Marcelo não é perfeito mas é um bom Presidente da República e vai ganhar as eleições presidenciais. Que a direita não perceba isto é estúpido e que deixe que António Costa o roube para o PS é cavalar.
Coisa, aliás, reveladora. É que esse apoio mostra uma admissão de incapacidade do PS em encontrar um candidato minimamente capaz de concorrer contra o atual Presidente da República, que assim se sujeita a apoiar um homem claramente de centro-direita. Mas, claro, há uma fação na direita que manda a inteligência de férias de cada vez que algum socialista fala.
O centro-direita tem um dos seus na Presidência da República, tem poucas hipóteses de ir para o governo no curto prazo e tem as principais instituições ocupadas por socialistas, mas anda metido em conspirações a ver se arranja um candidato para enfraquecer Marcelo Rebelo de Sousa. Se isto não é a coisa mais estúpida que se pode fazer, anda lá muito perto.
Um Presidente enfraquecido e um Governo, até pelas circunstâncias atuais, forte desequilibram completamente o poder político. Isso, sim, abriria as portas aos extremos; isso, sim, deixaria o PS com o centro político todo para si; isso, sim, daria aos socialistas décadas de poder.
Marcelo Rebelo de Sousa deve ser candidato e ganhar as próximas eleições em primeiro lugar porque tem sido um excelente Presidente da República. Mas também convém não se esquecer que a recuperação do centro-direita depende em larga medida dele. Quem na sua zona ideológica não o apoiar está a contribuir para a irrelevância desse espaço no futuro próximo.
António Costa tem candidato presidencial mas o PS ainda não tem.E é por o PS correr o risco de se dividir entre mais que um candidato que levou Costa a fazer a tão inesperada declaração na AutoEuropa. Lançar o candidato natural do centro-direita como se fosse o candidato natural do centro esquerda.
Há uma ala do PS que se revê em Ana Gomes e que pode contar numa segunda volta com os votos de uma parte do PS, do Bloco de Esquerda e do PCP.
Manter Marcelo como candidato do centro direita tem a enorme vantagem de bloquear André Ventura na extrema direita não o deixando crescer.
O que importa mesmo é a direita não ir na canção de António Costa que com esta jogada tenta passar o problema de falta de candidato natural da esquerda para a direita.
Se a direita não for na jogada ( há muita gente com vontade) o duelo vai ser entre Marcelo e Ana Gomes e é muito natural que Marcelo ganhe. Ora com o actual presidente em segundo mandato, António Costa vai ter a vida complicada. Não só pelos problemas da crise mas também porque Marcelo vai insistir que o governo enfrente os problemas sérios que Costa não quer enfrentar.
Crescimento do PIB, reduzir a dívida e baixar impostos. Sem isso o país não sai da cauda da Europa mesmo com a ajuda europeia que está a caminho.
A verdade é que os candidatos do PS de primeira escolha foram António Guterres e António Vitorino. Não aceitaram serem candidatos a presidente da república. Só na sua ausência é que avançaram Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém.
É difícil perceber que dois políticos com a carreira de Guterres e Vitorino não olhem para a presidência da República como um final feliz. Outras razões haverá.
Percebe-se que Sampaio da Nóvoa apareceu para dar a cobertura necessária à formula de governo de António Costa. Com PCP e BE. E essa intenção foi tão evidente que Maria de Belém apareceu do nada para ser a representante do PS que se opõe à coligação à esquerda .
Só quem não quer perceber é que não vê que há uma bomba relógio dentro do PS que pode implodir o partido a qualquer momento. O PCP mostra-o todos os dias ao país pela boca de Jerónimo Sousa. E agora avança a CGTP com uma greve nacional reivindicando para já a reposição das 35 horas. A pressão sobre o PS será em crescendo. Veja-se o que se passou na Educação em que pela primeira vez em décadas o Nogueira da Frenprof elogia o ministro. Literalmente o beijo de Judas.
