E não tenhamos dúvidas. Os doentes que morreram sem tratamento atempado são todos pobres. Porque só os pobres em Portugal não têm opção de escolha.
A pandemia esconde muitas coisas más mas também destapa muitas coisas más. Uma delas é o país ter oferta hospitalar no sector público e no sector privado e social e por razões ideológicas deixa-se morrer pessoas sem tratamento.
É uma vergonha que os partidos que defendem a proibição da liberdade de escolha não tirem agora as conclusões que se impõem e não se responsabilizem por estas mortes. Até porque na Europa o direito à saúde é universal e gratuito para o cidadão.
Não damos lição nenhuma aos países na Europa que vão na frente e onde a qualidade de vida é uma realidade há muitos anos.
Devíamos enquanto país pedir desculpa a estas famílias enlutadas.
As mortes deixadas para trás devidas às doenças não-covid.
É que temos esta coisa extraordinária que não causa o desconforto que devia causar: reconhece-se que 12 milhões de consultas e cirurgias não vão ser feitas em 2020. Quantos mortos não covid estão aqui escondidos? Quantos mortos cardíacos, oncológicos e outros? Porque é que a cardiologia e a oncologia, os maiores inimigos de sempre e que, mesmo agora, continuam a matar muito mais do que epidemia, são esquecidos?
Governar é priorizar alternativas . Devolver mais depressa os salários à administração pública à custa da qualidade dos serviços do Estado é uma alternativa que alguém queira a não ser os próprios ? E agora os professores (é preciso analisar bem como se fazem as progressões de carreira dos professores e dos funcionários o que nos trás enormes surpresas) querem o mesmo.
Tudo à custa dos mortos nos incêndios e nos hospitais ( legionella e listas de espera ) e da alimentação das crianças nas escolas públicas. Era então esta a alternativa ?
Depois de termos assistido ao colapso do Estado como supervisionador e regulador, com o que se passou na banca, com a promiscuidade entre negócios públicos e privados, – para dizer o mínimo sobre aquilo que andamos a saber com a Operação Marquês –, e alguns contratos de concessão, com especial relevo para o sector eléctrico, estamos agora a testemunhar a falência do Estado nas suas funções nucleares. Dos favores e da corrupção passamos para a fase da destruição do Estado por falta de dinheiro. E tudo isto são escolhas nossas.
Em 2014, foram infectadas 375 pessoas por "Legionella", das quais 12 viriam a falecer, vítimas da infecção, com origem em empresas do sector privado.
Hoje, temos umas dezenas de casos reportados, com duas mortes já confirmadas, vítimas de "Legionella", tendo o foco infeccioso, tido origem dentro do próprio hospital, público, onde supostamente estas infecções, deveriam ser debeladas.
A Ordem dos Médicos, entretanto, publicou hoje mesmo, um comunicado oficial, onde reporta que estas infecções no hospital S. Francisco Xavier, se devem aos cortes feitos pelo actual governo, nas despesas orçamentadas para as rubricas de trabalhos de manutenção e reparação.
Sobre estes factos, nem uma palavra se ouviu nem da parte de quem governa, nem dos partidos que apoiam o governo. É o mais absoluto silêncio.
Mas, face ao já habitual procedimento e miserável e hipócrita conduta, da parte de quem nos governa, assim como da parte dos partidos PS, PCP e BE, assim que alguém tiver a coragem de vir a público criticar, condenar, e exigir responsabilidades pelo que se está a passar no Hospital Francisco Xavier, aposto que iremos presenciar o seguinte:
- iremos ouvir dizer da parte de quem governa e quem lhes dá apoio, que quem critica não tem "direito moral" para criticar seja o que for, ou então que deviam era estar bem caladinhos, pois em 2014 morreu muito mais gente, e em 2017 "ainda só morreram" 2 pessoas, e assim sendo, até estamos é perante uma "melhoria"!!!!!!
- iremos igualmente ouvir, da parte de quem governa, e da parte daqueles que lhes dão o apoio, que: "qualquer menção a estas mortes, qualquer exigência ao governo para dar explicações públicas para o sucedido, e qualquer tentativa de responsabilização de quem governa, é "aproveitamento político".
Há crime ? A bastonária da Ordem dos Enfermeiros quer saber o que aconteceu para que esta tragédia tenha acontecido e solicitou à PGR uma investigação.
Pelo menos para se saber o que aconteceu e se há incúria ou responsabilidades e de quem.
Os Serviços Públicos sofrem na pele as "cativações" de Centeno numa austeridade escondida que começa a chegar à luz do dia. As vítimas dos incêndios e agora as vítimas do SNS. É demasiado mau.
Ana Rita Cavaco pede a Joana Marques Vidal que "intervenha em nome das 2605 pessoas que morreram em lista de espera". E diz: "Os nomes não sei, para o caso não preciso saber. São pessoas e isso basta-me. Podia ser qualquer um de nós." Sublinha ainda que "o tempo de vida não pode ser o tempo da política. E as decisões políticas não são imunes à ação da Justiça".
Não vale tudo e Marcelo tem que intervir . Chega de malabarismos orçamentais.
Não sabemos o número de vítimas mortais passado um mês da tragédia dos incêndios. As pessoas desaparecidas já apareceram ? As vítimas internadas nos hospitais algumas delas gravemente feridas estão livres de perigo ou morreram ? São as tais vítimas indirectas que não entram na lista oficial ? Está tudo doido .
Agora temos a "lei da rolha" que filtra os esclarecimentos à nação. Há mais uma vítima mortal, mas segundo a "central nacional de comunicação" não cabe nos critérios. Quem definiu os critérios ?
