Andamos a pagar as propinas a grunhos, a merdas que não merecem andar numa universidade. E temos universidades que formam estas bestas e têm medo de os expulsar porque receiam perder receitas. Menos alunos menos dinheiro do estado. Uma vergonha !
Esta gente que frequenta as Universidades pode ser a geração mais preparada de sempre mas é também a mais perigosa e a mais cretina. Converte a brincadeira sadia em morte. Nas suas actividades há sempre confronto, hierarquia, vencidos e vencedores. Ou já é tarde e não têm cura ou então são uns rapazolas sem auto estima e sem maturidade. Uns garotos que navegam entre a bebedeira alcoólica e a bebedeira da vaidade, do traje, da academia .Deu-lhes para se matarem uns aos outros. Um dia destes começam a matar quem tiver a ousadia de os confrontar. Andamos a gastar dinheiro com atrasados mentais que não conseguem antecipar os problemas. Meninos que precisam da segurança de um jardim escola mas que reivindicam autonomia e se consideram lídimos representantes da academia. Com esta Educação vamos longe. "Aconteceu no contexto de uma praxe mas não teve nada a ver com a praxe " diz quem viu. Aonde é que nós já ouvimos isto, tendo como fundo o barulho das ondas?
Com o decorrer do tempo o que se passou na praia do Meco vai tomando forma. A autópsia do cadáver que estava em condições de ser autopsiado revelou a presença de álcool e de drogas. É difícil perceber que um grupo de sete jovens às duas da manhã se deixe apanhar, ao mesmo tempo, por uma onda se a sua percepção da distância e do perigo não estiverem alterados .É esse o resultado mais comum do excesso de álcool e drogas. O cansaço e a falta de luz fizeram o resto.
As praxes e o seu cortejo de imbecilidades e humilhações não se explicam só por razões de necessidade de afirmação e de autoridade. A violência tem razões bem definidas e o caso das praxes não foge à regra. Como fazer rituais num cemitério de madrugada outra das informações que vieram agora a lume. E também com alunos da Lusófona.
O mistério e a tentativa de apagar o caso, mesmo em relação a coisas tão óbvias, mostram bem que naquela universidade ( outras haverá) a praxe passou muito além de uma brincadeira e de uma tradição para se tornar algo de secreto e de perigoso. O que faz do caso um assunto de polícia.
"Temos o direito de ser humilhados!" Têm o direito e gostam que é o que mais preocupa. A vida é injusta. Estes meninos deviam sofrer na pele o que a juventude das gerações da guerra colonial sofreram.O argumento mais utilizado para justificar as humilhações e a violência era que quando fossemos para o teatro de guerra íamos preparados. Revoltei-me, quando era difícil . Cinco dias impedido de sair do quartel, fins de semana cortados, mas sentia que aquele argumento não era despiciendo e isso acalmava-me. Ou antes, travava a minha fúria perante a prepotência.
Uma coisa sempre verifiquei. Os comandos capazes, homens de carácter, eram gente que não praticavam violência gratuita. Mas aqueles que toda a vida tinham servido, garantiam bem o adágio : não servias a quem serviu !
A praxe assenta numa hierarquia de veterania e na prepotência. Quanto mais matrículas se tem mais importância na escala. O que implica que são sempre os mais velhos a impor-se e a coagir os mais novos. Bastaria, para cortar esta dependência escabrosa, que não fosse aceite mais que duas matriculas. Na pública e na privada. Os pais pagam? Sim, mas os filhos estão a tirar o lugar a outros e, pior, usam a burrice para humilhar colegas.
Os argumentos usados no programa Prós e Contras pelos que defendem a praxe são de uma grande pobreza. A praxe vai acabar mais tarde ou mais cedo. Mas é preciso acelerar o processo. Dentro das instalações da universidade os órgãos directivos têm que exercer a sua autoridade, punindo até à expulsão se for caso disso. Fora das instalações é necessário accionar o previsto na lei. Quem atenta contra os direitos dos outros, física ou psicologicamente , deve ser chamado a responder judicialmente.
