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BandaLarga

as autoestradas da informação

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O meu único presépio

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Entre Caldas da Rainha e Óbidos, numa casa com quintal, pintada de branco e com bandas azuis escuro, dando para um pinhal, moravam o meu pai, eu e os meus dois irmãos mais novos. O patrão da casa durante o dia era eu, embora nos meus precoces seis anos, isso quisesse dizer uma só coisa. Tinha que defender os meus irmãos. E defendia-os, como o meu pai viu ao chegar a casa à noite e verificar que eu tinha rasgado o vestido da minha irmã para lhe atar a cabeça partida com uma pedra perdida.
Era Natal, e eu na minha casa de família perdida pelos adultos, sempre tivera presépio e árvore de Natal e meti na cabeça que teria presépio, aquele ano e naquela casa.. À entrada das Caldas havia ( e há, embora fechadas) as fábricas de loiça com as criações de Bordalo Pinheiro cujas peças com defeito eram amontoadas no seu exterior. Grande fartura de peças para o presépio, para mim não tinham defeito nenhum, sabia lá porque estavam ali à mão, a única explicação era um milagre do menino Jesus , Ele sabia bem que sem ovelhinhas, moinhos, pontes, homens e mulheres não havia presépio.
E, ali no quintal, ao lado direito da porta de entrada fiz com os meus irmãos o "nosso" presépio, bem me lembro que o Menino deixou para mim o milagre de arranjar "papel de prata" para fazer o rio que passava por debaixo da ponte. Um rapaz mais velho ( tinha uma bengala que usava debaixo do ombro, onde se apoiava) viu o "nosso " presépio e arranjou-me a prata, ele também não tinha amigos para jogar a bola, também teve que fazer o seu próprio presépio."Fazes bem, Luis, é bom!" disse-me ele e para mim bastou, alguém tinha olhado para o nosso presépio e gostara dele. Basta uma palavra, a indiferença é algo de terrível, fazer uma festa na cabeça de uma criança, todos os dias, devia ser uma das três coisas obrigatórias antes de morrer.
O meu pai, foi ao pinhal e trouxe um ramo de pinheiro e com ele fez a árvore de Natal, a vizinha ao lado fez uma estrela prateada ( depois vim a saber que "era aquela estrela pequenina a tremer de medo por cima do forte de Santa Catarina...), não havia luzes, mas havia o musgo que íamos buscar ao bosque, o azevinho de bolinhas vermelhas , as plantas selvagens, e o nosso presépio cresceu, vinham pessoas do bairro ver e sempre deixavam uma ideia, mais uma estrela, e o menino à noite por causa do frio teve direito às roupas que lhe fez a minha professora da pré-escola (bem a vi a chorar...) e o presépio já era de todos, vieram os bolos e as rabanadas, o bacalhau e o azeite, e o meu presépio já era a minha casa cheia de gente .
Não houve presentes comprados à pressa, não havia dinheiro, mas a lareira estava cercada de mulheres a cantar as canções de Natal, a todos se abria a porta, todos a desejarem "Bom Natal" , bandos de rapazes andavam de porta em porta, levavam uma rabanada ( na região das Caldas são filhós..) o meu pai era um emérito cozinheiro, a aletria da minha terra natal, e a mesa farta cheia de pequenas coisas que todos deixavam e trocavam e saboreavam...
E, naquela noite, sonhei com a minha mãe, estava feita figurinha junto ao "menino"...

A tarde de 24 de Dezembro de 1914 - a mais bonita história de Natal

Ingleses e Alemães frente a frente nas trincheiras imundas separados por uma "terra de ninguém" com 200 metros. Estes homens - estamos a falar de jovens com 18 anos - a morrer de frio, de repente começaram a entoar canções de Natal de tal forma que se confundia o inglês com o alemão . Sem se saber como cem mil soldados dos dois lados acabaram a confraternizar e a jogar futebol na "terra de ninguém". Um milagre.

Há relatos do acontecimento e até fotos. E encontram-se depoimentos orais recolhidos por participantes ainda vivos. Estavam à espera de um apito para sair da trincheira e caminhar para a morte, mas naquela tarde as tropas alemãs começaram a decorar as trincheiras com velas acesas. A parte inglesa respondeu com canções de Natal. Num instante começaram a atirar prendas de um lado ao outro . Tabaco, chocolate, álcool. Os tiros terminaram. Começaram por retirar os mortos. Fizeram funerais conjuntos. E realizaram-se jogos de futebol . E trocaram souvenirs entre si.

É este o espírito de Natal que deve unir os homens de boa vontade. Quem não gostou nada foram os Generais especialmente um cabo, um tal Adolfo Hitler.

Estamos em algum lugar de Flandres, na Bélgica, em 24 de dezembro de 1914. E esta história faz parte de um dos mais surpreendentes e esquecidos capítulos da Primeira Guerra Mundial: as confraternizações entre soldados inimigos no Natal daquele ano. Ao longo de toda a frente ocidental – que se estendia do mar do Norte aos Alpes suíços, cruzando a França –, soldados cessaram fogo e deixaram por alguns dias as diferenças para trás. A paz não havia sido acertada nos gabinetes dos generais; ela surgiu ali mesmo nas trincheiras, de forma espontânea.

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País aceitará Natal fechado depois do congresso do PCP ?

As famílias não vão conseguir manter a distância entre os seus membros para assegurar um jantar de Natal e almoço de Natal seguros ?

Pelo menos com o núcleo mais chegado, dez pessoas, as mesmas ao jantar e ao almoço, os membros familiares com quem privamos diariamente ou quase, que conhecemos a vida que fazem, os riscos que correm.

O meu filho trabalha a partir de casa, terá os seus contactos com clientes e fornecedores, priva com as duas filhas de dez e sete anos que frequentam um colégio. A mãe das minhas netas trabalha ao ar livre. Eu passo grande parte do dia em casa e dou o meu passeio de 5 kms/dia por zonas pouco frequentadas e ao ar livre. A mãe do meu filho sai de casa para ir às compras cumprindo todos os regulamentos.

A segurança na minha família é inferior à oferecida pelo congresso do PC ? Claro que não. E vou deixar de festejar o Natal ?

