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BandaLarga

as autoestradas da informação

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Carta aberta de um pai ao ministro da Educação

Obrigado Tiago por fechares mais uma boa escola, a melhor do distrito de Santarém.

O Colégio Infante Santo, leciona desde o 5º até ao 9º ano, tendo cerca de 4 turmas por ano lectivo. É uma escola simples, fora da cidade de Santarém que recebe alunos de diversas freguesias do concelho, tais como Tremês, Azóia de Baixo, Azóia de Cima, Romeira, Várzea, Achete, etc, portanto exteriores à própria cidade.

Este pai deslocou a família de Cascais para Santarém e rapidamente percebeu a diferença entre a escola que os seus três filhos frequentavam em Cascais com o Colégio Infante Santo.

A minha experiência começou a meio deste ano lectivo. Tendo vindo de Oeiras para Santarém há apenas alguns meses, tenho três filhos a frequentar a escola. Sendo uma escola “pública” como qualquer outra, a diferença em relação à escola de onde viemos é abissal!

Lá, todos os dias, um dos meus filhos tinha um ou mais “furos”. Todos os dias sem excepção! Aqui, as aulas de substituição são um facto. Aqui, começaram a ganhar hábitos de estudo que eu nem imaginava que fosse possível. Ganharam responsabilidade em relação aos testes e respectiva preparação. Aliás, a facilidade com que decorreu a nossa adaptação a Santarém, devo-a em grande parte ao Colégio Infante Santo.

O Colégio Infante Santo ficou no ano passado em 26º lugar do ranking nacional de escolas relativo ao 9º ano. Facto impressionante!

Porque será que Tiago a vai fechar ?

 

A MORTE DE UM PAI - Prof Raul Iturra

 

Teria eu 39 anos, ele, oitenta. Tinha-me visitado recentemente a minha morada da Universidade de Cambridge, com a sua mulher, a nossa mãe. Foi atencioso, simpático, divertido, íamos passear pelas ruas da cidade universitária onde eu morava com a minha família. A nossa conversa era simpática, mas havia um fio que nos separava. Tinha eu morado na Grã-Bretanha desde os meus vinte e quatro ou vinte e oito anos, com mulher e filhas. Primeiro na Escócia, Universidade de Edimburgo e, a seguir, na de Cambridge quando apareceram no fim dos anos setenta do século passado.

Estiveram connosco seis meses, sempre a rir e brincar. Era um homem sério, mas alegre que adorava brincadeiras. Gostava de sair só comigo, com su cabelo negro, face branca, bigode aloirado com pontas brancas por causa da idade. Repartiam-se entre a nossa casa e a da minha irmã, marido e filha, docentes de Universidade de Southampton, no Reino Unido também, pelos mesmos motivos: no Chile, onde oravam, tinham assassinado o Presidente legal da República pelas forças armadas, surpresa para nós, en mais de duzentos anos de independência da coroa de Espanha, a que pertencíamos por causa da mãe e dos seus antepassados do Século XVI. Basco de ascendência, apoiava o assassino do Presidente Constitucional, que nos largara do Chile quando desde a Grã- Bretanha, corremos a Chile para votar por Allende. Ele, pela Democracia Cristã e o seu amigo, mais tarde Presidente, quando a democracia tornou ao Chile em 1990.

No Reino Unido, inventava as melhores viagens a outros países do velho Continente para me passear e estar com seu filho maior, que demorou seis anos em aparecer, a quem educou em casa com preceptores privados até onde a ei permitia: os dez anos de idade. Daí, para o melhor colégio que ele encontrou, com farda e um imenso telescópio para ver o mudo, que ele visitava para me ensinar como o usar: era engenheiro, sabia todo. Todos os anos recolhia os prémios que o seu benjamim ganhava, que eram muitos e entregues pelo Cardial Primado a ele primeiro e ele decorava-me a mim, com a sua mulher, a nossa mãe. Adorava o seu pequeno, apesar das ideologias diferentes: ele cristão, eu, socialista e chefe de partido que apoiava a coligação da Sua Excelência, o presidente constitucional da República.

Á sua morte, provocada, mandaram-nos de volta para o Reino Unido. Despedi-me no aeroporto a 8 de dezembro de 1973, pensando que a seguir, nunca mais o ia ver. Supressa das surpresas: anuncia a sua visita e ficam connosco um tempo cumprido. Queria levar-me só a mim, para a França, a Alemanha, outros países. Fui claro: Pai, eu o adoro, mas de que vamos falar? Vamos ter que evitar conversas porque apoia o Ditador que luta contra os pobres e os explora, eu os defendo, contrário ao Pai que tem esse primo o Almirante Merino-ele era Iturra Merino- que eu não tolero y luto conta ele. Ficou triste, fizeram as malas, foram casa da minha irmã que me seguia en cronologia por cinco anos. Ela era tolerante e tinha razão: eles tinham feito todo por nós e sempre calou as diferenças mencionadas.

