A geração jovem no RU votou a favor da permanência na UE. Vai voltar .
"A minha mãe era alemã. O meu pai era britânico. Eram crianças durante a guerra, conheceram-se em Malta e casaram. É este o sonho europeu. De paz e segurança na Europa e as famílias a unir-se. O meu filho tem 18 anos e ele sempre foi europeu. Então, estamos absolutamente arrasados", confessou numa conversa com o DN, em Bruxelas.
Mas a antiga eurodeputada trabalhista eleita no País de Gales faz também uma análise racional sobre o significado do Brexit. "Para o País de Gales, estamos a sair da maior zona de livre comércio do mundo. Não faz sentido economicamente", afirma, lembrando que "o País de Gales é um beneficiário líquido da UE", e por isso, "não faz sentido" saírem, pois vão "perder muito".
"No País de Gales, na Escócia e na Irlanda do Norte, existem movimentos separatistas", diz ela, que vem de uma região do país em que esses movimentos existem, mas "não tanto como em outras partes do Reino Unido, especialmente na Escócia".
Outra das consequências do Brexit é o crescente número de associações locais de matriz pró-europeia. E, a partir deste sábado, "dia 1 de fevereiro, vão transformar-se em grupos a favor da readesão e poderão progredir, confiantes como grupo para readmissão [na União Europeia], principalmente para a geração mais jovem".
O Reino Unido tem mostrado como sair da União Europeia é uma decisão perigosa e difícil de por em prática. Há três anos que o Brexit se prepara para entrar "em coma" e ficar a marinhar até encontrar condições para o RU se manter na UE.
O mercado de 500 milhões de consumidores vizinho não é substituível por mercados a milhares de quilómetros de distância. As empresas há muito que sabem isso e a população jovem também só os grisalhos e os políticos ( embora sabendo) têm dificuldade em recuar.
O argumento é forte, trata-se de cumprir o resultado do referendo o que na mais antiga democracia do mundo conta muito. Mas virá o dia em que as condições para reverter o "coma" levarão a novo referendo.
Mesmo com os seus 80 milhões de pessoas o RU é um mercado pequeno entre os gigantes como a China (1,4 mil milhões) Índia ( 1 bilião), UE (500 milhões), USA ( 200 milhões), Mercosul ( 400 milhões).
Estamos perante uma enorme lição para todos os europeus e para todos os povos que mais tarde ou mais cedo enfrentarão o mesmo problema. Unirem-se com os vizinhos regionais.
E não é só na economia. No ambiente, na defesa, na saúde, só grandes espaços criarão condições para o combate ser frutuoso.
O partido do Brexit obteve 30% dos votos. É legítimo dizer-se que o partido do remain é apoiado pelos 70% que não votaram Brexit ?
Não há dúvida que os que votaram pela saída da UE estão empenhados e convencidos que é o melhor para o seu país. Qualquer pessoa que partilhe dessa convicção não deixaria de votar. Não se trata de ideologia ( pelo menos para a grande maioria) trata-se de uma vontade clara movida por uma forte convicção. Serão poucos os que deixaram escapar esta oportunidade de defender algo tão concreto.
Os 70% que não votaram pela saída têm entre si quem é convictamente contra o Brexit, quem é convictamente a favor do Remain e quem não tem opinião. Não se pode falar numa vitória do partido de Farage e ainda menos de uma vitória do Brexit.
O que se espera agora é que os partidos que apoiam a permanência coloquem como discussão nuclear nas próximas eleições legislativas a permanência do Reino Unido na União Europeia. É que se há uma ilação a tirar dos resultados da eleição de ontem é a que os partidos que defendem os valores da UE saíram fortemente reforçados.
A Escócia quer ser independente e aproveita a saída do Reino Unido da União Europeia para reforçar o seu desejo de permanência, pelo caminho quer um referendo sobre a independência.
É bom não esquecer que a votação para o Brexit na Escócia foi o Remain que ganhou .
