Estações destruídas, composições vandalizadas, material obsoleto, cancelamento de ligações, horários deslocados, atrasos terceiro-mundistas, degradação e incúria. Como foi possível chegar-se aqui? É que os constrangimentos financeiros não explicam tudo. Houve má gestão na planificação de recursos, na programação de actividades operacionais e na condução de empreitadas. Sendo o Estado o detentor da quase-totalidade dos meios de rede e operação, é a ele que devem ser assacadas responsabilidades.
Os principais agentes do sistema de valor ferroviário são a Infraestruturas de Portugal (IP), a CP e a EMEF (a que se juntaria a Sorefame, barbaramente assassinada em 2003), mas o primeiro responsável, o que superintende as diferentes administrações e, sobretudo, gere os recursos disponíveis é o Governo. Quando se afirma que o sector deve manter-se nas mãos do Estado e se refutam modelos de concessionamento a privados, tem de se demonstrar no terreno que o serviço público é capaz.
E havia um amigo de António Costa, amigo desde o tempo da faculdade, que tratou do negócio da TAP. Um tal Lacerda que não sendo nada no governo tratava (trata?) de alguns negócios mais difíceis.
Com esta operação política e financeira, David Neeleman, Humberto Pedrosa e os chineses da HNA que entraram no consórcio privado ganharam um daqueles negócios que todos gostariam de ter. Se a recuperação da TAP correr bem, na linha do que foi definido pelo novo CEO, ficam com os lucros. E só nessas circunstâncias o Estado poderá ganhar com a operação. Se a recuperação da TAP correr mal, será o Estado, leia-se os contribuintes, a assumir todos os prejuízos e os privados regressam aos seus negócios sem perda.
Não foi António Costa que disse que viu uma vaca a voar ?
Teixeira dos Santos anuncia as seguintes privatizações: O Governo conta arrecadar 6 mil milhões de euros com as privatizações previstas no PEC, contando com essas receitas para "curvar" o crescimento da dívida pública, que deverá superar os 90% em 2012. O Estado detém posições de 20% na Energias de Portugal (EDP) - mais cinco por cento detidos pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) - 49% da Rede Eléctrica Nacional (REN), e sete por cento na petrolífera Galp Energia - mais um por cento detidos pela CGD. Já a companhia aérea TAP e os Correios de Portugal (CTT) são detidos a 100% pelo Estado, tal como a área seguradora da CGD.
Para memória passada, presente e futura :
O Governo está a estudar a venda de participações na TAP, CTT, EDP, Galp, REN e seguradoras da CGD, contando arrecadar €6 mil milhões com as privatizações.
O Presidente da Caixa Geral de Depósitos exigiu que o banco público seja igual a qualquer banco privado. Já foram preenchidas algumas das exigências. Administradores privados e sem estatuto público; recapitalização da CGD com dinheiro privado; remuneração dos accionistas segundo as regras do mercado ; e siga o link que ainda faltam nove razões exigidas por António Domingos.
O primeiro-ministro diz que a CGD tem de ser pública, 100% pública, mas os objetivos traçados para o banco público e acordados com a nova administração gritam outra coisa. Se o governo e a nova administração da CGD têm estes entendimentos, a conclusão óbvia é a de que a privatização é a peça que falta, e coerente, para completar o puzzle. A privatização acabava com uma série de contradições nos termos. Além disso, evitava que fossem os contribuintes a pôr o dinheiro sem direito ao exercício de controlo que cabe a qualquer acionista numa empresa privada.
António Costa é muito homem. A TAP será pública a bem ou a mal, disse com aquela cara de quem mente como quem respira. A seguir faz um negócio com os privados que ninguém entende.
Compra 50% aos privados e dá-lhes a gestão corrente enquanto a gestão estratégica é da administração onde colocou seis dos seus amigos mais próximos. Estamos perante um " case study" que abrirá novos caminhos na gestão das organizações.
Quanto à divida da companhia e a não ser que também aqui tenha inovado o estado "adquiriu" 50% e ainda tem que meter mais para compensar o já metido pelos privados. O senhor Neelman que nunca quis 100% da companhia ( recuperava-a e a seguir vendia em bolsa 40% ou coisa parecida) o que quer é o negócio do transporte aéreo ( ainda não se faz o negócio sem aviões) encontrou um parceiro que só quer um "nome", uma "bandeira" e um "hub" e que lhe paga metade dos aviões. Um negócio das arábias ...
O PS quer explicações e o movimento " não TAPem os olhos" acordou agora da sua vitória exigindo ser ouvido urgentemente pelo governo. Cheira-lhes que Costa os enganou com a verdade.
A TAP continua nossa mas foi privatizada. O Rui Moreira ontem ainda não tinha percebido.
Com acordo ou sem acordo a TAP volta para o estado diz António Costa. E depois para fundamentar o murro na mesa diz umas mentirolas que estão aqui muito bem explicadas .
O contrato foi negociado e assinado muito antes da queda do governo. O que foi assinado a 12 de Novembro foi o acordo com os bancos. O Estado vendeu a TAP a 25 de Junho sujeito a condições suspensivas. A saber: a autorização da Concorrência; o refinanciamento e autorização da autoridade aeronáutica. Dado que todas as condições foram preenchidas, o Estado estava obrigado a cumprir o compromisso de venda de 25 de Junho e assim as acções foram transmitidas para o consórcio e este entrou com o dinheiro na TAP. Ponto final.