As minhas dúvidas levam-me a ter menos certezas que os comunistas porque a minha preocupação são os meus entes queridos, já o PCP quis fazer e fez alarde da sua conhecida prepotência. Interessa-lhe o cenário que apresenta ao país mas não pensa nas famílias dos congressistas. E se algum deles leva para casa o vírus ?

Vamos ver se quem se vergou ao poder do partido agora tem a lata de convidar ou exigir que as pessoas não festejem a festa da família .

 

O madeiro arde no adro da igreja

Bom Natal - o madeiro da minha aldeia

 
 
Na Beira Baixa nas noites de Natal arde o madeiro nos adros das Igrejas. À sua volta juntam-se os mais novos deixando no sossego dos lares à volta das lareiras os mais velhos. Quantos saltos por cima da fogueira. E as histórias mil vezes contadas. Já de madrugada, após a ceia em casa de quem tem uma adega bem fornecida,  ainda se vai a tempo de se abrirem os presentes .
 
Procurada a chave na própria porta, pois nada havia a temer, saía o Pai Natal e entravamos nós. Comigo, o Pai Natal sempre me desejou um Feliz Natal mas nunca me deixou presentes.

A festa da intimidade - Natal e Ramadão - Prof Raul Iturra

1. Introdução.

Normalmente, tenho escrito textos que referem esta quadra como um Feliz Natal. Normalmente. Mas, será que é uma época para falar de normalidade? Ou, porém, como vamos definir um tempo normal? Quando é que a vida social tem sido normal. Será quando agimos conforme as nossas ideias e os nossos hábitos e costumes? Mas, os hábitos, como os costumes, não mudam? Será que normalmente significa o que é conjuntural e heterogéneo? Não é por acaso que tenho usado essas palavras nos meus textos de pesquisa. O acaso é a normalidade. A normalidade é o comportamento conjuntural que estrategiza e manipula os feitos, ou factos - decida o leitor -, que constroem o mundo social e divide o trabalho entre todos nós. Estratégia que pode cair em mãos prudentes para virar os acontecimentos em favor do povo, pelo povo e para o povo, por ser a estratégia uma actividade social do povo. Estratégia que varia conforme os objectivos a atingir.

Não foi em vão que os Muçulmanos criaram o mês luar no décimo primeiro mês do ano. Para descansar, para sentir, para pensar, para festejar cada dia que avança nesse décimo primeiro mês e comemorar a capacidade de não comer todo o dia (entre o nascer e o pôr do sol), não trabalhar, não amar, meditar, estar em casa em silêncio com os seus e sair à rua apenas sob a luz da lua que mostrava a sua face, a sua cara, o seu segredo de ter levado vivo aos céus a voz de Alá, o Profeta Mamede ou Muhammed. É assim que falam no Alcorão, é assim que é ensinado nas escolas corânicas, é assim que o comenta o discípulo muçulmano de Aristóteles, Abû Nasr al-Fârâbî (ou Avenassar), para o mesmo filósofo aristotélico do Século Nono da nossa era. Capaz de dizer, na sua tradução de 1964 em Beirute, que a maior capacidade do ser humano é ser social e viver em grupos grandes ou Nações, ou em pequenos como os bairros, os grupos domésticos ou famílias. Todos têm uma mesma capacidade: um corpo que solicita, uma alma que organiza a procura do corpo. Um al-Fârâbî a definir nos seus textos, comentários sagrados para os diversos povos Muçulmanos, que a bondade é o bem absoluto do ser humano por revelar a capacidade de bonomia existente em quem é honesto nos seus sentimentos. Como o seu Mestre Aristóteles gostava de dizer no seu texto escrito em 330 antes da nossa era, para educar o seu filho Ética a Nicomaco: todo efeito tem uma causa e essa causa deve ser encontrada. Se o efeito, diz al-Fârâbî, parece ser a capacidade de viver em sociedade ou Nação, ou Gemeinschaft para nós, derivado do conceito do filósofo alemão Tönnies e usado pelo seu discípulo francês Durkheim como solidariedade mecânica, ou ditada pela capacidade de se estar junto dos outros em paz e alegria e, eventualmente, no lado oposto, com repressão pelos mesmos membros do grupo, caso a justiça não seja atingida. Paz e alegria que existe por causa da natureza humana, ou por causa da educação que o grupo social, sem lei positiva nenhuma a comandar a vida em sociedade, transmite por ter inteligência e saber que uns sem os outros são incapazes de sobreviver. Acrescenta o influente al -Fârâbî que essa capacidade de viver em sociedade se deve há existência da alma com faculdades no ser humano permitindo-lhe o uso do bem e a rejeição do mal. Porém, o mal existe se as pessoas não são corrigidas de forma fraterna e amável, como Mohamed diz que Alá, a sua divindade, manda e faz. Alá diz que o ser humano tem cinco faculdades para ser feliz, amável e conviva dos seus e da sua Nação, a Nação Muçulmana, dividida em grupos, tribos ou clãs. Faculdades simples, como a capacidade de razoar até de forma especulativa; a faculdade de razoar por causa da experiência ou o agir pragmático entre seres humanos; a faculdade de procurar o que o corpo individual diz dentro do corpo social ao qual se pertence; a faculdade de imaginar para progredir a par e passo dos outros semelhantes sem os ultrapassar, com a confiança de que esperar é uma virtude para aprender e ensinar; e a faculdade da sensibilidade para entender o que o grupo social já herdou dos grupos do antigamente e do Profeta que ensinou que há em nós a capacidade de reflectir. Porém, a capacidade de entender os animais, os corpos celestes, o comportamento, a amabilidade, a solidariedade que não precisa lei, porque o Direito foi dado por Alá e o seu Profeta. Ramadão ou Ramadã, também grafado Ramadan (em árabeرَمَضَان) é o nono mês do calendário islâmico. É o mês durante o qual os muçulmanos praticam o seu jejum ritual (suam, صَوْم), o quarto dos cinco pilares do Islão (arkan al-Islam) permite reflectir na base da faculdade apetitiva de querer saber e transferir o sabido por meio da faculdade de entender a experiência ou a razão prática que todo o ser humano tem. Ramadão permite o silêncio necessário para essa capacidade de reflectir e debater em casa o progresso dos peregrinos de esta terra que será, de certeza, entregue a si próprio e aos outros ao se mostrar a capacidade de se ser sensível. Ramadão é a festa da intimidade de si próprio e, na hora do comentário, da troca de ideias entendidas no silêncio e na abstinência do dia, abstinência de adultos e crianças, aprendizagem das duas pontas sociais do grupo. Porque essas capacidades da alma são a semente que o adulto planta na alma dos mais novos e desenvolve porque Alá é grande e sabe orientar aos seus: mal se conhece o bem, se quer fazer, fechado dentro do seu grupo social de clã, bairro ou Nação, o desenvolvimento da racionalidade da criança que leva em si a capacidade de imaginar o que o adulto diz e faz. Porém, Ramadão desde muito cedo na cronologia da vida de uma pessoa, e ao longo da vida toda. Como manda o Alcorão, a palavra escrita do Profeta que falou por Alá. Quanto mais jejum de corpo e alma, maior proximidade à bondade da Divindade. E ai, de quem queira mudar estes costumes que, faz mil e quatrocentos anos se andam a desenvolver em grupos que não precisam um Gesellschaft, lei, contrato, solidariedade orgânica ou de Direito positivo, além das mãos do grupo de convívio, como hoje sabemos por Durkheim, que existe entre todos os povos. Especialmente os europeus que ele estudou a partir dos denominados arcaicos.

