Colocado por Raul Iturra em 22 de Fevereiro de 2010 | Editar
É impossível deixar de lembrar e rememorar uma e outra vez, os acontecimentos do Século XVIII no continente europeu e as repercussões em terras do dito mundo novo. Digo dito mundo novo e não novo mundo de forma direta, porque de novo nada tinha para os habitantes nativos do continente descoberto pelos europeus. Nativos que moravam nas terras hoje denominadas Estados Unidos de Norte Américas, o Canadá, México.
Os monumentos, especialmente no sul das terras do Norte, eram impressionantes edifícios dedicados aos deuses que adoravam e para os sacrifícios oferecidos às divindades, ou seres humanos nascidos para se preparar para a morte na idade da puberdade e que eram criados em paços especiais e treinados para uma morte temprana, com alegria e felicidade: não pertenciam às famílias, pertenciam aos deuses, como tenho relatado em detalhe em outro ensaio anterior a este.
Novo era para os europeus que começaram a explorar a terra além dos seus reinos e algumas repúblicas, especialmente na Itália.
Os mais ousados eram no das Monarquias do Estado Britânico, da Espanha e Portugal. Com o Século XV já andar a explorar terras denominadas hoje o subcontinente da Índia e o continente africano, que não sabiam que eram continentes, é dizer, um conjunto de pequenas monarquias, principados, ou simplesmente etnias.
Os europeus no iam pelo prazer da viagem, iam porque nas terras da Europa já não tinham espaço nem comida suficiente para uma população que aumentava rapidamente. E expansão das monarquias era a procura de súbditos para escravizar e fazer o trabalho por eles, e para arrecadar riquezas que existiam nas terras colonizadas. Não era apenas o ouro e a prata o que se procurava, como se pensa e ensina na História da Europa, eram pessoas e mercadorias para iniciar um tráfego comercial que rende-se dinheiro nas trocas entre países e famílias proprietárias de barcos, galões e terras. A maior riqueza da, nesse tempo, Inglaterra, era o tabaco, retirado aos nativos das colónias inglesas do norte das terras descobertas, especialmente entre os iroqueses, como é narrado por Lewis Henry Morgan no seu texto de 1877: Primitive Society, quem vivera com os Iroqueses e observara os assaltos às plantações dos cultivadores de tabaco. Roubos que começaram no Século XVI pelos ingleses, comandados por um navegador, enobrecido mais tarde por Isabel Tudor, Sir Walter Raleigh. A Inglaterra, a Monarquia mais bem, fora quem se apoderara do novo produto, organizara um estanco ou pedido de licença para vender esse novo produto, conforme as leis do libre comércio criadas em 1776, ou mais bem organizadas por Adam Smith. Um filósofo presbiteriano da Escócia que, ao reparar em tratos de mercadorias e a desordem que em elas imperava, escreveu um texto em 8 volumes sobre a causa e os motivos da riqueza das nações, publicada em Londres por George Routledge and Sons, em dois volumes. Texto estudado pelos comerciantes, sendo o criador da Economia, que em esse tempo era apenas uma troca livre. Era a livre expressão dos possuidores de bens, que traficavam produtos entre eles, sempre com licença da monarquia reinante.
Porque falo destas ideias da economia se o título deste ensaio é de liberdade de expressão? Porque sem economia, essa liberdade não pode existir. É a minha referência ao nosso Primeiro-ministro que fiz num ensaio anterior a este, que precisa negociar não apenas orçamento com os grupos parlamentares que o apoiam, bem como com convénios com os grupos de oposição ao seu governo. Lembro bem o ensaio que escrevi sobre o Primeiro-ministro, esse em que pedia a sua demissão por não permitir a liberdade de expressão. Grande foi o meu engano! Lamento ter sido tão insultuoso com o nosso governante, sobre o qual todos caíram por tentar confiscar um semanário e acautelar um debate sobre essa liberdade de expressão, liberdade de expressão que em 1785 Babeuf tanto lutara, e fora guilhotinado por esse motivo, ao publicar no seu jornal La Liberté, O Manifesto dos Plebeus, com o Manifesto de Sylvain Maréchal a seguir e o seu Manifesto dos Iguais. Ou como Mozart, no mesmo Século, anos antes, escrevera as suas óperas contra a aristocracia, como As Bodas de Fígaro,Don Juan e o Rapto do Seraio. 0u Assim são todas, óperas todas para ganhar a liberdade de expressão do povo.
Mas, será que o povo tem direito a essa liberdade de expressão? Será que a sabe usar? Não me é possível deixar de comentar que essa liberdade de expressão nem sempre é bem usada. Ao longo dos Séculos XVII em frente, os que tinham a voz de mando era não apenas as Monarquias Europeias, a Corte dessas Monarquias e os proprietários de indústrias e manufaturas. Mandavam com a voz do dinheiro, da economia como David Ricardo tinha definido ao começo do Século XIX e mais tarde, reclamada por Marx em 1861 ao organizar a União Internacional dos Trabalhadores, espalhada por todo o mundo, sobre a base do Manifesto Comunista, escrito por ele, Engels e redigido pela sua mulher Johanna von Westphalen, história detalhada por mim no meu ensaio deste sítio de debate, no meu texto A religião é o ópio do povo. Não me é possível esquecer essa luta que começara não apenas com Mozart e a sua música contra a aristocracia que o alimentava, bem como os conspiradores da liberdade mencionados antes, acrescentando Buonarroti e a sua Carbonária e os textos dos Marx, especialmente de Eleanor e Paul Lafargue.
A liberdade de expressão é um direito mínimo para circular livremente entre os nossos pares, mas pode também ser abusado. Eis porque acrescento o adjetivo revisitada. Falei de liberdade de expressão a pedido dos colegas de escrita, mas sem saber que entre nós, ou entre vários deles a liberdade de expressão não existe. Mal entra ao nosso grupo um dissidente de uma ideologia partilhada por todos nós, e as zangas começam. Como se não existisse a liberdade de mudar de ideologia e, no entanto, aderir a um grupo caracterizado pela sua “velocidade socialista”.
No meu ver, a mudança de ideologia faz parte da liberdade de expressão. Pensar que sair de um grupo ideológico político para se juntar, por convite gentil, a membros da ideologia abandonada, parece-me uma contradição à legada e procurada liberdade de expressão.
Protesto, não me é possível deixar de protestar, pela “zaragata” vivida este fim de semana. Protesto contra essa contradição entre liberdade de expressão e entradas e saídas de pessoas que, por se sentirem ofendidas, fazem uma birra de dois dias, para, a seguir, continuar todo como estava antes. Senti-me abandonado. Não sou capaz de não manifestar a minha felicidade pelo bom desfecho do debate, pela frase de um dos nossos colegas que diz que é melhor ver um Primeiro-ministro curvado mas não quebrado, que, com todo, sabe defender os seus direitos de governante, e pela sábia frase do nosso fundador e gestor, quem me escrevera: calma, há que dar tempo ao tempo…..
Espero, e bem, que nunca mais um mal-entendido passe a ser birra de poucas horas que faz perder a nossa paciência, tempo, calma e bom humor.
Encerro o assunto nesta linha. Nunca mais se fale do assunto. É o meu direito esta petição, esta crítica. Habituado estou a pensar com serenidade, mas a imensidão de telefonemas e mensagens recebidos, manda que a minha liberdade de expressão… se exprima livremente…
A liberdade foi conquistada no século XVII e não podemos esquecer todo o que custara.
Raul Iturra
21 de Abril de 2004
lautaro@netcabo.pt