“Não tenham dúvidas. Foram os que se opõem à independência, os que estão à direita do Partido Conservador, que causaram a insegurança e a incerteza” em relação à saída do Reino Unido. “Cabe-nos agora a nós, defensores da independência [da Escócia], oferecer soluções melhores para os problemas que eles criaram”, disse a líder escocesa. Primeiro, Surgeon disse que iria tentar “trabalhar com outros partidos para tentar salvar o Reino Unido como um todo do destino de um hard Brexit”.
Mas, temendo que isso não aconteça, prometeu: “vamos propor novos poderes para manter a Escócia no mercado único mesmo se o Reino Unido sair.” E “se o Governo conservador rejeitar estes esforços, se insistir em levar a Escócia por um caminho que prejudica a nossa economia, que faz baixar os nossos padrões de vida, que causa danos à nossa reputação como um país aberto, acolhedor, diverso – então não há dúvidas, a Escócia tem de ter a possibilidade de escolher um futuro melhor”, disse.
O "remain" ganhou por muitos na Escócia e em Londres. A Escócia agita a bandeira independentista e prepara referendo. Londres e a sua city têm na sua relação à Europa uma fatia importante dos seus negócios. Já há empresas que falam em deslocar trabalhadores para Frankfurt.
A primeira ministra escocesa já se reuniu com o Mayor de Londres porque têm interesses em comum e não podem nem devem deixar de tirar partido da vitória do "remain" nos seus territórios. O mayor de Londres já veio dizer que o Brexit não terá consequências nas empresas e nos trabalhadores da city.
Perante tudo isto, é particularmente significativo que Nicola Sturgeon e Sadiq Khan tenham falado hoje, algo que poucos analistas têm mencionado, mas que é muito, mas muito importante. Sturgeon disse “que existe claramente uma causa comum” entre a Escócia e Londres. Entretanto, já começou nas redes sociais a campanha #Scotlond, onde precisamente se apela à permanência conjunta da Escócia e de Londres na União Europeia.
Como é que este problema vai ser solucionado é uma das incógnitas mais cegas resultantes da opção legítima dos ingleses.
Ou seja, aqueles que serão mais afetados pelos efeitos e implicações do Brexit, não o querem – aliás, dada a complexidade e os prazos do processo, é fácil perceber que muitos dos que o decidiram poderão já nem assistir à sua conclusão.
Os números do pró-europeísmo nos restantes países mostram tendências semelhantes. É encorajador que tantos de nós, que só assistimos às imagens da queda do Muro em diferido, tenhamos esta intuição, este sentimento claro de que, juntos, percorreremos melhor o caminho da História nas próximas largas décadas. Mais do que encorajador, é reconfortante, quando os gritos dos populismos suscitam ecos do pré, e não do pós, II Guerra.
Pensando bem, não surpreende quando, noutros países, além de Millennials* somos também a geração Erasmus que nunca viu fronteiras; a geração euro que não se lembra do escudo, do franco ou do marco
Farage o líder do partido independente e ferozmente anti-europa já admitiu a derrota. Foi uma óptima campanha mas perdemos, diz o politico. 52% para o " remain" 48% para o "leave". Votaram 83% dos inscritos o que é um valor muito alto para um referendo. É bom que seja assim, o último referendo sobre a UE foi há 40 anos, com esta percentagem de votantes decorrerão mais 40 anos para que a questão seja novamente colocada.
Este resultado fortalece a União Europeia, e terá importantes efeitos na opinião pública dos 28 paísesos que a compõem. Não será de ânimo leve que os anti-europa iniciem campanhas que sabem à partida perdidas. Nenhum país tem tão fortes argumentos para questionar a permanência na Europa, incluindo a sua situação geográfica.
Será agora bom que os líderes europeus regressem aos princípios democráticos e de solidariedade que cimentaram a UE. Não que os tenham abandonado mas hoje já é visível que há muita coisa que tem que mudar.