Em breve, triste, fizera as malas e encontramo-nos no aeroporto britânico para um adeus que passou a ser final. Passearam os dois pais sós pelo continente por tempo cumprido, visitaram os parentes da corte, e foram-se para O Chile mais rápido que correndo. O meu confronto com ele em Cambridge o fizeram pensar. E tanto pensou, que passou para o lado das minhas hostes. Em 1986, um ano depois da visita a nós comemoram suas bodas de ouro. Eu no podia entrar para essa festa magnífica, mas todos os cinco filhos a custeamos, o nosso amor de largos anos e o meu confronto que o faz pensar.

O Chile, havia a campanha pelo no a única ditadura de un país livre, lo denominado asilo contra a opressão, que Karol Wojtila, São João Paulo II hoje, lhes ensinara como fazer para derrubar um apestado ladrão do sítio roubado à lei. O Pai, doente já e após de me ter ouvido e ver a minha determinação, bem contra o amor que lhe tinha, mais os netos e filhos, o levaram a votar por un não em 1989, um voto especial de un convertido às ideais dos seus descendentes. Meses depois, a 20 de março de 1990, partia deste mundo.

Tentei tantos que me deixaram entrar para um adeus final. Nem por isso. Apenas o telefonema de todos os dias, ate esse 18 de março, já nas potas da morte, falamos da nossa infância, a dele e a minha, contou coisas que eu não sabia e que por ser dele e o amor perdido, irão comigo a tumba.

A nossa filha mais velha estava comigo em Portugal. Cuando telefonam que eu no podia falar mais com ele nesta vida, a nossa analista clínica e eu nos acompanhamos. Encendemos vela. Não oramos, não era connosco, mas num dos terraços fizemos arder um atado de molho de trigo, adorno da casa.

No dia a seguir, enquanto a cidade parava para dar passo o funeral do Engenheiro, o pai, o marido, o avô, o patrão de tantos que tratou com justiça sem saber o bem que fazia.

O seu voto pelo não foi muito comemorado. Saiu da cama apoiado em netos e o nosso irmão engenheiro. Ele proferiu a oração fúnebre na minha substituição por ser agora eu o chefe de família… em exílio, mas as suas próprias palavras.

Dias prévios, falamos com o Pai do seu tio português, Hierónimo de Freitas, casado com uma prima direta da sua mãe. Eu sentia os seus olhos azuis sorrir enquanto prolongava a conversa. A derradeira.

A seguir, a voz do irmão: faleceu.

Hoje é dia de aniversário de nascimento. Mas, velho o Parque do Mar, o Pinheiro que o guardo, como as sua terras chamadas El Pinheiro.

Enquanto era enterrado, com força e emergia, proferi a minha aula, apenas que comecei por dizer que era dedicada a um Senhor que nesses minutos ia a enterrar.

A sua foto, em frente da minha secretária, com o seu sorriso de Senhor. O pé, a Senhora mãe, e netos e bisnetos. Tinha apenas 80 anos, mas nos ouviu, especialmente a conversa de Cambridge. O amor todo o pode

Dias duros, hoje, mas ele mora en mim, como eu em ele a o longo de anos. O respeito e amor eram grandes, imensos

Raúl Iturra Redondo

10 de julho de 1014

lautaro@netcabo.pt

 

 

SER PAI, SABER AMAR SEM CONDIÇÕES. - Prof Raul Iturra

 

 

 

 

 

