Plano Marshal ou outro nome mas a oportunidade pode ser a última. O populismo espreita e o futuro da União Europeia pode estar em jogo.
Se Portugal quiser - e a Europa deixar -, esta pode ser uma oportunidade - mais uma - para construirmos o nosso próprio Plano Marshall e para sairmos desta letargia em que nos arrastamos há demasiados anos. Para pensarmos e reestruturarmos uma economia menos dependente de serviços, mais produtiva, mais inovadora, em que as empresas não estejam condenadas a ser micro, pequenas ou médias, mas possam ambicionar ser grandes. Uma economia capaz de gerar riqueza suficiente para pagar salários dignos do século e do mundo em que vivemos.
Mas isto exige três coisas: visão, compromisso e tempo. Porque sem a visão certa não é possível construir uma economia robusta. Sem um compromisso político que não se esgote no próximo ato eleitoral não é apenas a economia que morre, é também a democracia. E sem o tempo suficiente para implementar um plano de médio a longo prazo, nunca poderemos ambicionar mais do que a mediocridade de uma economia de sol e praia.
Recebi finalmente no dia 29 de Setembro o e-mail a confirmar para daí a 4 dias, segunda-feira, a minha reserva para duas pessoas no areal da Figueira da Foz (Praia da Claridade, sector KHR, fila 13, coluna 44).
Conseguimos apanhar um “slot” horário jeitoso, das 11:35 às 11:50, e ainda por cima com vista para o mar, olhando por cima da cerca de acrílico, é certo, mas não se pode ter tudo.
Como a reserva para o restaurante (avisadamente, comprei um pack em finais de Maio, mal saíra mas regras da DGS) estava marcada para as 14:05, teríamos ali duas horas para preencher, que nos autorizaram a passar confortavelmente dentro dos nossos carros, sem máscara com janela fechada, ou com máscara se aberta.
Mas, como não conseguimos manter a distância de dois metros dentro do carro entre mim e a minha namorada, que não reside comigo, cada um levou a sua viatura. O meu lugar para estacionamento, respeitando a regra de segurança lugar sim lugar não, ficava apenas a 500 metros da praia e o da Martinha (assim se chama a minha namorada) a 200.
Como se pode ver, tudo previsto e excelentemente organizado, ou não fossemos nós considerados pela imprensa europeia como um exemplo de cidadania balnear, e pelo presidente da república como os melhores do mundo.
Com grande excitação, logo pela manhã daquele dia limpo e completo telefonei para a Martinha, não se fosse ela esquecer da cópia autenticada do e-mail, atestado de negatividade Covid-19,álcool-gel, máscaras, toalha de praia descartável, luvas e botas de protecção.
Chegámos à Figueira da Foz quase à mesma hora, e assim que arrumamos os carros foi só esperar que o segurança nos desse autorização para sair. Corremos um para o outro até ficarmos a uns sensuais 2 metros de segurança e piscarmos o olho numa ousada manifestação de paixão. Assim que sentimos o drone a sobrevoar as nossas cabeças foi só acompanhá-lo até aos nossos lugares com separação controlada por webcam.
Cerca das 11:40 ouvimos pela instalação sonora a tão ansiada mensagem: “cidadãos com o código de sector KHR, fila 13, coluna 44, podem dirigir-se ao mar, à vossa esquerda, tendo permissão para entrar na água até à cintura, mantendo a etiqueta respiratória e distância de segurança. Dispõem de 7 minutos!”
Ainda hoje nos é difícil esquecer aqueles momentos felizes de liberdade. Só mesmo o almoço, passadas duas horas, se pode comparar em emoção.
Como não residimos juntos, tivemos que ficar em mesas separadas, por acaso em salas diferentes, mas os telemóveis e o Skype resolveram tudo a contento, e pudemos saborear umas deliciosas courgettes com cenouras caramelizadas, sem glúten, de produção biológica da horta do restaurante. Divinal! Espero que não contem a ninguém, mas ainda nos conseguimos cruzar a caminho do WC e tocar de raspão nas mãos. Às 16 horas já estávamos de regresso a casa.
Quase à saída da Figueira passámos por um grupo de 500 pessoas que dançavam ao som de uma banda a tocar musica popular portuguesa. Estupidamente, ainda perguntei a um policia se era algum festival, ao que ele me respondeu: “acha? Não sabe que isso é proibido? Não percebe que é uma actividade política?”
Esclarecido e amansado, lá rumei à minha casa e a Martinha à dela. Enfim, um dia memorável.
Os alunos que não têm aulas enchem as praias fugindo inteligentemente ao vírus. Os que não trabalham açambarcam os produtos nos centros comerciais na expectativa de serem infectados.
Há relatos de pancadaria por causa do papel higiénico. Somos danados para a brincadeira. Afinal de contas quem é que tem medo de um vírus ?
Nos hospitais públicos saca-se material o que é habitual mesmo sem vírus. Nos hospitais privados não se rouba material porque há uma coisa que se chama Gestão de Stocks. Há responsáveis.
Entretanto o governo diz que entramos na fase da "mitigação" o que quer dizer que entramos na fase vermelha. Boas notícias, portanto.
Uma boa notícia é que a recolha de sangue para análises pode vir a ser feita no domicilio e em casos mais ligeiros promover-se a "domiciliação hospitalar".
Entretanto a verdadeira preocupação é ver se chineses, espanhóis e italianos são mesmo capazes de cercar o animal. Por cá o animal não tem por onde fugir. Nem que nos mate a todos.
Parece que agora estão na moda os Burkini . As muçulmanas vão para a praia com o corpo coberto de roupa. Medo de apanhar cancro da pele ? É uma boa razão mas, então, se o problema é esse o melhor é ficar em casa à sombra.
Tem havido rixas entre muçulmanos e não muçulmanos mas a verdade é que o BURKINI é uma peça de roupa desenhada pelas grandes empresas de moda europeias. Se as deixam vender como proibir de as usar ?
A questão é mais vasta e tem que ver com o modelo de vida religioso que está em oposição à laicidade do estado. Na praia tudo começou porque os não muçulmanos fotografaram as mulheres cobertas pelos Burkini. Ora, cada um de nós tem o direito de não se deixar fotografar . E, em cadeia lá vamos nós proibindo, negando direitos, quando andamos os últimos 50 anos a lutar por eles.
Até há quem ache que se devem tirar os crucifixos das salas de aulas por atentado à liberdade religiosa e, ao mesmo tempo, defender o véu islâmico.
Temos mesmo que escolher entre o "fio dental" e o burkini ?