Carlos Amaral Dias . Eu fui sempre anti-PCP. E nunca fui também leninista. Tinha uma relação grande com a obra de Marx. Mas sempre desconfiei de tudo que eram o PC ou aquilo que estava, na altura, à esquerda do PCP. Era uma posição de recusa completa em nome, mais uma vez, da minha posição anti-autoritária. Nunca deixou de ser uma posição contra o Salazar e depois contra o Marcelo Caetano.
Por várias razões: porque acho que não tenho que me meter na vida de ninguém. Eu, como qualquer liberal, só me interessa a vida dos outros se interferir na minha vida. Esta é a primeira coisa. Por exemplo, não sou a favor do aborto nem da eutanásia. Sou é contra a sua não possibilidade da sua existência. Tinha três amigos meus que praticaram a eutanásia lá fora, mas isso não quer dizer que eu a pratique. Quer dizer que há regimes que dão direito às pessoas de fazerem aquilo que acham que devem fazer e acho que isso é bom para as pessoas e para uma sociedade que não se mete onde não se deve meter. Aliás, se pudesse, pediria a um Governo que isto não fosse considerado matéria de legislação, e que fosse matéria que o Governo considerasse como fazendo parte do foro individual de cada um de nós.
Hoje a A25A levou a efeito um passeio por Lisboa para visitar os sítios onde decorreram as operações militares no dia 25 de Abril. Guiados por três "capitães de Abril" ficamos a conhecer as peripécias que mais e melhor contribuíram para o êxito da operação. Desde a fragata no Tejo que se negou a disparar contra os militares sitiados no Terreiro do Paço, até aos valentes milicianos que não obedeceram ao Major de cavalaria que deu ordem de disparar a matar sobre Salgueiro Maia.
Uma visita à antiga sede da PIDE, hoje convertida numa moderna e luxuosa residencial onde "ainda" perdura uma lápide de homenagem aos heróis que passaram pelas suas masmorras. Depois o Largo do Carmo e o Quartel da GNR onde se deu a rendição de Marcelo Caetano. Estivemos nos aposentos onde o antigo Presidente do Concelho se entregou com dignidade. Marcelo Caetano recusou-se a fugir pelas traseiras do edifício " porque a fuga naquelas condições não era digna" segundo uma testemunha.
Um dos oficiais da GNR mostrou-nos como teria sido uma mar de sangue se a guarda tivesse respondido aos tiros que foram disparados contra o Quartel. A entrada na praça interior é uma armadilha inexpugnável. Leiam o livro " por trás do portão" de um oficial que viveu os acontecimentos e que hoje nos acompanhou.
Há também histórias divertidas e que nos dão a ideia que nos grandes momentos, para além da determinação e da coragem, há muita coisa que depende do destino ( ou do que se queira chamar). Tive a oportunidade de me encostar à esquina de onde assisti a tudo naquela tarde histórica. Um bom almoço na A25A deu por fim um Domingo muito bem passado.