Já lá vão mais de 12 horas de reunião e não há fumo branco. É claro que dali não sai decisão nenhuma que ponha fim à questão essencial. O sindicato não pode apropriar-se da gestão do Porto de Lisboa. Não há governo nenhum que deixe isso acontecer . O Porto de Lisboa já perdeu 50% da sua actividade devido às greves . Então discute-se o quê ?
Desbloquear a progressão nas carreiras, nem pensar. Aumentar salários, o sindicato acha pouco. Arranjar uma qualquer vantagem ao nível da Segurança Social ( menos anos de trabalho, carreira de desgaste rápido) seria uma porta aberta para vários sectores e lá se ia a sustentabilidade já tão tremida. E nacionalizar o Porto de Lisboa como quer o sindicato nem pensar.
Então o governo para manter o limite de António Costa ( dia de hoje) lança mão da requisição civil ? É o mais certo mas isso tem como consequência o despedimento colectivo e a manutenção da situação que tanto enerva o sindicato dos estivadores.
E o PC e o BE reagirão como ? Não querendo ser apontados como os responsáveis pela queda do governo vão engolir o sapo e a seguir vão querer ser compensados nas 35 horas, já !
E aí entramos na área de Mário Centeno e na despesa pública, desequilibram-se as contas já tão apertadinhas e Bruxelas não vai gostar, lado para onde BE e PCP dormem melhor.
As reuniões entre o PS e o PCP estão a correr sobre rodas. Estão como começaram . Na estaca zero. De nada.
O camarada Jerónimo para acalmar os estalinistas lá do Partido ( com letra grande ) afadiga-se em explicar que não há acordo nenhum, nem há orçamento nenhum, o que há, na melhor das hipóteses é ajuizar caso a caso. Num caso sim no outro não o que é, convenhamos, uma plataforma estável e séria para governar.
O BE, pela voz da Mariana Mortágua também já tirou o cavalinho da chuva. As reuniões servem para chegar a um orçamento que possa passar mas não há acordo nenhum estável e muito menos para quatro anos de governo.
E nada mais do que isso, fica implícito. Para o PCP, a opção parece ser a de negociar com o Governo PS a cada etapa da legislatura, como já tinham dito Jorge Cordeiro e Ilda Figueiredo esta semana. No Avante, a mensagem é sublinhada: “Sejam, porém, quais forem as circunstâncias e a evolução da situação, os portugueses podem ter como garantido que os votos do PCP contribuirão sempre para todas as medidas que forem úteis para os trabalhadores, o povo e o País e opor-se-ão a tudo o que signifique mais exploração, empobrecimento, injustiças sociais e declínio nacional”.
Tudo o que PCP sempre disse. Não mudou um milimetro .Pobre Costa.
Pois é, a comunicação social toca trombetas sempre que o PS faz de conta que negoceia com a Coligação mas, em relação às reuniões técnicas com o PCP nem palavra . Correu mal, foi ? É só para confirmar o que era mais que previsível . Com o PCP para o melhor e para o pior é o que se sabe. Ou é como o PCP diz ou então o PS passa rapidamente a ser de direita. Como, aliás, na opinião dos estalinistas do PCP sempre foi.
O PCP nunca quis coligar-se ou de algum modo juntar-se ao PS . Seria o fim do partido, o fim dos amanhãs que cantam, apoiar medidas no sistema capitalista que tanto odeiam. E António Costa julga-se mesmo capaz de torcer o PCP ao ponto destes aceitarem o Tratado Orçamental ? A União Europeia e o Euro podem ficar para mais tarde, mas o Tratado Orçamental ? O défice abaixo dos 3%, a dívida que não é para pagar , o investimento privado no lugar das grandes obras públicas, a regulação da banca em vez da sua nacionalização ?
O certo é que poucos deram atenção a algo talvez agora mais decisivo: o impasse ou falta de qualquer conclusão na reunião técnica entre o PS e o PCP .
António Costa é um "morto-vivo". De morto na noite das eleições a enterrado com as gloriosas reuniões com o PCP . Construtivas e nada radicais. Para já conseguiu uma "frente de esquerda que acabou antes de começar" com a indicação do PCP para seu candidato presidencial de Edgar Silva.