2. A intimidade.

Parece como se a introdução fosse muito cumprida. No entanto precisa ser assim por sabermos pouco das festas muçulmanas que acontecem na época das nossas. O Ramadão precisa de intimidade, facto do qual sabemos pouco ou nada. Talvez, apenas, pelas notícias da guerra que têm invadido a necessária intimidade do Ramadão. Para meditar. Ou talvez, um Ramadão demasiado cumprido ao longo do tempo, quer pela invasão soviética, quer pela invasão cristã. Um jejum de introspecção e de alimentos que dificultam o semear de faculdades na alma das crianças e desenvolver as qualidades das do adulto, esse que acaba por se mostrar perante os mais novos, com a incontinência da paz na alma e ensina retaliação e vingança, quer em palavras, quer em acções, quer por falta de Direito punitivo ou por falta do Direito que fica além das emoções, nas mãos de outrem que sabe e não pune porque está escrito pela mão do homem o que deve ser feito para se conviver com os outros, em presença deles, ou na sua ausência. A existência de uma solidariedade orgânica ou pensada para a interacção de grupos sociais que racionalizaram uma troca comercial faz já muito tempo. Dentro da qual cai o Natal ou o Ramadão dos cristãos que separam o Governo da comunidade social de seres humanos. O Natal é a festa da família, de comer, de orar, de trocar presentes, de lembrar a décima segunda lua convertida em sol. O calendário cristão é romano e soube justapor à festa de Jevo ou Júpiter, a mais comemorada na época do Império Romano pela importância da divindade, o dia do Nascimento de Xristos ou Jesús. Comemoração que varia em cada uma das formas religiosas dos cristãos. Os Presbiterianos e Calvinistas ou a maior parte da Europa do Norte, lêem o Livro de Vida ou Bíblia, comentam os Evangelhos e comem em grupos de bairro ou amigos. A dos Anglicanos da Igreja Baixa, assistem à Igreja e comem em família. A da Igreja Anglicana Alta ou da Aristocracia, comemoram com uma festa religiosa, retirando-se seguidamente para casa e comem em família. A da Igreja Romana na Europa, assistem à festa religiosa da meia-noite e comem depois em família ou com amigos íntimos. Varia conforme a confissão analisada. Quando há crianças, é o Grupo Doméstico a procurar a sua intimidade que sabe será curto ao longo do tempo, procurando um convívio de pais e filhos e, talvez, avós. Ou não. Quando há avôs, procura-se a comemoração em casa ou com outros membros da sua geração. Em comum entre todas as formas religiosas cristãs, o facto que faz tempo as juntou: o comércio ou a dádiva a que ficam todos obrigados a trocar. Essa dádiva que o discípulo do invocado Émile Durkheim, Marcel Mauss, denominou a obrigatoriedade do presente que nem por isso se faz de forma alegre ou feliz. Até às vezes, com um certo desapreço, como diz o autor invocado, nas suas conclusões, quando fala da obrigatoriedade da prenda de Natal. Essa que acaba por não ser nem dádiva nem meditação íntima, mas sim, uma obrigação para se ficar gessellchaftemente bem perante os outros e, eventualmente, com um certo apreço pelo auto estima que soube cumprir o que a solidariedade mecânica manda. Onde, pois fica a, intimidade na festa Ramadão e Natal, se é apenas comércio? Intimidade e recolhimento familiar, nem por isso….

 

3. Feliz Natal?

E como? A seguir a estas ideias? A entender que nos governamos no Ocidente pelo que é mais conveniente e não pelo amor meditado? Onde os pais, mais velhos, são expulsos da festa familiar enquanto os mais novos cultivam a sua geração ao fazer uma intimidade com eles? Ao se saber que temos lares de idosos que ardem e não têm nem licença nem seguro? Ao sabermos que houve um 11 de Setembro (2001) a exprimir a raiva da subjugação e da intrusão dos poderosos dentro da solidariedade mecânica - orgânica dos mais tecnologicamente atrasados que estão a viver um Ramadão de mais de vinte e cinco anos de duração por causa do incremento da guerra de Nações mais forte e melhor armadas? Que o nosso Presidente não foi recebido pelo Buttler inglês da Nação mais poderosa de armas nucleares do mundo? Que a seguir ao Natal vamos ter que cancelar o Visa a juros muitos elevados por causa da guerra? Felizes serão os que vão fugir dentro da Missa do Galo à consoada meio pobre/meio sem prendas que vamos ter? Feliz Natal com a tristeza de sabermos que houve mortos dentro dos símbolos do poder dos Estados Unidos?