Quanto às garantias do estado à banca há muito que estavam prestadas já que era accionista único. A banca preferiu manter as garantias do estado não as trocando com os novos donos . Mas como é óbvio os primeiros devedores são os novos accionistas da companhia .
Salvar a TAP? Não isso não interessa nada. O que interessa é que a TAP seja pública para que os sindicatos da empresa sejam fortes e sejam o braço de força da esquerda. A esquerda se quiser paralisa o país com as greves das empresas de transportes, e é por isso que há anos elas estão no Estado e há anos que são autênticas sanguessugas de dinheiro público.
Só uma letra separa as duas palavras mas sem uma não há a outra. A verdade é que a TAP tinha como accionista o Estado, não qualquer governo . O concurso público, a proposta, as negociações e a adjudicação foram executadas por um governo em funções plenas. A assinatura é apenas uma operação que é necessária nos tempos em que vivemos já que não basta um aperto de mão. Ou a palavra de um comunista .
Como os contraentes têm mesmo que assinar ( para memória futura ) o que já haviam contratado, fizeram-no hoje como podia ter sido há dois ou três dias se o problema fosse o agora levantado.
Basta pensar com alguma cautela. Quanto gastaram em tempo e dinheiro os compradores ? E já depois de adjudicado o contrato quanto custaram os preparativos para daqui a cinco dias injectarem 150 milhões na companhia? Há compromissos decorrentes de todo o processo negociado com o governo em plenas funções que custaram muito tempo e muito dinheiro. Vai tudo borda fora ?
O PCP e o BE vão fazer o seu papel - Indignados . O PS vai armar aos cucos e no fim temos um par de gambozinos.
Já a reversão do negócio, defendida pelo PCP, Bloco de Esquerda e Os Verdes, está fora de questão para os socialistas diz uma fonte do Largo do Rato.
Um hipotético governo PS apoiado pelo PCP e pelo BE teria uma carga de trabalhos se a TAP não tivesse sido privatizada. Por um lado teria os seus apoiantes comunistas a pressioná-lo para suspender a venda e por outro teria Bruxelas e a falta de dinheiro para devolver aos compradores.
Entretanto, a TAP na situação financeira pré-falência em que se encontra não pode esperar. Não há dinheiro para os salários e para os combustíveis. Falta de pagamento de salários é sinónimo de greves, falta de combustível é sinal de aviões em terra. Um caos a que o governo ainda mal refeito da golpada eleitoral não seria capaz de deitar mão. A não ser que fizesse como aquela sua deputada ex-secretária de estado dos transportes que, não percebendo a diferença entre um órgão legislativo a que ela pertence e um órgão executivo - a empresa pública Parpública - escrevesse uma carta à CGD ordenando que injectasse uns milhões na companhia aérea ( não percebendo que não resolvia nada ).
Assim, vamos ter a indignação do PCP e do BE enquanto o PS vai dizendo que sim mas também. Custa muito dinheiro a reversão da privatização, não há dinheiro. E os comunistas apoiantes vão fazendo de conta que não percebem que o PS vai fazendo ouvidos de mercador. A guerra só chegará quando o governo cair até lá vamos ter este jogo de sombras.
Se não fosse o governo cair até os comíamos, carago ! ( diz o Arménio fuzilando Jerónimo com o olhar )
Só haverá reversão das privatizações se não derem lugar ao aumento de custos para o estado. O que, obviamente, não é possível. Há custos associados aos concursos que têm que ser ressarcidos. E há lugar a indemnizações por incumprimentos de contratos. E há lugar à devolução de pagamentos já efectuados ao estado como no caso da TAP.
Esta é a posição do PS, com custos acrescidos não há reversão das meninas dos olhos da CGTP. Vamos assistir às primeiras escaramuças violentas com o estalinista Arménio Carlos.
O PS entende que os acordos nestas áreas têm de ser geridos segundo o princípio de que mudanças no que está feito não tragam custos adicionais para o Estado. O partido parece deixar em aberto a possibilidade de votar contra propostas de reversão que, na sua perspectiva, não sejam compensadoras para o Estado. O PCP já apresentou na Assembleia da República uma proposta para reverter as subconcessões dos transportes de Lisboa e Porto, bem como as privatizações da CP Carga e a fusão da Refer com a Estradas de Portugal.
Sempre que conhecemos mais pormenores dos acordos ficamos a perceber porque são secretos e foram assinados envergonhadamente.
Não são os clientes das empresas públicas que estão contra as privatizações . São os seus funcionários e fornecedores que muito podem ganhar com o facto da empresa ser pública :
" Por outro lado, o serviço público é frequentemente capturado por certos interesses particulares que beneficiam muito à sombra do Estado.
Eis o busílis! Não são os utentes que protestam contra a privatização, mas os funcionários e fornecedores da empresa vendida, dizendo agir em nome do público. Fazem-no porque essa alienação manifesta e compromete as benesses, regalias e negócios que os participantes nas empresas públicas, dizendo-se servidores do Estado, conseguiam extrair, à sombra dos impostos e protecção legal. É daqui que nasce a fúria antiprivatização.
O que gera outra conclusão. Na oposição militante à venda de empresas públicas mal geridas, os movimentos de esquerda manifestam estar dominados, não pelos interesses da população, e ainda menos dos proletários, mas pelas conveniências de um funcionalismo burguês, fingindo-se revolucionário."
Entre dois wiskies e um arrôto faço uma greve contra a privatização da minha empresa que me paga tão bem e sem chatices de maior.