Ancorado numa suposta superioridade moral, o Bloco distribui juízos de valor sobre adversários e sobre os agentes económicos e sociais que deles discordam, transformando o debate num combate moral e não político.
O Bloco não se limita a discordar das propostas da direita, o Bloco acusa-a de defender interesses escondidos. O Bloco não se limita a propor alterações legislativas, o Bloco acusa quem a elas se opuser de estar ao serviço de forças obscuras. O Bloco não se limita a defender o direito à habitação, o Bloco acusa proprietários de querer esmagar os mais pobres. O Bloco não se limita a defender um modelo económico, o Bloco acusa qualquer proprietário de ser ladrão porque a propriedade é um roubo. O Bloco não se limita a defender os serviços públicos, o Bloco acusa a iniciativa privada de ser imoral.
Jerónimo de Sousa, Catarina Martins e Francisco Louçã roçam o ridículo quando tentam suavizar a gravidade do que se está a passar no Brasil. Em desespero tentam desviar a atenção de um caso de corrupção de políticos da sua área politica, apontando o dedo ao imperialismo americano e ao capitalismo. Mas corrupção é corrupção. Ponto final, parágrafo.
É bom que a extrema esquerda partilhe a governação em Portugal como já hoje é evidente na Grécia. Acabaram, se é que ainda existiam, os amanhãs que cantam. Mas para estes cegos há sempre um culpado....
(...)PCP em que é dito que "os recentes desenvolvimentos no Brasil não podem ser desligados do aprofundamento da crise do capitalismo", que no Brasil "os seus sectores mais retrógrados e antidemocráticos promovem uma intensa operação de desestabilização e de cariz golpista", que agem "por via da instrumentalização do poder judicial e da acção de órgãos de comunicação social", para uma "acção de desestabilização indissociável do conjunto de manobras de ingerência promovidas pelos Estados Unidos".
Mas igualmente grave é a declaração feita por Catarina Martins de que a acção da Justiça brasileira é um "golpe de Estado do século XXI", acusando "um poder judicial, com órgãos de comunicação social, que está a agir fora do Estado de direito". Ou a relativização feita por Louçã na SIC, em que tentou reduzir ao ridículo as investigações.
Esta gente é capaz de dizer tudo para mentir ao povo que dizem defender
Porque razão é assim ? (...) Antes de ser um problema financeiro e conjuntural, a reforma do Estado é uma questão moral. Por que razão o funcionário público tem uma mão cheia de privilégios em relação ao cidadão comum? Por que razão não pode ser despedido mesmo quando se torna excedentário? Por que razão trabalha menos 5 horas por semana? Por que razão tem a melhor parte do SNS (a ADSE)? Por que razão o cálculo das pensões da CGA é muitíssimo mais favorável do que o cálculo da Segurança Social? No fundo, por que razão vivemos num regime que consagra uma aristocracia, o funcionalismo público? Com ou sem troika, estas questões morais deviam ser atacadas pelo governo português; mesmo que não vivêssemos um cenário de falência, estes privilégios das corporações deviam ser extintos, porque são injustos antes de serem insustentáveis. O Estado tem de ser reformado por uma questão de justiça e não por uma questão aritmética; o funcionalismo deve ser reformado porque é um factor de injustiça e não por causa do "estado de emergência" financeiro. Incapaz de sair do economês, Passos nunca teve a coragem para assumir esta posição moral. O primeiro-ministro refugiou-se no tem-que-ser-por-causa-da-troika, perdendo assim a oportunidade de abrir o popular debate sobre os privilégios das corporações do funcionalismo público.