Estou consciente de ter escrito um texto, cujo título era Sermos Pais, a profissão mais antiga e desprestigiada da História? Um texto com citações, debates, definições, comparações, enfim, um texto de erudito que, sem saber como, vai citando, de forma natural, enquanto escreve. Mas, ser pai também é acordar de noite porque um descendente está a asfixiar e a necessitar de ajuda imediata. É a dor da incerteza, é a dor do amor incondicional que não tem descanso, é a doçura convertida em desespero, é a luta com escudo e elmo para manter o mais pequeno. Enquanto travamos esta batalha (verdadeiro milagre da vida) não pensamos, não sentimos, apenas nos concentramos na luta que acaba por permitir a continuação da vida desse ser pequeno a quem tanto amamos. Roxo, brônquios fechados por uma teia fabricada por um indecente vírus que apareceu sem saber de onde. Ou, sabemos, mas não queremos recordar. Existem bactérias e vírus que nos rodeiam sem nos apercebermos. Não somos capazes de ver ou entender que existem, tão intensa é a nossa alegria ao levarmos o nosso pequeno a passear, a alegria de o poder mostrar aos outros membros da família, aos nossos amigos, exibimo-nos com o pequeno ser que, no dizer de Wilfred Bion em 1961? Cogitations e em 1962, Learning from experience, nasce já no nosso pensamento. Tanto desejamos ser pai, que antes de o conceber, o imaginamos, brincamos, beijamos, andamos às cavalitas, vamos juntando berlindes, temos piões classificados para o dia que...somos capazes de o ver tal e qual se pensa deve ser ou virá a ser. Podíamos partilhar esse prazer com a mãe, mas prazer de pai é prazer solitário, calado, imaginário, ternamente, como se esse homem fosse a mulher que traz a criança no seu ventre. Prazer que dinamiza esse não esperado acordar nocturno em que vimos que o fruto do nosso imaginário, está quase a partir, a deixar-nos. Sem pensar mais, aplicamos essa resiliência de Cyrulnik ou inaudita capacidade de construção humana. Sem saber como, nem de que maneira, o reconstrói e o faz ficar vivo e a saltitar. Alguma frase salta de repente da nossa cabeça: ter filhos é um prazer, mas criá-los, pode ser um martírio e a nossa atitude muda do imaginário de berlindes, à vigilância permanente enquanto o pequeno se faz adulto, e entende o desenvolvimento da vida e, assim, acabamos por viver em paz: sabemos que aprendeu, do nosso próprio exemplo, das nossas noites acordadas e dos nossos dias de observação silenciosa, que a criança percebe nos seus sentimentos inconscientes, esses que ficam gravados na História do indivíduo. Amor de pai, um Cid Campeador, que nem chora nem tem raiva: vê, ouve, vigia, toma conta, ama e ensina. Com a esperança que os mais novos aprendam o debate com os factos da vida, provar os perigos e afastar-se deles, aceitar que as palavras ditas e o gesto autoritário, seja apenas um incentivo para continuar a aprender e a interagir com outros seres humanos.

 

Este amor de pai, transferido para outros mais novos, em idade ou em saber, trabalha sem descanso a preparar novas ideias para transferir de forma adequada e conveniente, na base do debate, com amplidão de entendimentos, com coordenação com outros saberes, que permita a síntese de uma ideia já provada, com hipóteses de outros autores. É este o processo que dinamiza o saber comparativo, que ensina o amor de pai. Crianças maduras em idade mas fracas em dedicação ao cuidado de si próprias e no respeito a um pai que vela o ano inteiro com o objectivo de ensinar apenas um facto: saber precisa de leituras, de paciência, de confronto consigo próprio, de aceitar os erros pessoais, de saber perguntar, corrigir e melhorar o que tem sido indicado como ausente no debate, aprender as regras para não se afogar, para não ficar roxo por falta de ar, mas sim empenhado em aceitar a experiência de quem mais percebe, pela dedicação imensa ao longo do tempo, transmitida com respeito e a altura adequada à capacidade de entendimento.

 

Ser pai é ser professor. Ser professor, é a vida sem descanso para avançar nas experiências de transmitir saber e pedagogia ou processo estruturado de retirar ideias do pensamento de outros e ganhar as forças e o oxigénio suficientes e necessários que levam a uma aceitação de si próprio e a uma clara, limpa, serena e tranquila disposição na relação com os que comigo aprendem. Se um pai tem confiança em mim e se permite entender o meu texto, olhar a minha cara no espelho, esse pai pensa de mim o que o seu imaginário já experimentado, criou. Mãos estendidas que ajudam a não sufocarmos na vida social, por falta de saber ou por falta de técnicas que são retiradas do ser mais experiente, no qual acredito porque permite melhorar o amor à vida. Comigo e com os meus colegas de carteira ou de vida. Aos que oiço e ajudo, tanto quanto aprendi ao saber ser independente por aceitar as técnicas da respiração que o meu? Cota? Teve a paciência e o amor de me transferir. Ser pai, o trabalho mais benevolente do mundo. Construído para as novas gerações serem adultas no saber e na idade, ao aceitar a História e a sua lógica. Nem sempre favorável ao indivíduo, mas aprendida ao longo do tempo, mata os vírus que retiram a capacidade de respirar o ar sadio do saber amar os outros e de me respeitar a mim mesmo.

 

Raúl Iturra

 

19 de Março de 2014.

 

lautaro@netcabi.ot