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BandaLarga

as autoestradas da informação

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Notáveis, distraídos e mentirosos

Uma carta de notáveis, distraídos e mentirosos. Para estes senhores o Plano do BCE não existe.O Plano Juncker também não. E dos 21 mil milhões de subsídios ( em alguns outros países bem mais) nunca ouviram falar

Dizem-se os subscritores, lá para o fim, «certos, senhor primeiro-ministro, de que agora é o tempo para este apelo à responsabilidade numa Europa em que tanto tem faltado o esforço comum para encontrar soluções para uma crise tão ameaçadora».

Ora, é curioso que digam isto. Porque isto vem seguramente de quem estava distraído quando Mario Draghi declarou, em 2012, que o BCE faria tudo o que fosse preciso para salvar o euro, e das medidas posteriormente tomadas. Isto só pode vir de quem não tomou sequer nota da existência de um plano Juncker, quanto mais dos seus objectivos e valores. Isto só pode ser escrito por quem estava a dormir enquanto o pânico se desvanceu e os mercados acalmaram. Isto só pode ser escrito por quem estava fechado num quarto escuro e sem janelas (a salvar o mundo com mais três múmias, putativamente) enquanto cá fora se falava de quantitative easing. Os subscritores presumem apelar à responsabilidade, mas só porque estavam entretidos com o umbigo, enquanto a Europa mudava, e Portugal mudava, apesar deles.. 

UMA NOTÁVEL XAROPADA

Um grupo de setenta cidadãos, quase todos confortavelmente instalados à conta do OE, resolveu produzir um “manifesto”. Poucos o leram, mas todos dele falam.

Eu li. É um documento notavelmente gordo. Obeso.

 

Como primeiro considerando, somos presenteados com uma conveniente inverdade – o crescimento sem precedentes da dívida pública deveu-se à “crise internacional iniciada em 2008”. É mentira, como sabemos e, mais do que nós, sabem os notáveis (chamemos-lhe assim, porque parece que gostam e também porque se pode ser notável por maus motivos) subscritores, muitos dos quais estiveram nos postos de decisão de onde foi gerada a monstruosa dívida com que nos debatemos, a qual, como também sabemos e sabem, continuou a ser contraída euforicamente após 2008.

Portanto, em primeiro lugar, o “manifesto” é uma tentativa, vã, de auto-absolvição de pesadas culpas próprias das quais os notáveis estão bem cientes.

 

Os notáveis defendem a reestruturação da dívida, alongando o seu prazo e baixando a taxa de juro.

Dando de barato que tal implicaria, desde logo, o aumento dessa mesma dívida, tal reestruturação é defendida sem que sejam identificarem os credores e em fazê-lo no "espaço institucional europeu", como se lá estivessem todos os credores e como se existisse tal espaço institucional com competência para o efeito, o que nenhuma das coisas sucede.

Mas, o que aqui mais impressiona é que os notáveis partam do princípio de que o alongamento de prazos de amortização e a redução dos juros é faculdade unilateral do mutuário.
Os muitos portugueses (de que os notáveis tanto falam, mas em quem tão pouco pensam) que estão incapacitados de solver as obrigações decorrentes dos empréstimos que contraíram sabem bem que assim não é.

Este arrojo de ignorância fica, pois, muito mal aos notáveis. Mas já vimos que têm de ser notáveis por algum motivo.

 

Mas há um terceiro aspecto que, no meu entender, é o mais impressivo.

Refiro-me ao completo silêncio dos notáveis relativamente ao excesso da despesa do estado. A tal despesa injustificada, exorbitante e enxundiosa que obriga aos cortes indesejáveis nas prestações sociais. A despesa decorrente dos muitos privilégios conhecidos, falados, mas nunca combatidos.

O que leva a uma óbvia e importantíssima conclusão – os notáveis não querem que a despesa baixe. Querem manter o estado pródigo e gastador, querem continuar a ver malbaratar que faz falta aos mais pobres, querem preservar os privilégios dos políticos e demais instalados.

O que, bem vistas as coisas, não admira, já que quase todos os notáveis se inserem neste último grupo.

 

Neste “manifesto” um só facto me surpreende e desgosta. Ver neste grupo de notáveis pelos maus motivos um Homem que me habituei a apreciar e dos poucos que merece ser ouvido. Também suponho que o único deles a quem não pode ser imputada responsabilidade pela penúria a que país chegou – o Prof. Adriano Moreira. De quem, não há muitos meses, escutei, precisamente a propósito dos maus gastos do estado – “Éramos império e não contratávamos serviços de advogados; tínhamos a Procuradoria Geral da República”.

Espero bem que apenas tenha ido ao encontro errado. Às vezes, sucede-nos.