O dever fiduciário que o Estado, e através dele o Governo, tem para com os contribuintes e cidadãos é defender o bem comum. O que este Governo tem feito, de braço dado com o Bloco de Esquerda e o PCP, é distribuir benefícios por aqueles que maior capacidade reivindicativa têm. Uma capacidade que é tanto maior quanto maior o incómodo ou o sofrimento que a paralisação desse grupo pode infligir.
O critério não é o da gestão racional e o resultado é um enorme paradoxo. O Governo das forças que mais se dizem defensoras da diminuição das desigualdades é o mesmo que as alimenta cedendo às reivindicações de apenas alguns. Não uns alguns quaisquer. Aqueles que contam para os votos e que podem, gerando perturbação social, retirá-los ao Governo.
“Depois de prometer meio mundo e o outro aos servidores do Estado, escancararam-se as portas a todas as reivindicações e todas as reivindicações tiveram direito a promessas que destruíram o balanço da orientação política até aqui mantida por António Costa e Mário Centeno”, analisa Manuel Carvalho, no Público, num texto intitulado “O governo a escangalhar-se”.
Custa a acreditar que se esqueça tão depressa o que aconteceu em 2010 e se volte a repetir com naturalidade os vícios que custaram despedimentos, quebras e cortes de salários, impostos agravados e o vexame internacional.
Quem viveu acima das suas possibilidades foi o Estado não foram as pessoas . De tal maneira que apesar de estarmos bem melhor do que quando as progressões foram interrompidas ainda não é possível repô-las.
Sentença de Marcelo e de António Costa . A página da austeridade não foi virada nem o será tão cedo .
O anterior ministro da saúde tem vindo a ser vítima de um ataque infame diário e sem direito a ser ouvido. Ao contrário, médicos e enfermeiros justificam-se, sem pinga de pecado, com o pagamento das horas extraordinárias. Como se a greve ou a tomada de posições extremas que levam à morte pudessem ser justificação .
Como se não houvessem soluções intermédias. Como se na equação o mais fácil seja que morram os doentes. Como se o resultado possível da discórdia não obrigasse a encontrar uma solução. Para mais quando havendo mais que um centro com as qualificações necessárias, a solução podia ser encontrada repartindo e menorizando os prejuízos entre eles.
Mas não, chegamos a um tempo em que os que têm emprego fixo e remunerado se consideram no direito de exigir mais. E, a razão apresentada, é sempre defender os mais fracos. Os que morrem nos hospitais por falta de assistência tal como nos transportes os utentes que não têm alternativa e ficam em terra apesar de terem bilhete pago.Os mesmos que acusam as farmacêuticas por exigirem preços insuportáveis nos medicamentos que salvam vidas
Não é ser de esquerda ou ser de direita. É ser insensível, é utilizar a força dos fortes contra os mais fracos. Como se houvesse justificação seja ela qual for.
É uma catadupa de avisos, reivindicações, ameaças e de afirmações de independência o que vimos nestes primeiros dias de governo.
Jerónimo de Sousa não se poupa e, repetidamente, reclama que o governo é do PS, não é governo de coligação, abrindo caminho às ameaças da CGTP. O menu de reivindicações já anda por aí a fazer o seu caminho a par de ameaças de controlo sindical. Arménio Carlos promente não esquecer as promessas dos três partidos da solução governativa .
Para Arménio é como o PCP não tenha subscrito acordo nenhum e para Jerónimo é como nada tenha a ver com a CGTP nem com o governo. O melhor de dois mundos. Basta a palavra de um comunista .
Para que tudo isto dê certo, António Costa, obviamente, quis que o seu primeiro encontro fosse em Bruxelas com os parceiros da UE. Tudo isto é coerente e consistente. O melhor mesmo é dormir descansados . Temos um governo de esquerda a velar por nós.