Numa entrevista, ontem à noite na SIC Notícias, Fernando Medina manifestou-se contra a taxa Robles. O autarca afirmou que “penalizar a rotação no mercado imobiliário não aumenta o número de casas”, acrescentando que a prioridade imediata deve ser aumentar o número de casas disponível” para as famílias de classe média.
O Jornal de Negócios foi ver o que se passa noutros países e conclui que a Taxa de Rio existe em seis países europeus. São casos em que a detenção de um imóvel durante um determinado número de anos é compensada com um imposto mais baixo ou mesmo com uma isenção no momento da venda.
Mas há um elefante na sala e tudo indica que os dirigentes do Bloco de Esquerda decidiram lidar com ele da pior forma possível. O caso Robles foi uma faca espetada no coração do Bloco de Esquerda e é muito bem possível que daqui a um ano, quando estiverem a votar para as legislativas, os eleitores recordem com nitidez o caso do partido que tinha um dirigente que actuava na sua vida privada de forma contrária aos valores que defendia publicamente. Ora, ao que parece, o Bloco decidiu copiar neste caso os partidos tradicionais, de que o caso Sócrates dentro do PS, quase até ao fim, foi um exemplo. Quando Francisco Louçã avisa que o Bloco está a ser, e ainda vai ser, alvo de uma “campanha suja”, está a reagir como se as notícias que deram conta de que o ex-vereador do BE detém um prédio numa zona propensa à especulação imobiliária, que comprou por pouco e pôs à venda por muito (ainda que a venda não tenha sido concretizada), fossem falsas.
“Acho que sobre a hipocrisia e sobre o cinismo estamos conversados”, afirmou ainda.
Sobre os outros apartamentos que Ricardo Robles tem em Lisboa, como avança o SOL na edição deste fim de semana, Catarina Martins garante que tal é “mentira” e que o vereador não é proprietário.
O SOL consultou a declaração de Robles ao TC, e sabe que o vereador do BE tem, além do prédio em Alfama, vários imóveis para arrendamento.
Os dirigentes do BE, profundamente intolerantes e antidemocráticos, começam a não conseguir mascarar a sua incoerência. Espero que o bom senso do povo português se manifeste nas urnas. Este tipo de gente, Francisco Louçã, Catarina Martins, as irmãs Mortágua e os Robles que por lá pululam, são autênticos vendedores da banha da cobra: prometem o que não tem e exigem o que não fazem!
A riqueza não é indecente. A pobreza é que o é! O camarada Robles está a aprender isso. Longe vão os tempos em que se orgulhava das ocupações, das nacionalizações e das cooperativas de habitação. E aprendeu a especular em três tempos. Primeiro, adquiriu propriedade pública ao preço da uva mijona. Segundo, conseguiu financiamento no banco do Estado praticamente sem meios para o efeito. Finalmente, apenas pelo infortúnio de trabalhar onde trabalha, obteve permissão para obras em tempo recorde.
Por cá os marxistas querem acabar com os ricos nos países capitalistas querem acabar com os pobres. O Robles já aprendeu .
O Jornal Económico não faz jornalismo sensacionalista nem “justiceiro”. Acreditamos que o jornalismo faz-se respeitando os princípios éticos da profissão, confirmando todos os factos, procurando ouvir as partes atendíveis e fazendo o contraditório. O nosso objetivo não é julgar quem quer que seja na praça pública, mas apenas fornecer aos cidadãos, da forma mais isenta, rigorosa e completa possível, as informações de que necessitam para formarem a sua própria opinião. Foi o que procuramos fazer também neste caso.
O nosso trabalho está à vista para quem o quiser avaliar. Ao longo dos últimos dois anos, investigamos casos que envolvem figuras de todos os quadrantes partidários e ideológicos, bem como do mundo dos negócios e das empresas. Estamos tranquilos, porque no JE procuramos viver de acordo com os princípios que apregoamos.
Morrer do próprio veneno : Voltamos a velha discussão, não é por ser de esquerda que Robles tem menos direitos. O problema está na arrogância moral de quem acha que pode impor um modelo de sociedade aos outros e depois faz o contrário como se nada fosse. Isto não é só incoerência, é pior.
Este caso reflete bem a atuação do Bloco, a forma simplista e altamente ideológica como trata muitas destas questões essenciais, minando as discussões. Como se só houvesse preto e branco. Os bons e os maus. Os puros e o lixo. Ricardo Robles é o ricochete dessa política.
Aqui ao lado em Espanha, Pablo Iglésias também provou do seu próprio veneno quando comprou uma casa de 600 mil euros, quando antes tinha arrasado o ministro espanhol Luis de Guindos por ter comprado uma moradia de igual valor. Ou na intervencionada Grécia quando o ministro das finanças Varoufakis se deixou fotografar pela Paris Match num repasto luxuoso quando o país vivia (e ainda vive) dias de miséria. O mundo da hipocrisia é de facto muito pequeno. Só me espanta que ainda haja quem não o tenha percebido.
O bloquista Robles pode dizer o que quiser mas um negócio de 4 milhões não se faz sem ser bem pensado. Tem que ser planeado, organizado, dirigido e controlado.
É preciso procurar o prédio que encerra a oportunidade do negócio, a seguir é preciso organizar o processo que envolve as condições de compra e apresentá-las aos vendedores e a quem lá vive. Depois é preciso apresentar às entidades convenientes o que se pretende construir dentro das condições legais impostas para o lugar e a seguir é preciso controlar prazos e orçamentos.
Nada disto é possível fazer por razões familiares ou outras mais boazinhas, que não seja a obtenção de mais valias. O resto é conversa de bloquista para Lisboeta ver.
Além disso as verbas envolvidas estão bem acima dos montantes habituais de quem procura um arredondamento para o seu ordenado mínimo ou falta de emprego. O vereador Robles fez o negócio com a conciência de que ganharia muito dinheiro.
Bem pode o BE andar a enganar o povo com a conversa moralista da justiça e da igualdade.