à sua volta."
"Temos uma jornalista no Público a propor esquemas estranhos para financiar os jornais que garantam que pode escrever livremente sem ter de ter leitores, temos directores de jornais que se apresentam como generais prussianos de políticos populistas e continuam a dirigir jornais, jornalistas que mantêm a sua posição e influência mesmo depois de até eles reconhecerem ter sido embarretados por aldrabões de feira, apenas porque a vontade de ouvir o que queriam foi mais forte que a necessidade de cumprir procedimentos básicos de verificação dos factos."
É verdade que os raros jornalistas ( com quem contactei) que verificavam os factos ainda hoje são jornalistas .
O PS sobe bem como o BE. PCP está cool, enquanto o PSD e CDS fazem a travessia do deserto. É assim em democracia. Quando e se as sondagens derem vantagem absoluta teremos eleições. É melhor do que estar a sofrer as chantagens da CGTP.
As sondagens estão a orientar-se para um cenário que o PCP habitualmente tão cuidadoso não previu. Ajudar à sua própria exclusão. Isto terá consequências políticas profundas. Porque a tendência que se desenha é que PS+BE façam maioria à esquerda e PSD+CDS façam maioria à direita. Isto é, o país voltaria às maiorias absolutas à esquerda e à direita com um PCP reduzido à sua vertente sindical.
Não podemos esquecer que o PCP é o único partido comunista marxista-Leninistas que na Europa mantém uma influência política que os partidos irmãos há muito perderam . A tendência seria a perda de influência até à sua extinção. O PCP vai reagir não é da sua natureza deixar-se imolar.
António Costa não hesitará em deixar cair o PCP em eleições legislativas juntando-se ao BE se a maioria absoluta estiver ao seu alcance