Fazer recair a austeridade sobre o sector privado é profundamente injusto. Não só porque o sector público já goza de privilégios que o sector privado não tem, mas também, porque a austeridade distribuída por um número menor de pessoas é maior.
O economista João César das Neves lamentou que nesta fase se estejam a discutir aumentos salariais para 2021. “ Acho que não é altura para falar nisso. É uma tolice. Claro que está tudo a colocar-se, isso já são jogadas, mas que não mostram grande elevação de valores. No meio desta confusão, estarmos a falar disso não me parece nada razoável. Mas isso só mostra o poder que esses grupos têm. Esse é o drama que nos deu cabo do Orçamento durante décadas e que é estrutural na economia. Essas entidades têm o poder e a arrogância do poder, o que é extraordinário. O país está com uma epidemia, as pessoas estão a morrer e há uns senhores preocupados com o seu bolsinho no próximo ano. É incrível”.
Lembre-se que este ano já houve aumentos salariais para os funcionários públicos.
Há uma enorme injustiça entre as consequências desta pandemia nos trabalhadores do sector privado e os funcionários públicos.
O lay-off, as reduções de salários, o desemprego, as falências, os aumentos do endividamento são exclusivos daqueles que dependem do sector privado. Os funcionários públicos nada sofrem financeiramente com o confinamento, apesar de muitos nem sequer estarem em teletrabalho. Mesmo assim, apesar da crise, o Governo manteve os aumentos salariais e os sindicatos já estão a falar da necessidade de novos aumentos.
Para o setor privado, independentemente dos discursos políticos, a austeridade já começou e vai agravar-se.
Pouco se tem falado dos milhares empresários que têm vivido tempos de enorme dificuldade e em muitos casos dramáticos, em especial os das pequenas e médias empresas, que de um dia para o outro, sem qualquer responsabilidade, viram desmoronar os seus negócios, sendo incapazes de cumprir as suas obrigações perante trabalhadores, fornecedores e credores.
Há quem não perceba esta coisa fundamental. Sem um sector privado suficientemente forte para suportar o sector público resta recorrer à dívida e ou pedinchar subsídios. A UE em subsídios faz entrar em Portugal até 2020, 16 milhões de euros por dia.
"O peso do sector público em Portugal está a matar lentamente o peso do sector privado".
E isso "vê-se nos impostos, não vale a pena fugir a isso. Aqui [na Colômbia] é ao contrário, vê-se o Estado muito mais a acreditar no sector privado, a acreditar que o sector é o motor da grande economia. E em Portugal o sentimento não é esse", acrescentou.
Isso é "prejudicial para quem acredita que o investimento pode ter o seu retorno e pode ao mesmo tempo criar uma coisa diferente", afirmou o gestor.
"É visível na carga de impostos que as pessoas têm, que as empresas sentem", apontou Pedro Soares dos Santos, que defendeu que "o sector privado tem de ser sempre superior ao sector público para poder, com os seus impostos, suportar o sector público"
Nos países onde o estado abafa o sector privado só há miséria como se vê em todos os países ditos socialistas. Não há um único caso feliz.
A explicação dada pelos utentes é a agitação permanente nos hospitais públicos onde, segundo a capa do DN, faltam todos os meses 14% dos profissionais. Os mesmos que fazem greve por falta de profissionais. É, claro, que se percebe bem porque há partidos e corporações que se batem pelo monopólio público, quer seja na saúde ou na educação. Com concorrência e direito de escolha por parte das famílias vingam os melhores e isso não interessa. É o maior perigo para o corporativismo.
Ainda hoje a greve dos enfermeiros no Algarve circunscreveu-se aos hospitais e centros de saúde públicos. O sector privado esteve a trabalhar em pleno. Um utente que hoje, ansioso, bateu com a cara nas portas fechadas de um hospital público e se socorreu de um hospital privado, para socorrer um filho, nunca mais esquecerá. Não quero nem nunca quis que o estado se retire dos sectores de actividade mais importantes, mas nunca como "player" único. O monopólio é tão mau no sector privado como no público.
Há que fazer a convergência entre os dois sectores, nos vários aspectos. "reduzir-se no lado da despesa é, por exemplo, “mexer no quadro do funcionalismo público, quer em termos de efectivos, quer em termos de eficácia, e com convergências com o sector privado”.
“É evidente que isso fará perder alguns direitos para o sector público, mas a verdade é que o sector privado também tem vindo a perder, desde logo na criação de desemprego elevado, muitas empresas foram forçadas a fazer reestruturações várias (...) e em todas as questões que a lei laboral acabou por introduzir”.