  • Feliz Natal? Com tanto Casal Ventoso e Orçamento Rectificativo ou como seja que se denomine à necessidade de termos moeda porque as indústrias fugiram para a Europa de Leste? Com a globalização? Amargo o real? Feliz Natal com milhões de seres humanos a não comemorarem o seu Ramadão ou porque estão a ser bombardeados ou porque pactuara com o mundo do Natal? Feliz Natal? Só se o leitor tiver ficado elucidado do que significa o Ramadão. E chorar com eles. Com esses que não têm o equivalente em intimidade e em reflexão, como os Cristãos, Romanos ou não, vão comemorar? O leitor comente, tome a palavra e decida sobre as injustiças da vida…na quadra denominada santa e de reflexão...

 

 

 

 

O NATAL DE PORTUGAL

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Não me parece ser uma realidade, é apenas uma escrita livre. Vamos deixar as leis e a Constituição do Estado. É o dia de começar a preparar o Natal. Antigamente, era o dia de preparar a árvore, com luzes a cintilar, a espera de uma consoada que, no passado, era de bacalhau com repolho, batatas, ovos cozidos e couve lombarda, com vinho ou água-pé, a comida mais tradicional de Portugal nas aldeias, onde normalmente tenho passado a Noite Boa, com os trabalhadores rurais que habitam em elas. Todo isto, caso não se não houver peru, champagne, vinho do Alentejo, carne asada e presentes, como passou a ser a seguir o 25 de Abril de 1974. Havia trabalho bem remunerado, o emprego da força de trabalho estava sempre cheio, a Missa do Galo ou de meia-noite era antes da ceia ou consoada. O Natal era uma festa que não se perdia nas aldeias, começando já no lanche com rebanhadas e filhoses, que se iam comendo enquanto se esperava pela consoada. Nas casas da cidade e da burguesia ou das famílias com mais posses, o Natal era da segunda maneira referida antes. Mas, hoje em dia?
Em frente de nós, há um orçamento que ameaça as nossas mudanças. Parece-me estar a tornar à aldeia de São João de Monte, na Beira Alta, perto de Vila Ruiva, onde a consoada eram sardinhas cozidas ao lume, uma para cada as 13 pessoas da família; ou na mesma Vila Ruiva, entre Nelas e Mangualde. Estive na festa da casa dos meus amigos trabalhadores rurais e comi o bacalhau tradicional, e os doces antes descritos, até me fartar. Por ser o analista de Vila Ruiva e escrever sobre eles, fui convidado a várias casas, entre elas, a dos morgados, uso que ainda existe na vida rural apesar da lei de Mouzinho da Silveira, casas com peru e vinho de Borba, presentes para mim e árvore de Natal com velas a arder, em duas casa apenas.
Este ano, ninguém tem a coragem de gastar dinheiro em consoadas à laia burguesa, nem os burgueses. Não sabemos o que nos espera em frente das nossas vidas. Com um 30% de desemprego da força de trabalho, despedimentos da função pública, recortes de orçamento para escolas públicas e privadas, um gás e a eletricidade a subir, as medicinas não fornecidas às farmácias e, se aparecem, são tão caras, que em caso de doença, é impossível de comprar pelo alto preço por não serem retribuídas a comparticipação da Infermed. O nosso Natal é sem presentes, sem consoada por causa das poupanças que devemos fazer para um futuro incerto. A imagem tem um grupo de aldeões a se aquecer deste frio que nos mata, enquanto conversam e lembram o Dia da Liberdade, esses tempos em que as rebanhadas e as filhoses estavam na mesa para quem quiser comer antes da tradicional missa do galo.
Poder, ainda é possível, mas o futuro próximo, se ainda estamos a espera de um veto para as alças de impostos, que já começaram, antes do orçamento ser lei? Quem não poupa, pode ficar na miséria, o orçamento de 2015 contempla subsídios recortados em treze meses, aumento dos transportes, impostos novos escalonados, passando Portugal a ser um país de pobres em risco de pedintes….Não há Natal este ano. Quem se arrisca em gastos, come o dinheiro poupado para a velhice da força de trabalho, ou para os consultórios médicos vazios que devem fechar por falta de doentes. Hoje em dia, até os magistrados, enfurecidos, por ser da administração pública, fazem greves. A justiça era naturalmente demorada. Hoje em dia, nem justiça existe. O Natal deverá ser em casa e com sopa de pão.
Queria escrever um texto mais alegre, mas a realidade o não permite. Acabo de ir as compras da semana, é bem diferente. O compramos o mínimo para matar a fome ou corremos o risco de ser pedintes.
Raúl Iturra
Dezembro 18 de 2014
lautaro@netcabo.pt
.Código para o vídeo: <iframe width="420" height="315" src="http://www.youtube.com/embed/jqkMbk8eX6Y" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
Código para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=jqkMbk8eX6Y

 

 

 

A FESTA DA INTIMIDADE - NATAL E RAMADÃO - Prof Raul Iturra

 

http://www.youtube.com/results?search_query=Tchaikovsky+O+Quebra+Nozes&aq=f

 

1. Introdução.

Normalmente, tenho escrito textos que referem esta quadra como um Feliz Natal. Normalmente. Mas, será que é uma época para falar de normalidade? Ou, porém, como vamos definir um tempo normal? Quando é que a vida social tem sido normal. Será quando agimos conforme as nossas ideias e os nossos hábitos e costumes? Mas, os hábitos, como os costumes, não mudam? Será que normalmente significa o que é conjuntural e heterogéneo? Não é por acaso que tenho usado essas palavras nos meus textos de pesquisa. O acaso é a normalidade. A normalidade é o comportamento conjuntural que estrategiza e manipula os feitos, ou factos - decida o leitor -, que constroem o mundo social e divide o trabalho entre todos nós. Estratégia que pode cair em mãos prudentes para virar os acontecimentos em favor do povo, pelo povo e para o povo, por ser a estratégia uma actividade social do povo. Estratégia que varia conforme os objectivos a atingir.