Há mortos directos e indirectos, estes últimos não sabemos quantos são nem quem são , muito menos como morreram e onde, mas o primeiro ministro diz que em relação ao incêndio de Pedrógão está tudo esclarecido . Como é isto possível no Portugal democrático ? Ninguém se indigna ?
Então os comandantes no terreno que comunicam com os seus homens e tomam decisões muitas vezes de vida e de morte não têm competência para comunicar directamente com o povo ? Ensandeceram ?
Em reação à notícia, a Autoridade Nacional de Proteção Civil reiterou hoje que o incêndio do mês passado em Pedrógão Grande fez 64 vítimas mortais, em "consequência direta" do fogo, e que outros eventuais casos não se integram nos critérios "definidos".
Mas ainda há "eventuais casos" ? Eventuais mortes para sermos mais directos ?
Pela voz dessa estadista de mão cheia que dá pela graça de Ana Catarina Mendes, o PS veio indignar-se porque Passos Coelho cometeu uma "gafe" falando em suícidios que não existiram. Ao mesmo tempo o PS apressa-se a enterrar os mortos na tentativa de fazer morrer qualquer reacção inesperada das populações. É que as autárquicas estão à distancia de três meses .
Estamos assim nesta, Vanessa. Lamentável é a gafe não são os mortos nem os 200 feridos, há que meter isto na cabeça dos que sofrem. Basta ler o DN para se perceber que a campanha está em curso.
Toda a indignação com os falsos suicídios, nenhuma indignação com os mortos.
Tenta-se a todo o custo salvar o perfil sorridente e cheio de sorte de Costa. Com Costa tudo corre bem e essa imagem não se pode perder . Mas Costa foi há 12 anos ministro das florestas e agora é primeiro ministro, primeiro responsável pelo que acontece no país. Há que enterrar a responsabilidade de Costa com os mortos.
Se só 13% dos incêndios têm mão criminosa porque é que todos os anos nos vendem a cantiga do incendiário ? Não sabem ? Mas há estudos que confirmam. Sabem ? Então porque insistem na mentira? É absolutamente necessário saber. Se o estado não faz em décadas o que devia fazer ( e todos sabem o que é preciso fazer) então estamos perante um crime de Estado.
Hoje Louçã vem acusar António Costa de não ter actuado com a necessária rapidez . Tentou travar o prejuízo político descendo ao terreno . Presidente, primeiro ministro, ministra e secretário de estado quiseram circunscrever o incêndio político que lavrava, ganhar tempo apontando para as circunstancias singulares.
Mas as razões que rapidamente foram adiantadas ( a PJ já tinha encontrado a razão da ignição) foram ainda mais rapidamente desmentidas quando a população começou a falar. Tinham morrido 34 pessoas numa estrada seis horas depois do início do fogo. O SIRESP não funcionou.
Olhando para aqueles carros calcinados percebe-se bem a desorientação que os fez embater uns nos outros e ficarem prisioneiros no inferno.
Mas a mais terrível acusação é o PCP dizer que aquelas mortes podiam ter sido evitadas se os governantes tivessem olhado para as suas propostas.
Quem pode confiar no que nos dizem ? A última vez que nos vendiam o paraíso, corríamos nós para a bancarrota.
Fogos teremos sempre mas podemos fazer muito para que não atinjam a dimensão dantesca do desta madrugada . Mas o muito que se pode fazer faz-se no inverno prevenindo .
Desde o tipo de arvoredo até à limpeza das matas. À vigilância, à abertura de acessos e às fontes de água para o combate.
Uma notícia há tempos chamou-me a atenção . Um eucaliptal tinha sido roubado. Isto mostra que foi possível, cortar as árvores, rechegar, carregar em camiões e transportá-las. Ora todas estas operações exigem máquinas pesadas, visíveis, altamente ruidosas mas, no entanto, ninguém deu por nada. Tal é o abandono.
O fogo pode, pois, começar o seu caminho que só será travado quando estiver em pleno desenvolvimento . Na primeira hora avança a 30 kms/hora a partir daí acelera para 100 kms/hora. É por isso que os nossos abnegados bombeiros o esperam à beira da estrada ou junto do edificado. Até lá nada ou pouco há a fazer.
Desta vez um conjunto de circunstâncias excepcionais elevou os prejuízos e as mortes para números impensáveis. Mas o rastilho sempre lá esteve e vai continuar a estar. Tomar medidas corajosas e impopulares é bem mais difícil do que debitar palavras de conforto perante as câmaras de televisão.
Por muito que se chore as lágrimas não apagam fogos.
Os profissionais de Santa Cruz dizem ao Expresso que as duas mortes de doentes em fila de espera foram empoladas. Manuel Antunes, presidente do Colégio de Cirurgia Cardiotorácica, diz que se está a fazer muito barulho com algo que sempre acontece, aconteceu e acontecerá: A morte de doentes em fila de espera. " Já me morreram dois ou três doentes no dia da cirurgia e eu nem sequer tenho fila de espera". E doentes mais jovens. Diz ainda o reputado cirurgião " Se utilizarmos tudo o que está disponível para dar mais um ano ou dois de vida aos muito idosos, o orçamento da saúde será só para eles".
Mas os jornalistas de "investigação" e a oposição resolvem isto sem aumentar despesa e sem aumentar impostos. E mesmo sem cirurgiões. Perguntem ao Seguro e ao Costa e vão ver como eles juram que quando forem governo vão tratar do assunto.