A economia não gera mais riqueza, os impostos estão a um nível que não dá margem para aumentar, a dívida não pára de crescer, a despesa pública com os transportes cresce à custa de quê?
É escolher entre a saúde e a educação. Para os professores não há dinheiro como disse e bem o primeiro ministro. Para os enfermeiros não há dinheiro como disse e bem António Costa. Mas há dinheiro para os passes em Lisboa e Porto ?
E não, não são as verbas que o governo nos vendeu ( para nove meses ). É muito mais e as verbas das autarquias também vêm do orçamento. E " à Costa" as verbas atribuídas dão todos os dias um salto . O dinheiro vai sair de algum lado.
As famílias terem mais dinheiro é bom mas não se esconda que estas mesmas famílias vão para as listas de espera do SNS quando estiverem doentes. É uma questão de prioridade e o governo escolheu uma medida eleitoralistas e oportunista. É boa ? É . Mas não chorem lágrimas de crocodilo por os utentes do SNS serem mal tratados .
Os professores arranjaram um bom argumento mas palpita-me que os sindicatos não o vão usar.
Novos comboios lá para 2023. Novos eléctricos foi lançado agora o concurso. Era bem melhor que o governo distribuísse dinheiro pelas famílias.
O dinheiro vem do orçamento incluindo a comparticipação das autarquias pelo que vai ser retirado da saúde e/ou da educação. E o custo da medida já vai nos 117 milhões para nove meses. Vai ser bem mais. E quem vai receber agora dinheiro vai esperar meses para uma consulta no SNS. Lágrimas de crocodilo pela saúde...
Na "Opinião pública" vem a revolta do Algarve onde a A25 sem custos é um sonho adiado e das Caldas da Rainha vem a mágoa de quem beneficia de um autocarro de manhã e outro à tarde. É que no interior os transportes públicos são poucochinhos quando os há.
A medida não foi preparada para que o impacto positivo se faça sentir nas eleições e o impacto negativo se faça sentir depois. E é certo que no caso que se deseja de as pessoas trocarem o carro individual pelos transportes públicos teremos fortes problemas do lado da oferta.
É pena porque esta medida já é uma realidade há muitos anos em vários países europeus.
Em Gondomar, há uns anos, Valentim Loureiro resolveu comprar os votos da população oferecendo electrodomésticos. Foi um bruá de todo o tamanho e com razão.
Agora temos Costa a reduzir drasticamente o preço dos transportes em vésperas de eleições sem que antes aumente a oferta com mais comboios, barcos e autocarros. Pelo menos durante algum tempo ( e vai ser largo) o que esta medida faz é aumentar o rendimento das famílias que usam os transportes públicos ( e que o país todo pagará) . Não haverá mais procura , não haverá menos poluição, não haverá menos carros no centro da cidade. O que haverá é o governo distribuir dinheiro por alguns à custa dos outros todos.
É bom ? É, tal como o populismo de Valentim Loureiro. As famílias melhoram a qualidade de vida . Mas está dentro da regras ? Naquele tempo chamaram tudo ao Major e com razão.
Isto abre a porta a que os milionários que entrem na política possam comprar o voto popular. Basta abrir os cordões à bolsa. Burla a democracia mas é bom para os pobres .
O medo é que os que irão beneficiar dos passes se zanguem e fujam com o voto ? É que aumentar em 1 euro o custo de entrada em Lisboa ( e Porto) de cada um dos 370 000 carros diários resolve o financiamento da medida, evitando que os contribuintes do interior não beneficiários, assumam os custos .
É fácil de implementar, é mais justo e mais eficaz mas tem o poderoso inconveniente de afugentar votos .
E outra medida fácil de implementar e bastante justa é aumentar o custo do parqueamento dentro de Lisboa. Mas lá está tem o mesmo inconveniente. Pode afugentar votos.
Porque ir pedir mais dinheiro directamente às centenas de milhares de pessoas que todos os dias levam o seu carro para Lisboa e para o Porto é uma coisa muito desagradável em ano eleitoral. Ainda que sejam precisamente estes que se querem cativar para o transporte público, também são estes que se querem cativar para o voto nas próximas eleições.
É muito mais discreto fazê-lo através do Orçamento do Estado, onde populações que nem sabem o que é um transporte público e pagam impostos como em todo o país vão contribuir para políticas locais que são necessárias mas que não deixam de ser locais.