O repouso do guerreiro
Os ventos não estavam de feição bem ao contrário dos que sopram actualmente. Houve erros de navegação mas não erros de orientação . A direcção estava traçada e foi conseguida.
Entregou o barco em muito melhores condições do que aquelas em que o recebeu não obstante terem ficado muitas manobras por fazer.
Mas enquanto Portas dançava por entre os pingos da chuva, e Costa afiava as facas, Passos Coelho, sem alarido nem vedetismo, lá ia mantendo a linha de rumo. Uma linha de rumo que, apreciando-se mais ou menos, haveria de permitir uma saída tão limpa quanto possível do programa de resgate. É certo que houve erros de política, que prejudicaram a acção do Governo. E que também houve a política do BCE, que ao invés ajudou o Governo. Mas no essencial a linha de rumo foi de encontro ao objectivo traçado: o défice externo (e principal causador da intervenção externa) foi eliminado, o défice público passou de 10% para menos de metade (excluindo efeitos extraordinários), e a economia voltou a crescer a partir do final de 2013 (tendência que se manteria até aos dias de hoje).
É claro que vários problemas ficaram por resolver. A reforma do Estado, por exemplo, ficou por fazer. Contudo, nem o país estava preparado para a fazer nem o então vice-primeiro ministro, que dela fugiu como o diabo da cruz, a queria fazer. Ao mesmo tempo, o buraco na banca também ficou por resolver, ainda que neste domínio Passos Coelho tivesse sempre delegado na independência dos reguladores a resolução dos males bancários. Desafortunadamente, os reguladores, eles próprios perdidos no seu labirinto burocrático, falharam tanto ou mais que o Governo.