Não foi em vão que os Muçulmanos criaram o mês luar no décimo primeiro mês do ano. Para descansar, para sentir, para pensar, para festejar cada dia que avança nesse décimo primeiro mês e comemorar a capacidade de não comer todo o dia (entre o nascer e o pôr do sol), não trabalhar, não amar, meditar, estar em casa em silêncio com os seus e sair à rua apenas sob a luz da lua que mostrava a sua face, a sua cara, o seu segredo de ter levado vivo aos céus a voz de Alá, o Profeta Mamede ou Muhammed. É assim que falam no Alcorão, é assim que é ensinado nas escolas corânicas, é assim que o comenta o discípulo muçulmano de Aristóteles, Abû Nasr al-Fârâbî (ou Avenassar), para o mesmo filósofo aristotélico do Século Nono da nossa era. Capaz de dizer, na sua tradução de 1964 em Beirute, que a maior capacidade do ser humano é ser social e viver em grupos grandes ou Nações, ou em pequenos como os bairros, os grupos domésticos ou famílias. Todos têm uma mesma capacidade: um corpo que solicita, uma alma que organiza a procura do corpo. Um al-Fârâbî a definir nos seus textos, comentários sagrados para os diversos povos Muçulmanos, que a bondade é o bem absoluto do ser humano por revelar a capacidade de bonomia existente em quem é honesto nos seus sentimentos. Como o seu Mestre Aristóteles gostava de dizer no seu texto escrito em 330 antes da nossa era, para educar o seu filho Ética a Nicomaco: todo efeito tem uma causa e essa causa deve ser encontrada. Se o efeito, diz al-Fârâbî, parece ser a capacidade de viver em sociedade ou Nação, ou Gemeinschaft para nós, derivado do conceito do filósofo alemão Tönnies e usado pelo seu discípulo francês Durkheim como solidariedade mecânica, ou ditada pela capacidade de se estar junto dos outros em paz e alegria e, eventualmente, no lado oposto, com repressão pelos mesmos membros do grupo, caso a justiça não seja atingida. Paz e alegria que existe por causa da natureza humana, ou por causa da educação que o grupo social, sem lei positiva nenhuma a comandar a vida em sociedade, transmite por ter inteligência e saber que uns sem os outros são incapazes de sobreviver. Acrescenta o influente al -Fârâbî que essa capacidade de viver em sociedade se deve há existência da alma com faculdades no ser humano permitindo-lhe o uso do bem e a rejeição do mal. Porém, o mal existe se as pessoas não são corrigidas de forma fraterna e amável, como Mohamed diz que Alá, a sua divindade, manda e faz. Alá diz que o ser humano tem cinco faculdades para ser feliz, amável e conviva dos seus e da sua Nação, a Nação Muçulmana, dividida em grupos, tribos ou clãs. Faculdades simples, como a capacidade de razoar até de forma especulativa; a faculdade de razoar por causa da experiência ou o agir pragmático entre seres humanos; a faculdade de procurar o que o corpo individual diz dentro do corpo social ao qual se pertence; a faculdade de imaginar para progredir a par e passo dos outros semelhantes sem os ultrapassar, com a confiança de que esperar é uma virtude para aprender e ensinar; e a faculdade da sensibilidade para entender o que o grupo social já herdou dos grupos do antigamente e do Profeta que ensinou que há em nós a capacidade de reflectir. Porém, a capacidade de entender os animais, os corpos celestes, o comportamento, a amabilidade, a solidariedade que não precisa lei, porque o Direito foi dado por Alá e o seu Profeta. Ramadão ou Ramadã, também grafado Ramadan (em árabeرَمَضَان) é o nono mês do calendário islâmico. É o mês durante o qual os muçulmanos praticam o seu jejum ritual (suam, صَوْم), o quarto dos cinco pilares do Islão (arkan al-Islam) permite reflectir na base da faculdade apetitiva de querer saber e transferir o sabido por meio da faculdade de entender a experiência ou a razão prática que todo o ser humano tem. Ramadão permite o silêncio necessário para essa capacidade de reflectir e debater em casa o progresso dos peregrinos de esta terra que será, de certeza, entregue a si próprio e aos outros ao se mostrar a capacidade de se ser sensível. Ramadão é a festa da intimidade de si próprio e, na hora do comentário, da troca de ideias entendidas no silêncio e na abstinência do dia, abstinência de adultos e crianças, aprendizagem das duas pontas sociais do grupo. Porque essas capacidades da alma são a semente que o adulto planta na alma dos mais novos e desenvolve porque Alá é grande e sabe orientar aos seus: mal se conhece o bem, se quer fazer, fechado dentro do seu grupo social de clã, bairro ou Nação, o desenvolvimento da racionalidade da criança que leva em si a capacidade de imaginar o que o adulto diz e faz. Porém, Ramadão desde muito cedo na cronologia da vida de uma pessoa, e ao longo da vida toda. Como manda o Alcorão, a palavra escrita do Profeta que falou por Alá. Quanto mais jejum de corpo e alma, maior proximidade à bondade da Divindade. E ai, de quem queira mudar estes costumes que, faz mil e quatrocentos anos se andam a desenvolver em grupos que não precisam um Gesellschaft, lei, contrato, solidariedade orgânica ou de Direito positivo, além das mãos do grupo de convívio, como hoje sabemos por Durkheim, que existe entre todos os povos. Especialmente os europeus que ele estudou a partir dos denominados arcaicos.