E as condições nada radicais do PCP que o PS aceita sem problema são um mundo de esperança. Algumas delas não precisam do acordo dos comunistas e as que precisam nunca terão o acordo dos portugueses e das entidades da UE. Segue a lista e proponho ao leitor que descubra quais são umas e outras : ( não esquecer que é preciso manter o défice em 3% )
Valorização dos salários, nomeadamente o aumento do salário mínimo para 600 euros no início de 2016;
Combate à precariedade – alteração à legislação laboral
Reforço da contratação colectiva
Reposição dos salários, pensões e feriados e outros direitos cortados nomeadamente os complementos de reforma;
Política fiscal justa;
Eliminação das taxas moderadoras
Reposição do transporte de doentes não urgentes
Reversão dos processos de concessão, sub-concessão e privatização das empresas de transporte;
Revogação da alteração à lei da interrupção voluntária da gravidez;
Retomar o controlo público de empresas estratégicas
Renegociação da dívida»
Só não aceita quem está de má fé . António Costa e principalmente o PS estão prontos a aceitar o caderno de encargos. Não se nota ?
O PS aceitou o convite para reunir que lhe foi dirigido pelo PSD e CDS para tratar do IRS e da Energia Verde. Tal como já aconteceu com o IRC. À medida que a situação evolui e as medidas se tornam inevitáveis, os partidos que podem exercer o poder, iniciam a aproximação. Até porque por essa Europa fora há cada vez mais partidos e movimentos a pressionar.
Estes três anos mostraram muita coisa e, a mais importante, é que chegou a hora do investimento e do crescimento da economia. Depois do trabalho de casa que não dá largas à imaginação e a alternativas consistentes. Aliás, não apareceu nenhuma . Voltar para a situação em que o país esteve durante 900 anos e com moeda própria com os resultados conhecidos não é alternativa .
O BCE prepara-se para avançar com mais medidas para o crescimento. A Comissão Europeia já anunciou uma injecção de 300 mil milhões de Euros de investimento. A própria Alemanha assustada com a situação em casa vai relançar a economia com 10 mil milhões de Euros para estimular a procura interna o que é "música celestial" para as exportações dos países em dificuldades.
Ninguém pode perder o comboio que se está a formar. O PS já percebeu depois de andar todo este tempo a dar ares de indignação. E, paralelamente, inicia o movimento de afastamento em relação às viúvas socráticas com quem ninguém quer falar. Lá mais para diante haverá um movimento igual em relação a Passos Coelho. E o comportamento da economia e, muito principalmente, o comportamento do emprego vai determinar o resultado das eleições.
Passos fala com Seguro que a seguir fala com a Troika. No essencial - defender a permanência no Euro e na União Europeia - PS e governo estão de acordo. Depois há desacordo sobre os caminhos a seguir. Mas o que tem que ser tem muita força e vão resultar consensos destas conversas. Em privado há margem para negociar, estamos muito perto de aceder aos mercados e por aí há poupanças que vão reduzir os cortes em áreas que são caras ao PS.
O PS tem pouca margem para recuar mas o governo tem que ter flexibilidade para acomodar as principais exigências do maior partido da oposição.
Na próxima 5ª f há uma reunião em Bruxelas que vai jogar com o nosso futuro. Se correr bem, os juros baixam e os prazos de pagamento da dívida aumentam.
"No seu habitual comentário de domingo na TVI, o professor de Direito considerou que o Governo tem pela frente duas etapas. A primeira é até à reunião da próxima quinta-feira com o Eurogrupo, em que Portugal e a Irlanda vão pedir um alargamento dos prazos para pagar os empréstimos. A segunda etapa começa a seguir e terá dois cenários possíveis: “Se correr bem, o que é o mais provável, não há aumento de impostos e vai haver redução de despesa”, afirma Rebelo de Sousa. Neste caso, terá de haver um “consenso nacional”, com um reforço do papel do Presidente da República e a criação de “pontes” com o PS."
Se correr mal vamos ter um segundo resgate que será muito doloroso.