Não podem pois, os candidatos da área do PS, olhar para os outros candidatos como subalternos nesta disputa. Se há candidatos de segunda são eles mesmos. Não passam de instrumentos necessários na guerra surda que se trava dentro do PS.
Usar a Presidência da República para resolver os problemas internos do PS é o limite abaixo do qual a política partidária perde o pouco que lhe resta de legitimidade . Já que em termos de dignidade os candidatos não se mostraram nem pouco mais ou menos, apoucados.
Mas que interessa a opinião do povo ? Mal informado, levado pela conversa dominical, ninguém conhece verdadeiramente Marcelo. Sabemos que anda na política há 40 anos e nunca teve a mais ligeira suspeita contra si. Em Portugal não é coisa pouca.
Claro que face às sondagens o ruido subirá de nível. Mal andará Marcelo se cair na armadilha. Deixa-os a falar sozinhos, não vai dar-lhes a notoriedade que não têm. Refiro-me aos outros candidatos está bem de ver.
Vasco Lourenço diz o que o candidato Sampaio da Nóvoa não pode dizer. Um trabalho de sapa fundamental para abrir caminho . E Jerónimo de Sousa vai fazer o mesmo, chamando-lhe "fiteiro". O objectivo é o mesmo. Os nossos candidatos são brancos como a neve. O habitual, desde o livro de Cunhal " A superioridade moral dos comunistas". A tese é fraquita mas seguiu caminho . Como "nós" queremos o "bem" para todos somos moralmente superiores. O problema é que a realidade está longe.
Em Portugal ser social democrata é ser um perigoso reaccionário. Tenho um amigo comunista que me conhece desde criança que foi perguntar a um camarada psicólogo a que se devia o meu desvio, tendo sido eu uma criança "pé descalço".
E não percebendo que o erro é deles e que 80% das pessoas não podem estar enganadas - pensam segundo a vida que têm - tratam de encontrar razões para a realidade que não está conforme aos seus axiomas ideológicos.
Registo de interesses . Sou amigo de Vasco Lourenço, andei a estudar com ele e com os irmãos, tenho por ele uma grande amizade e uma dívida que não conseguirei pagar
Marcelo ganha à primeira volta com enorme vantagem (57%) em relação a Sampaio da Nóvoa (15%) ou Maria de Belém (14%) e até vai buscar votos ao PCP e ao BE .
Só tem que fazer de morto, sem cartazes e sem manifestações, participando só nos eventos televisivos onde é muito difícil batê-lo. Não se envolver nas questões politicas que há muito dão cabo do juízo ao povo que está farto. Pode ser uma passeata em passadeira vermelha. Claro que as culpas vão inteirinhas para o PS e António Costa que se apressaram a conceder o seu apoio a Sampaio da Nóvoa e a seguir levaram com a candidatura de Maria de Belém. Resultado, PS dividido ao meio.
O acordo para governo do PS com BE e PCP é um nado morto. Mesmo que o governo tome posse será um governo sem credibilidade e prejudicial ao país. As reacções por essa Europa fora não deixam dúvidas. E as taxas de juro que se afastam cada vez mais das espanholas também não.
Com uma mexida cirúrgica na Constituição é possível marcar eleições antecipadas para o mesmo dia das eleições presidenciais. De onde sairá uma maioria absoluta, ou para a coligação de esquerda ou para a coligação de direita. Com credibilidade e legitimidade . Ganha o país. E um governo de iniciativa presidencial durante três meses que aprovaria o orçamento seria visto como credível e respeitado.
Se o problema é esse até poderia ser liderado por António Costa . E aproveitava-se para reduzir os prazos neste processo sem fim das eleições e da tomada de posse de governo e da Assembleia da República.
O "abraço de urso" do PC e do BE ao PS toma forma deixando o PS sozinho no governo. Na primeira oportunidade voltam "as amanhãs que cantam ". Nesse aspecto eles não enganam ninguém a não ser quem queira ser enganado.