Há quem não perceba o que é fácil de perceber no processo Sócrates. Outros não querem perceber por razões partidárias.
Não há a mais pequena dúvida - até pelas explicações que o próprio deu - que José Sócrates vai ser acusado de fuga ao fisco e de branqueamento de capitais. Há provas mais do que suficientes como se percebe pelo que vem a público. A questão que está em jogo é provar a corrupção, muito mais difícil de provar e é essa prova que num caso desta dimensão exige trabalho e tempo. Muito tempo.
Claro que o tempo, demasiado tempo, é a bóia de salvação a que se agarram Sócrates e os seus advogados, porque sabem que esse argumento toca na sensibilidade dos cidadãos. Todos nós achamos que a Justiça para ser justa tem que ser rápida. Mas pode ser rápida quando o processo se desenrola por vários países e exige a análise de milhares de documentos ?
A opção que, em dada altura, dividiu os responsáveis pela investigação era entre deixar cair a acusação de corrupção e avançar, somente, com a acusação de fuga ao fisco e branqueamento de capitais. Se assim tivesse sido feito há muito que a acusação teria sido formada mas restava uma pergunta : teria sido feita justiça ?
Devem os investigadores largar um processo em que estão convictos que há crime e onde há provas e índicios fortes? É claro que há mais processos desta envergadura que vão demorar muito tempo. Que bom seria pagar uma pequena multa e ficar tudo limpinho, limpinho.
Nestas coisas há o percurso político e jurídico e há o processo administrativo, como seja afastar os euro-deputados do Reino Unido das tarefas habituais.
Alguns deles aceitarão o desconforto como inevitável e outros farão pressão sobre o governo do seu país para apressar o processo político e jurídico para a saída oficial . A UE não vai estar à espera dos prazos de saída que convêm aos ingleses. O vazio seria rapidamente ocupado pelos populistas para propor referendos e colocar outros pedregulhos no andar da carruagem europeia.
E a UE já tomou a iniciativa. Só não precisa de ser ao pontapé.
O que ainda não se percebeu é porquê agora. Mas que Fernanda se viu na necessidade de se afastar do processo é evidente. Aproveitou para atacar a imprensa sensacionalista no que tem muita razão mas não é suficiente para explicar agora esta prova de vida. A paixão cega é bem verdade.
Quem não perdoa é Manuela Moura Guedes : Mas não, Fernanda é simplesmente igual ao português comum que reelegeu Sócrates em 2009 enquanto se caminhava alegremente para a bancarrota ,o português que aplaude quando ele vai ao Marão ou a Paredes de Coura dar lições de sapiência sobre o País que ele afundou. A única diferença, e é circunstancial, é que a incauta Simplesmente Fernanda precisa neste momento de limpar o nome, a imagem e não direi a alma porque essa estava cega, surda e muda. Agora finalmente falou e falou alto para dizer que abandonou o barco”, afirma Manuela Moura Guedes.
No tempo do Dr. Pinto Monteiro, quem tinha processos mediáticos, como regra, acabava com um processo disciplinar”, afirma. “Com este tipo de atitude não havia grande incentivo para investigar pessoas poderosas”.
António Ventinhas respondia à questão da jornalista sobre se um procurador era alvo de pressão. À primeira António Ventinhas não foi direto ao assunto, mas a jornalista insistiu. E o procurador disparou:
Suscitava-se uma grande polémica à volta daqueles colegas que estavam a investigar processos sensíveis e, muitas das vezes, os colegas acabavam com processos de averiguações ou processos disciplinares. É claro que, com este tipo de atitude, não havia grande incentivo para investigar pessoas poderosas, porque determinadas atuações podiam acabar em prejuízo para a carreira”, disse o dirigente sindical.
Só em democracia é que um processo Gold é possível investigar. Atinge áreas sensíveis do Estado e mostra que bem pior do que o que está à vista são os subterrâneos esconsos, onde se albergam poderes não eleitos e dificilmente escrutináveis. Poderes que foram ignorados e que fizeram saltar para a comunicação social crimes de quebras do segredo de Justiça, nunca punidos "... "o ruído, as palavras fora do processo, especialmente as cirúrgicas e as distorcidas, não atraem a defesa". "Além de ser ilegal e repugnante, pode servir apetites, agendas ou interesses, mas não serve nem os interesses do Direito nem os da Justiça".
Antero Luís, igualmente ex-diretor do Serviço de Informações de Segurança (SIS) foi também um dos convidados num jantar em casa de Maria Antónia Anes, no início do verão, onde estavam outros altos dirigentes do Estado. Como foi noticiado esta refeição foi organizada pela, na altura, secretária-geral do ministério da Justiça, reunindo várias figuras de relevo, dirigentes das secretas e da Justiça.
Com esta notícia está montado o lamaçal onde cresce a suspeita do crime organizado e da associação criminosa. Sem direito a contraditório. Depois disto a punição pode ser mais ou menos rigorosa mas a verdade que se quis passar já não é lavável. É uma nódoa, que vai levar a uma operação de alto a baixo, com as consequentes substituições e mudança de interpretes que é para já o que se pretende.
Queriam ouvir o ministro Nuno Crato porque pela primeira vez um processo envolvendo um ministro chega ao fim. Queriam saber como foi possível tal resultado. O que é que falhou desta vez?
Os deputados do PS, do PCP e do BE estão amedrontados. É que se há muitas como esta ainda se vão saber verdades inconfessáveis. Trata-se de um precedente perigoso.