Sócrates não quer ser remetido ao silêncio, isso seria deixar de estar no centro da política. Aliás, Sócrates é o primeiro a dizer que o seu caso é político. E Mário Soares diz o mesmo, até quer amarrar Cavaco Silva.
Mas António Costa diz o contrário. "Deixemos a Justiça funcionar".
Qualquer uma destas hipóteses passa em primeiro lugar pelo PS. Aliás, já há algumas semanas que Sócrates centra toda a sua pressão sobre o PS. A recente ‘entrevista que não é uma entrevista’, tal como as cartas da prisão, não passam de peças desse medir de forças entre Sócrates e a liderança socialista.
Mário Soares vai ao ponto de ameaçar o Presidente da Republica. Daqui a uns meses Cavaco pode estar na mesma situação de Sócrates. Ora para Mário Soares admitir que Cavaco poder estar na mesma situação, isto é, preso, é necessário que Mário Soares saiba alguma coisa que escapa a todos os outros . Ou então admitir que a Justiça pode prender alguém, incluindo ex- Primeiros Ministros e ex-Presidentes da República sem qualquer razão ou indicio.
Não fosse estarmos perante um ancião, cuja lucidez empalideceu há muito e teríamos fortes razões para estarmos preocupados. É que andamos todos aqui convencidos que vivemos em Democracia, com separação de poderes, e que não é por o Presidente da República estar protegido pela função que não está preso é por não haver nenhuma das razões previstas na Lei.
Passos Coelho "nesta altura" não fala no processo Sócrates. É a fase da Justiça. Depois virá, com mais ou menos força, a fase política.
Se, como disse hoje Marcelo Rebelo de Sousa, Sócrates vier a ser acusado, o PS de António Costa terá uma tremenda dor de cabeça embora com intensidades diversas . Se for acusado de fuga ao Fisco é uma coisa. Branqueamento de capitais é outra coisa mas mais grave. Corrupção é o fim de António Costa e de todos os sócristas.
Como diria aquele deputado do PS em relação aos "Vistos Gold", a corrupção terá sido "mesmo debaixo do nariz" de todo o governo . E se Miguel Macedo por tão pouco pediu a demissão que fará o número dois do governo cujo primeiro ministro foi corrompido?
O PSD tem sido o pilar da estabilidade governativa avança também Passos Coelho. Em Outubro de 2015 a situação do país ditará o resultado das eleições. A uma situação de pré-bancarrota será oposta uma situação de estabilidade . E não é preciso "ler os meus lábios" para se perceber que "é a economia, estúpido".
Com a economia a crescer, o desemprego a descer e com o PS virado do avesso, o casmurro Passos Coelho ainda vai ter razão.
E, há, mais quem esteja de acordo. Julgar os políticos que nos trouxeram à bancarrota :
Não me escandaliza que alguém classifique de vergonhosas as desculpas de Rui Machete a Angola. Faz-me certa impressão que esse alguém seja José Sócrates, também conhecido por "o Engenheiro". Desde logo, porque nenhum outro governante em democracia abusou tanto da representatividade para subjugar o país a regimes pouco recomendáveis, desde a tenda de Kadhafi às sucessivas vénias a Hugo Chávez. Mas sobretudo porque se trata do "eng." Sócrates, cujo currículo geral devia isentá-lo de classificar o que quer que fosse. Vergonhosa de facto é a presença semanal da criatura na RTP, que passou há muito o estatuto de anedota e começa a incorrer no de ofensa.
A menos que se ache natural colocar o incendiário do Caramulo a comentar incêndios em horário nobre, ou contratar Otelo a fim de dissertar sobre geo-estratégia, o programinha do "eng." Sócrates é dos principais sintomas do enlouquecimento acelerado da nossa vida pública. Não falo da radical ironia que consiste em obrigar o contribuinte a patrocinar (incluindo, parece, os custos em protecção policial) o homem que, acima de todos, ajudou a desgraçá-los. Ainda que o "eng." Sócrates pagasse do seu bolso o tempo de antena de que dispõe, o absurdo permaneceria.
Atribuídas a políticos e a funcionários e a gente que anda sempre a gritar contra as injustiças e a redução do estado social. Vivem muito melhor que a maioria mas habitam residências com rendas simbólicas. É por isso que já há por aí uma onda de indignação contra a lei que estabelece a publicação dos beneficiários.
A estes casos 'normais' juntaram-se esta semana notícias de vários funcionários, jornalistas e autarcas que receberam - sem explicação - casas camarárias. O 'Lisboagate' está a ser investigado por suspeita de favorecimentos ilícitos e chegou mesmo à actual vereadora da Habitação, Ana Sara Brito, que apesar de ser enfermeira de profissão, viveu 20 anos numa casa da CML, no centro de Lisboa, com uma renda de menos de 150 euros.