2. A intimidade.

Parece como se a introdução fosse muito cumprida. No entanto precisa ser assim por sabermos pouco das festas muçulmanas que acontecem na época das nossas. O Ramadão precisa de intimidade, facto do qual sabemos pouco ou nada. Talvez, apenas, pelas notícias da guerra que têm invadido a necessária intimidade do Ramadão. Para meditar. Ou talvez, um Ramadão demasiado cumprido ao longo do tempo, quer pela invasão soviética, quer pela invasão cristã. Um jejum de introspecção e de alimentos que dificultam o semear de faculdades na alma das crianças e desenvolver as qualidades das do adulto, esse que acaba por se mostrar perante os mais novos, com a incontinência da paz na alma e ensina retaliação e vingança, quer em palavras, quer em acções, quer por falta de Direito punitivo ou por falta do Direito que fica além das emoções, nas mãos de outrem que sabe e não pune porque está escrito pela mão do homem o que deve ser feito para se conviver com os outros, em presença deles, ou na sua ausência. A existência de uma solidariedade orgânica ou pensada para a interacção de grupos sociais que racionalizaram uma troca comercial faz já muito tempo. Dentro da qual cai o Natal ou o Ramadão dos cristãos que separam o Governo da comunidade social de seres humanos. O Natal é a festa da família, de comer, de orar, de trocar presentes, de lembrar a décima segunda lua convertida em sol. O calendário cristão é romano e soube justapor à festa de Jevo ou Júpiter, a mais comemorada na época do Império Romano pela importância da divindade, o dia do Nascimento de Xristos ou Jesús. Comemoração que varia em cada uma das formas religiosas dos cristãos. Os Presbiterianos e Calvinistas ou a maior parte da Europa do Norte, lêem o Livro de Vida ou Bíblia, comentam os Evangelhos e comem em grupos de bairro ou amigos. A dos Anglicanos da Igreja Baixa, assistem à Igreja e comem em família. A da Igreja Anglicana Alta ou da Aristocracia, comemoram com uma festa religiosa, retirando-se seguidamente para casa e comem em família. A da Igreja Romana na Europa, assistem à festa religiosa da meia-noite e comem depois em família ou com amigos íntimos. Varia conforme a confissão analisada. Quando há crianças, é o Grupo Doméstico a procurar a sua intimidade que sabe será curto ao longo do tempo, procurando um convívio de pais e filhos e, talvez, avós. Ou não. Quando há avôs, procura-se a comemoração em casa ou com outros membros da sua geração. Em comum entre todas as formas religiosas cristãs, o facto que faz tempo as juntou: o comércio ou a dádiva a que ficam todos obrigados a trocar. Essa dádiva que o discípulo do invocado Émile Durkheim, Marcel Mauss, denominou a obrigatoriedade do presente que nem por isso se faz de forma alegre ou feliz. Até às vezes, com um certo desapreço, como diz o autor invocado, nas suas conclusões, quando fala da obrigatoriedade da prenda de Natal. Essa que acaba por não ser nem dádiva nem meditação íntima, mas sim, uma obrigação para se ficar gessellchaftemente bem perante os outros e, eventualmente, com um certo apreço pelo auto estima que soube cumprir o que a solidariedade mecânica manda. Onde, pois fica a, intimidade na festa Ramadão e Natal, se é apenas comércio? Intimidade e recolhimento familiar, nem por isso….

 

3. Feliz Natal?

E como? A seguir a estas ideias? A entender que nos governamos no Ocidente pelo que é mais conveniente e não pelo amor meditado? Onde os pais, mais velhos, são expulsos da festa familiar enquanto os mais novos cultivam a sua geração ao fazer uma intimidade com eles? Ao se saber que temos lares de idosos que ardem e não têm nem licença nem seguro? Ao sabermos que houve um 11 de Setembro (2001) a exprimir a raiva da subjugação e da intrusão dos poderosos dentro da solidariedade mecânica - orgânica dos mais tecnologicamente atrasados que estão a viver um Ramadão de mais de vinte e cinco anos de duração por causa do incremento da guerra de Nações mais forte e melhor armadas? Que o nosso Presidente não foi recebido pelo Buttler inglês da Nação mais poderosa de armas nucleares do mundo? Que a seguir ao Natal vamos ter que cancelar o Visa a juros muitos elevados por causa da guerra? Felizes serão os que vão fugir dentro da Missa do Galo à consoada meio pobre/meio sem prendas que vamos ter? Feliz Natal com a tristeza de sabermos que houve mortos dentro dos símbolos do poder dos Estados Unidos?

  • Feliz Natal? Com tanto Casal Ventoso e Orçamento Rectificativo ou como seja que se denomine à necessidade de termos moeda porque as indústrias fugiram para a Europa de Leste? Com a globalização? Amargo o real? Feliz Natal com milhões de seres humanos a não comemorarem o seu Ramadão ou porque estão a ser bombardeados ou porque pactuara com o mundo do Natal? Feliz Natal? Só se o leitor tiver ficado elucidado do que significa o Ramadão. E chorar com eles. Com esses que não têm o equivalente em intimidade e em reflexão, como os Cristãos, Romanos ou não, vão comemorar? O leitor comente, tome a palavra e decida sobre as injustiças da vida…na quadra denominada santa e de reflexão...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

NATAL, OS PRESENTES DAS CRIANÇAS: LIÇÕES - Prof Raul Iturra

 

para Camila, filha companheira, o seu marido Felix e para seus filhos May Malen y Javier Salvador Raul, meus novos netos britânicos

http://www.youtube.com/results?search_query=Tchaikovsky%20O%20lago%20dos%20cisnes&search=Search&sa=X&oi=spell&resnum=0&spell=1

Tchaikovsky Suite do Bailado 'O Lago dos Cisnes' 1 e 2

  1. Sonata introdutória.

Perguntou-me um dia uma estudante da minha Universidade portuguesa: Senhor Professor, porquê estuda crianças: A minha resposta foi breve: porque sou pai. A seguir, proferi uma explicação mais cumprida. Não é apenas sermos pais, é o que as crianças nos ensinam. Até parece que não por serem pequenas. Até parece sermos nós os que dizemos as sabidas coisas da vida. Sabidas coisas, um conceito que substitui todas as ações e aventuras na interação da experiência da vida, dessa interação que, por habituados como a ela estamos, esquecemos de refletir. Reflexão que nem nos faz mal. Bem ao contrário, uma reflexão a ajudar a crescer a nós, adultos, a partir das crianças. Crianças adultas e crianças a crescerem. Como as filhas que tantos de nós pais, temos. É verdade que a simplicidade e o carinho, a honestidade e a lealdade são parte da vida que nós praticamos e transferimos para a nossa descendência. Essa descendência que começa a aumentar sem nós darmos pelo facto. Um dia somos filhos, anos virados, somos autónomos e indivíduos, anos depois, caímos no chão de um amor que acompanham os nossos afetos, a nossa emotividade mais íntima. E, dessa intimidade, aparecem os primeiros descendentes que fabricamos. E não é um erro de estrangeiro dizer fabricamos, são feitos do amor à pessoa que os leva no seu corpo durante meses e que do seu corpo os alimenta. Essa intimidade partilhada entre os pais perante a criança nascida, pais a olharem-se no bebe, a ouvirem essas primeiras palavras, a brincar com canções que ensinam palavras, essas crianças a andarem atrás de nós, sem nós sabermos as vezes. Mais tarde, vão à sociedade, começam a fazer parte de um grupo que conhecemos enquanto eles interagem e falam sem nos ouvirmos, mas a sabermos pelas mudanças das atitudes que as crianças, essas nossas crianças, passam a ter. E os sarilhos fora do lar, começam. E vão aumentando ao inserirem-se mais nas atividades longe de nós. Como pais, ouvimos o que nos é referido e com firmeza e na linguagem da idade que fala, opinamos para a pequenada nossa optar. Optar ela, não nós por elas.

