Na verdade Mário Soares foi o mais importante travão do caminho comunista "Rumo à vitória" de Álvaro Cunhal. É, pois, natural que os comunistas lembrem isso mesmo, " as profundas diferenças políticas " . Nada mais correcto.
O que há a dizer é que do lado de Mário Soares estavam (estão) mais de 80% dos portugueses, repetidamente confirmados em 40 anos de eleições.
PS e PCP têm ideias antagónicas sobre a organização politica da sociedade. Mário Soares nunca concordou com a chamada " unidade de esquerda". Por mais de uma vez deu a sua carreira política às balas correndo o risco de estar contra a corrente maioritária. Avançou para Presidente da República com apenas 8% de apoio nas sondagens. Mas recusou sempre juntar-se ao PCP para o que teve que confrontar-se com outro político de envergadura - Salgado Zenha.
A resposta é dada pelos factos: em 22 anos de maioria numérica de esquerda, nunca houve governos de maioria de esquerda porque o Partido Socialista nunca deixou. Porque o Partido Socialista nunca aceitou coligar-se com o Partido Comunista.
Por outras palavras, a recusa da “maioria de esquerda” foi um traço constitutivo do Partido Socialista de Mário Soares. Ele pensava que o que separa o PS do PCP não são meras divergências políticas de circunstância, mas sim dois conceitos de sociedade. Não estão no mesmo campo no que diz respeito à democracia e à liberdade.
Os actuais líderes socialistas não estão obviamente impedidos de romper com esse legado do PS. Mas manda a decência que digam publicamente que estão a fazê-lo. E mandam as boas práticas democráticas que os eleitores possam a curto prazo dar o seu parecer sobre o tema.
Pior do que perder é não saber perder. O que o PS está a querer fazer é um golpe de estado constitucional. E, pior, o que tenta afronta o essencial da votação do povo português . Por maioria absoluta ( PSD+CDS+PD) os portugueses votaram nos partidos que apoiam a permanência de Portugal na União Europeia, no Euro, no Tratado Orçamental e na Nato.
Não seria um governo. Seria uma vergonha que não passará.
Sócrates não quer ser remetido ao silêncio, isso seria deixar de estar no centro da política. Aliás, Sócrates é o primeiro a dizer que o seu caso é político. E Mário Soares diz o mesmo, até quer amarrar Cavaco Silva.
Mas António Costa diz o contrário. "Deixemos a Justiça funcionar".
Qualquer uma destas hipóteses passa em primeiro lugar pelo PS. Aliás, já há algumas semanas que Sócrates centra toda a sua pressão sobre o PS. A recente ‘entrevista que não é uma entrevista’, tal como as cartas da prisão, não passam de peças desse medir de forças entre Sócrates e a liderança socialista.
Mário Soares vai ao ponto de ameaçar o Presidente da Republica. Daqui a uns meses Cavaco pode estar na mesma situação de Sócrates. Ora para Mário Soares admitir que Cavaco poder estar na mesma situação, isto é, preso, é necessário que Mário Soares saiba alguma coisa que escapa a todos os outros . Ou então admitir que a Justiça pode prender alguém, incluindo ex- Primeiros Ministros e ex-Presidentes da República sem qualquer razão ou indicio.
Não fosse estarmos perante um ancião, cuja lucidez empalideceu há muito e teríamos fortes razões para estarmos preocupados. É que andamos todos aqui convencidos que vivemos em Democracia, com separação de poderes, e que não é por o Presidente da República estar protegido pela função que não está preso é por não haver nenhuma das razões previstas na Lei.
Cumplicidades ? Nenhumas. Favores ? Nem pensar . Depois da Câmara de Lisboa sabemos agora que um dos grandes mecenas da Fundação de Mário Soares foi Ricardo Salgado.
É cada vez mais claro que ninguém sabia nada até há três anos atrás. Um circuito fechado, que unia o poder político com o económico e com a cumplicidade actica da comunicação social impedia que se soubesse o que corria mesmo à frente do nariz de nós todos.
As escutas destruídas, os processos arquivados, as empresas públicas destroçadas são apenas a ponta que se vê dum regime abocanhado por corporações de interesses instaladas. Os que montaram e desenvolveram este estado paralelo dão-se agora como donzelas desiludidas.
