O salvador PEC lV : "Deixem-me portanto dar uma nota bem impressiva de qual era a nossa situação em 2011. O Governo português tinha conseguido que o Banco Central Europeu directa e indirectamente financiasse a nossa economia em quase 50 mil milhões de euros, que é mais de dois terços do que representou o nosso Programa de Assistência Económica e Financeira, em menos de um ano. Nós em 2011 acabámos por receber através do programa de assistência 31 mil milhões de euros", prosseguiu.
"Alguém acredita que, com PEC ou sem PEC, Portugal conseguiria em 2011 levantar mais 31 mil milhões de euros para poder solver os seus compromissos? Ninguém. Já não havia nenhum banco nacional - porque os internacionais já não vinham aos leilões da dívida - que tomasse dívida pública - os banqueiros, de resto, disseram-no publicamente. E não havia portanto, condições para fazer mais emissões de obrigações", concluiu o chefe do executivo PSD/CDS-PP.
E mais :Se não fosse o então ministro das Finanças Teixeira dos Santos num ato de audácia política a dizer que não se podia continuar naquela situação e ter tido a lucidez de pedir ajuda, nós teríamos falhado pagamentos externos e Portugal seria o primeiro país na União Europeia a falhar compromissos de pagamentos".
Como era lindo e escorreito o PEC IV. A salvação e a absolvição da Pátria estavam nestas quinze medidas, tão originais que já ninguém se lembraria delas não fosse serem as mesmas que temos que "gramar" com o memorando da Troika. O Governo entregou ontem ( 22/03/11) no Parlamento a versão revista do PEC, que promete agravar mais a vida dos portugueses. Conheça as medidas. Se não estiver para isso lembre-se do que lhe está a acontecer.
Este "salvador" PEC IV partiu de um déficite de 7% que depois se veio a verificar ser superior a 10% e que uma boa parte da dívida estava debaixo de vários tapetes e não era conhecida publicamente. Uma dívida que oficialmente era de 90% do PIB mas que na realidade andava à volta dos 110% ( basta juntar-lhe o empréstimo da Troika...)
Agora foi Teixeira dos Santos a querer-nos convencer que tudo se resolvia com a aprovação PEC lV. Ninguém acreditou, mas convém atirar com as culpas para os outros. Neste caso todos os outros. "Ora o povo não é estúpido, nem tem a memória curta. Antes do PEC 4 (Março 2011), houve o PEC 1(Março 2010), o PEC 2 (dois meses depois!) e o PEC 3 (Setembro 2010). Quatro planos em 12 meses! Porquê? Porque os mercados, atentos às divergências dentro do governo e desconfiados das tendências despesistas do PS, não acreditaram na capacidade do governo de executar a consolidação orçamental. Como consequência, as taxas de juro da dívida portuguesa subiram a níveis que inviabilizavam, na prática, o acesso sustentado aos mercados primários.
Quem se queixa de Vitor Gaspar não acertar nas previsões, ter parido quatro PEC em 12 meses não está mal, não senhor.
Teixeira dos Santos : "..."seria humilhante para Portugal ir ao Conselho Europeu em Budapeste, "levar um puxão de orelhas", e assumir um compromisso para um resgate." ...Falar em traição é excessivo. Aquilo que achava transmiti com toda a lealdade. O primeiro-ministro sabia o que eu pensava. Com certeza que me ouvia. Não quero ter a vaidade de ter sido eu a dar o empurrão ao primeiro-ministro [em relação ao pedido de ajuda]", afirmou Teixeira dos Santos... Foram dias muito difíceis, de muita tensão, vividos com muita preocupação. Ficou muito claro no início de Abril [de 2011], quando a Moodys cortou o ‘rating' de Portugal e dias depois surgiram cortes de ‘rating' à banca. Estávamos a dificultar à banca o acesso ao financiamento para a economia"... "O primeiro-ministro tinha consciência das dificuldades do país. E tendo a percepção das consequências com um pedido de ajuda, resistiu o mais que pode. Mas creio que já estava convencido de que não valia a pena estar a resistir mais"....
O ex-ministro diz, contudo, que o pedido teria sido evitado caso o PEC IV tivesse sido aprovado. "Com o PEC IV teríamos o apoio do BCE, dos mercados secundários de dívida e da Alemanha. Foi claro o compromisso de Merkel em Março de 2011, de que Portugal seria o tampão da crise. Ficou aí combinado com este programa que estava a ser delineado em Lisboa", recordou.
E lembra que Merkel pediu então a Sócrates que falasse com o FMI. "Mas Sócrates recusou falar com o FMI por incompatibilidade política. E então disse-lhe eu: Se tu não falas, falo eu com o FMI", disse, assegurando que nunca lhe faltou o apoio político de Sócrates durante a elaboração do Orçamento de Estado para 2011 e do PEC IV.