 

2. Primeira lição: pai, ouve.

 

Saber ouvir. Saber entender as palavras das histórias referidas ao calor do lar ou mesmo ao calor do debate que essa filharada tem com os seus pares. Há as crianças que adotam aos pais como aliados nas suas dificuldades para se inserir fora do lar. Sentem que esses adultos vão punir ao parceiro que debate com ela, que vai esgrimir as luvas de boxe para esmagar aos adultos do rival, vão salvar a sua vida de entre as alternativas cruzadas nas vias da vida, alternativas desencontradas a desnortear os seus sentimentos e o seu raciocínio, a sua razão, os seus sentimentos. Não é mentira a frase que diz: o meu pai bate no teu e ganha, a minha mãe sabe cozinhar melhor do que a tua e outras que vão dizendo ao largo da vida. Ou, esses ciúmes que os descendentes têm se os pais mostram afetividade entre eles sem incluir o seu pequeno corpo entre os corpos deles com carícias, ou, ainda, nas atividades que os pais realizam dentro de casa ou entre os seus próprios pais. A criança dá-nos uma primeira lição: já não somos dois a vivermos sob o mesmo teto, somos três, quatro ou cinco ou mais. Cada individualidade, entrelaçada na individualidade do outro. Nunca uma por cima da outra para mostrar que é mais querida ou mais preferida. A lição é simples: somos um conjunto de pessoas a experimentarmos a vida de forma diferente dentro de conceitos compartilhados e afeitos unificados, mas entendidos conforme a acumulação da experiência explica ao mais novo o que esses conceitos e sentimentos querem dizer ou significam. Pais alertas ao facto da heterogeneidade de gerações em convívio dentro dos laços de amor ou de emotividade que uma família modelar, parece ter. Pais alertas a modificarem a sua linguagem e a sua forma de dizer para ter um lar e não uma sala de debate, uma sala de interrogações, uma sala que vitimara aos descendentes, aos filhos. Sem espreitar entre os arquivos que a infância entesoura com prazer, tesouro acumulado a definir a sua trajetória na vida. Tarefa difícil que dura anos determinados, até a criança começar a andar só pela estrada da vida, apoiada nas emoções guardadas dentro de si pelo saber falar dos adultos entre eles e incluir na conversa os mais novos. Palavras e frases que adultos pais sabem e aprendem, visão do mundo a adquirirem pela observação feita da vida ao seu cuidado, a dos filhos que, cedo demais, entram no convívio com o social. Lição que eu denominaria de amor e entendimento, de humildade para aceitar a experiência dos mais novos e incuti-la dentro de si. O adulto guarda sua criança nesses conceitos e os desenvolve a par e passo enquanto a criança é socializada por outros.

 

 

2. Segunda lição: pai, eu existo.

 

Crianças que aprendem com os outros. Sempre nós, adultos, orgulhamo-nos em pensar e dizer quanto transferimos do nosso ego para os filhos. Se reparar o contexto dentro do qual esse outro, o filho, abaliza o nosso saber. De certeza há a idade onde os pais são a primeira e última palavra...parece. Para pais e filhos, parece. E o médico, e os primos, e os avós, e os filhos dos amigos, e esses mesmos adultos amigos dos pais? As histórias, os brinquedos, a música, a situação económica do lar comparada à economia das outras famílias, parentes, vizinhos e amigos? Não é destemido dizer que a aprendizagem é sempre social. Não é destemido dizer que a criança, desde o dia do seu nascimento, é uma entidade social. Mal saem dos nossos corpos, esses pequenos são já o bebe social, porque pertencem ao mundo dos pais e das suas famílias. Vão vivendo com eles o pensar, o dizer, o sentir. As formas de agir entre milhares de pessoas a povoarem os dias da vida. É o adulto que tem a tendência a guardar a criança para si. Com amor, com orgulho, com um sentido estrito da disciplina, com um sentir estrito de posse sobre o pequeno. Posse que nasce do amor que um progenitor é dizer, um gerador de vida -, sente. Apenas pelo facto da lei entregar a criação da miudagem aos adultos crescidos. A lei manda um estado de inocência nos menores de sete anos, uma responsabilidade até penal pelos delitos que os mais novos podem cometer, a entender ou não o que fazem. Posse que esses pequenos nos ensinam não existe: apenas a obrigação do adulto indicar que o dinheiro dos outros, aos outros é que pertence. Medite o adulto como a criança é sabida, até ao ponto de reclamar pelo que desgosta ou de gritar pelo que deseja e que o adulto estima não deve ser atingido. Ou, o adulto entenda que há uma contenda, um debate entre ele e o mais novo para impedir lesões corporais, para impedir lesões emotivas. O papel dos pais é o de serem mestres da vida. É a outra oferta que a pequenada nos entrega: não serem mimados, mas docemente orientados e saber ouvir com serenidade a gritaria que produz a frustração de querer atingir um objecto ou um presente e não poder obter. Reflexões dos adultos para saber que o amor evidencia-se no amparo da pessoa pequena que tem os seus próprios objectivos retirados dos recursos do lar e da forma que os seus adultos os usam. A oferta é a paciência de sermos a trave mestre entre o social e o indivíduo que começa a entender.