Bastaram três anos para que uma Troika odiada, mas independente da rede, furasse o cerco e mostrasse o lamaçal.
As declarações de Mário Soares à porta da prisão onde está Sócrates mostrou a natureza do pensamento dos socialistas. O país é de todos mas a República é dos socialistas. Logo após o governo de Passos Coelho ter entrado em funções e tendo como programa um contrato internacional assinado por um governo socialista, o PS apressou-se a exigir eleições antecipadas. Não há mandatos eleitorais quando o PS está fora do poder.
As inflamadas palavras de Mário Soares, após a visita a José Sócrates na cadeia de Évora, fazem lembrar esta forma de ser e de estar dos republicanos de antanho: a Justiça funciona bem quando investiga Duarte Lima, Isaltino Morais, Luís Filipe Menezes ou Abel Pinheiro; mas quando se atreve a deter um ex-primeiro ministro socialista, só pode estar ao serviço de uma conspiração. Muitos socialistas partilham desta forma de pensar, mas apenas Soares a poderia expressar em voz alta, com os termos que usou.
Mas esta é uma estratégia perigosa para a Democracia. Se um partido como o PS, com a importância e responsabilidades que tem, questionar a efectiva existência de separação de poderes em Portugal, o que farão doravante os outros partidos quando algum dos seus dirigentes for detido? Queremos mesmo ir por esse caminho, enquanto sociedade?
Parece um bando de pardais à solta a tirar partido da senilidade de um homem de 90 anos. Já apareceram outros na comunicação social a dizer o mesmo numa barragem concertada. Há que lançar o descrédito sobre o Juiz e o inspector da PJ. Quem melhor para o fazer que Mário Soares ao abrigo dos seus 90 anos e de uma certa condescendência?
Um ataque ao PS, assim sem mais. Uma bandalheira contra a qual estão todos os socialistas . Mário Soares ataca a Justiça e inverte as prioridades. Sócrates merece a presunção de inocência mas o juiz de instrução, não.
As palavras de Mário Soares à saída da visita ao estabelecimento prisional de Évora, são tudo o que António Costa não precisa. Segundo o ex-presidente da república trata-se de uma perseguição ao PS, conta o qual todo o PS está contra. Esta é a pior forma de por as coisas, colocar o PS em confronto com a Justiça. É que não será a primeira vez, já no caso Casa Pia foi assim que um dos seus foi recebido em apoteose na Assembleia da República.
Falta agora que a investigação encontre factos ocorridos durante os governos de Sócrates e que outros ex-governantes sejam enlameados. O que dirá Mário Soares ?
Entretanto, o advogado de Sócrates está a preparar o recurso fundamento em "questões substanciais". É importante que o faça o mais rapidamente possível. A bem de Sócrates e da Democracia.
O Dr. Mário Soares dá enormes calinadas e nem sequer se apercebe delas. Disse-me uma vez um psiquiatra que "enquanto o doente percebe que está doente a doença não é grave, o pior é quando já não tem consciência disso." É o que se passa com o Dr. Mário Soares que em Olhão declarou que " o governo não passa de Setembro e que os ministros poderão ter que sair do país." Deduz-se que pelas mal feitorias praticadas, ao abrigo do acordo que o seu amigo José Sócrates assinou com o FMI e as Instituições Europeias.
Manifestamente não tem consciência que sair do país foi justamente o que aconteceu a Sócrates. Foi estudar filosofia para Paris. Aliás, lembro-me bem, que perguntado sobre a questão, Soares respondeu mais ou menos assim "que Sócrates tinha feito muito bem em ter ido para fora" como quem diz, "enquanto a borrasca passa."
Não satisfeito ( ou muito satisfeito) atirou-se a Seguro que teve o desplante de enfrentar o "seu candidato", o qual é apoiado pelos "donos disto tudo". Já quando um dos "donos disto tudo" caiu, Soares apressou-se a vir a terreiro garantir "que o governo estava lixado por se ter metido com a excelência" .
Este governo mexeu em muitos interesses poderosos que cresceram à sombra de Soares e dos seus governos. Acham que aceita se eu lhe aconselhar o meu psiquiatra?