Mesmo com o consentimento da vítima é crime o exercício da violência. Um exemplo ou dois de aplicação de sansões tirava o gás todo a estes prepotentes ridículos e ajudava os mais novos a perceber o que é auto estima e dignidade. O programa mostrou que a praxe não é senão uma actividade que existe porque as autoridades académicas e judiciais são cúmplices pela inacção.
Em certos meios nunca ninguém sabe nada. E, mesmo depois de se saber, faz-se tudo para não se saber. Assobiar para o ar é que é mesmo a nossa praia. Ouvi hoje o testemunho de uma mãe acerca da morte de um filho, também em ambiente universitário que esclarece tudo se fosse esse o interesse das autoridades. Se não fosse a persistência das mães das vítimas já tínhamos engolido a versão oficial. Foi um acidente, o praxador ser o sobrevivente é obra do acaso.
Houve uma nítida tentativa de branquear a tragédia do Meco. Pelo silêncio das autoridades, da universidade e do próprio sobrevivente. Só a vontade das famílias enlutadas não permitiu que se calasse o que deve ser do conhecimento de todos. Para que não se repita. Para que se saiba o monstro ritual que está por trás destas pretensas praxes.
Hoje o CM diz, em título, que o sobrevivente nunca esteve em perigo ao contrário do que veio a público. Ontem Marcelo Rebelo de Sousa, na TVI, sublinhou que as práticas usadas nas praxes são ilícitas, mesmo com o consentimento dos próprios. O ambiente que se cria pressiona as vítimas a consentirem práticas que não são próprias de um ambiente saudável.
O Secretário de Estado da Juventude e Desporto veio hoje também dizer que a praxe não consente o atropelo à dignidade e à integridade do praxado. Conheceram-se documentos que revelam chantagem como ameaçar os alunos que se não aderirem podem perder o curso. E, revelam, uma organização de tipo mafioso, secreto, com utilização de pseudónimos o que indica, que os seus autores têm consciência do ilicito que cometem.
Tudo isto é do âmbito policial porque há quem ande a incumprir a lei.
José Pacheco Pereira - Público : Ao institucionalizar a obediência aos mais absurdos comandos, a humilhação dos caloiros perante os veteranos, a promessa era a do exercício futuro do mesmo poder de vexame, mostrando como o único conteúdo da praxe é o da ordem e do respeito pela ordem, assente na hierarquia do ano do curso. Mas quem respeita uma hierarquia ao ponto da abjecção está a fazer o tirocínio para respeitar todas as hierarquias. Se fores obediente e lamberes o chão, podes vir a mandar, quando for a tua vez, e, nessa altura, podes escolher um chão ainda mais sujo, do alto da tua colher de pau. És humilhado, mas depois vingas-te.
O professor chamou a atenção de um grupo de jovens trajados que a praxe que estavam a fazer era abusiva e não tinha graça nenhuma. De imediato passou ele a ser o praxado. Enquanto não houver por parte das universidades um castigo exemplar, como seja pôr na rua estes meninos que faltam ao respeito a um professor, esta praga ( e não praxe) vai tomar contornos ainda mais sinistros.
Pessoas os viram a rastejar ligados entre si e com pedras atadas aos pés. Quem é apanhado, nestas condições, por uma onda não tem como fugir. Isto explica a morte simultânea dos seis jovens e a sobrevivência de quem mandava e que, por isso, não fazia parte do grupo?
Que há sempre uns frustrados prepotentes que abusam se estiverem em condições para tal é mais que conhecido, mas que dizer dos que gostam de ser humilhados? Que dizer de jovens que alimentam rituais humilhantes só para se sentirem aceites ? O que leva estes jovens a trocarem um fim de semana de namoro por um fim de semana em que se submetem a humilhações dolorosas? Não há aqui uma componente doentia que é necessário tratar?
Aquilo já estava a ser demais. Duas miúdas já tinham as meias rotas. Era uma humilhação e um vizinho foi lá ter com eles. Disse que também tinha sido estudante e sugeriu-lhes que se divertissem de outra maneira.” Responderam-lhe: "Isto é uma praxe. Uma experiência de vida. Não se meta."
Uma praxe nunca é uma lição de vida. Pode ser uma brincadeira inocente mas há quem a transforme num ritual de humilhação e morte.