 

 

3. Terceira lição: pai, quero saber.

 

Trave mestre. Transferência da experiência de vida. Explicador carinhoso da interação com outros. Para começar, com a mesma família dentro da mesma casa, com os irmãos os melhores rivais que a vida entrega a um ser humano. Especialmente, se são irmãos de género e idades diferentes, ou mais preferidos pelos adultos a viverem por perto. O adulto deve entender não ser um modelo para o agir do pequeno, apenas uma indicação. A arrogância da vida adulta é agir como corrector de provas dos que estão a experimentar o quotidiano. Arrogância nascida dessa entrega mais acima mencionada, que a lei faz dos mais novos. Ou que o amor e a paixão entre dois, geram. O adulto dentro do lar é a pessoa mais amada e temida que um ser novo pode ter. Porque não ensina: corrige. Castiga. Desorienta. Diz amar e esquece. Queira o adulto ou não. Os seus objectivos de vida passam a ser mais importantes que educar sua descendência de forma harmoniosa. Educação estimada como dever e não como parte do objectivo da vida adulta. Objectivo complexo ao envolver o entendimento do contexto dentro do qual os seres gerados e criados, vivem. Contexto estendido para além do lar e reflectido dentro do lar. Apenas com esta lição, a criança, já adulta, é capaz de dizer depois como é importante saber o sentimento do outro e respeitar esse sentimento para não ferir. Apenas uma criança orientada e não possuída, é capaz de ser um adulto jovem que ensina ao adulto maduro a importância de não falar a mais, de não dizer o que a outra pessoa não entende. Lição difícil de aprender: é bem mais fácil, tenho observado, gritar, bater, ignorar, fechar-se nos deveres do trabalho fora de casa com a justificação de ser esse o trabalho que alimenta à descendência.

 

 

4. Coda final: pai, eu dou.

 

Descendência que é, colegas pais, o nosso melhor carinho, o nosso melhor ensino, o nosso melhor amor. A paixão entre adultos acaba, o amor pode-se partir, o carinho pode ficar à distância. Mas, o amor pelos filhos, continua se entendermos que aprendemos de eles tanto e quanto eles de nós. Como Antropólogo especialista em etnopsicologia da infância - parece duro dizer, mas é verdade -, as crianças dos nossos filhos passam a ser a nossa observação participante da vida. Aprendemos deles as formas de crescerem e entenderem o mundo e as ideias que de essas cabeças, nascem ao ritmo da aprendizagem. É a oferta de Natal que, nestes meus anos de idade, os meus filhos me fazem: acompanhar, entender, aceitar, mostrar como a vida é diferente entre a geração de eles e a nossa, como a nossa juventude não elo nenhum para a experiência da juventude de eles. Nós, maduros já, precisamos aprender que tornamos a estar sós no crescimento das crianças e na sua conversão em adultos que opinam, ouvem, calam e apenas dizem se for conveniente para esse adulto, que já não muda, entender. As crianças passam a ter as suas vidas autónomas depois de ter tido vida independente ao calor da orientação dos pais. Eis o prazer da vida, sermos acompanhados por uma juventude adulta capaz de entender as desorientações dos adultos que sonharam serem os proprietários dos pequenos, os seus corregedores e não apenas os seus orientadores. É o que agradeço à minha descendência que já vai no primeiro neto. Não é o neto o presente de Natal, é as formas de entender o mundo, o que me orgulha neles. E não apenas dos descendentes consanguíneos, bem como todos esses que tenho adoptado ao longo da vida, enquanto trabalhava com eles para entender a criança e assim entender a interacção social. Feliz Natal, filhos! Feliz Natal, colegas pais! Obrigado pelo presente de serem adultos que entendem e acompanham sem trespassar os limites da minha intimidade e da intimidade deles. Descendência que vive em todos os cantos do mundo pelo qual tenho andado a observar a vida através deles. Obrigado pelo lindo presente, materializado nesse dia precioso quando esta minha filha me quis levar no meu carro, conduzido por ela, entre Mafra e Ericeira, para ser assim eu a ter o sabor de observar a paisagem do entardecer e não estar sempre subordinada a dar prazer a ela. Essa filha que se orgulhou de ouvir um pai, o seu, proferir uma conferência sobre crianças e teve a humildade de dizer o que tinha apreendido além do amor paterno - filial. Essa intimidade que apenas os filhos orientados e não subordinados, são capazes de dizer, com um sorriso bondoso e de carinho na linda cara jovem de quem conduzia o meu carro. Senti-me completo. Tal e qual a sua mãe também se sente. Com essa filha orientada, tal e qual a outra, nascida no Dia de Reis, faz já mais do que vinte anos. Tal e qual me senti completo quando a minha estudante perguntou porquê eu estudava crianças: Ana, é porque sou pai e não Pai Natal. Apenas um pai a apoiar com o meu comportamento, penso.

Bibliografia.

Este texto foi escrito ao som do voo do avião que levava de regresso a minha filha a sua casa na Grã-Bretanha. Texto também retirado dos meus Diários de Trabalho de Campo e de meu Diário Pessoal. Bem como de:

Iturra, Raúl, 1996: (Org. e autor) O Saber das Crianças, ICE, Setúbal.

(19971ª edição) 2007 2ª edição acrescentada: O Imaginário das Crianças. Os Silêncios da Cultura Oral, Fim de Século, Lisboa.

1998: Como era quando não era o que eu sou. O crescimento das Crianças, Profedições, Porto.

1999: O Saber sexual das crianças. Desejo-te porque te amo, Afrontamento, Porto.

Murray, Lynne e Andrews, Liz, 2000: The Social Baby, CP Publishing Richmond, Surrey, Grã-Bretanha.

1999: The Children’s Project, CP Publishing Richmond, Surrey, Grã-Bretanha.

Opie, Peter E Iona, 1988: The Singing Game, Oxford, Grã-Bretanha.

2000: Babies An Unsentimental Anthology, John Murray, Londres.

Vieira, Ricardo, 1998: Entre a Escola e o Lar, (1992), Fim de Século, Lisboa.

Sampaio, Daniel, 2000: Tudo o que temos cá dentro, Caminho, Lisboa.

Raúl Iturra

21 de Dezembro de 2013

lautaro@netcabo.pt