Na melhor das hipóteses, ficou pela enésima vez patente a incapacidade dos partidos que apoiam a solução governativa de se entenderem em questões-chave. Enquanto a devolução de direitos e a restituição de regalias (ambas justas) foram o eixo central da política governamental tudo estava bem, no momento em que é preciso governar, reformar, intervir em questões estruturais, as diferenças inultrapassáveis entre o PS e os seus circunstancialíssimos parceiros vieram à tona. Não é possível misturar azeite e água.
O amor eterno que o PS dedica aos seus parceiros soa cada vez mais a falso.
PCP e BE querem reverter a lei das relações do trabalho implementadas pelo anterior governo. Mas a actual lei é uma das principais razões que levaram à saída da dívida da classificação de "lixo". Como vai ser ?
Além disso, a S&P destaca que 2017 será o "quarto ano seguido de crescimento desde 2010". Para este ano, a agência espera que a economia cresça 2,8%, mais do que os 1,4% do ano passado e antes de abrandar para um crescimento de 2,3% esperado para 2018. "Esperamos que o desempenho económico continue a ser transversal, com um contributo positivo de todos os sectores", diz a agência. E as exportações - a treta da Catarina - têm reforçado o contributo apesar do governo estar a governar para cumprir os ditâmes da Zona Euro, baixando o défice.
Afinal é possível a economia crescer ao mesmo tempo que se consolidam as contas públicas . E o défice que Jerónimo dizia que nunca lhe tinham explicado porque era necessário reduzir para menos de 3%.
Mas é preciso não esquecer que a grande redução do défice foi feita pelo anterior governo e que o crescimento da economia - cresce há 4 anos - abarca o anterior governo. O actual está há 2 anos a governar.
É, claro, que tudo isto é amplamente beneficiado pela evolução positiva da Zona Euro e da União Europeia, ao contrário do que diziam comunistas e bloquistas.
Todos os que juravam a pés juntos que a dívida pública nunca poderia ser paga sem uma forte reestruturação (perdão de dívida), compreendem que a decisão da S&P, que tanto festejam, é a confirmação de que estavam errados, certo? Afinal, a dívida é pagável. E, como bónus, é possível pagá-la e crescer.
Há cada vez mais dores de dentes à medida que o que é verdadeiramente importante se impõe. Agora são as alterações à Lei Laboral que PC e BE colocam em cima da mesa e que constam do programa do governo mas que, o PS não acompanhará. Só depois da concertação social assim apoiando os patrões que exigem que o assunto não passe para a competência da Assembleia da república onde as esquerdas têm maioria.
Ao remeter a discussão para concertação social, o PS vai de encontro às expectativas dos patrões, que diziam esta terça-feira que não esperam que haja qualquer alteração este ano. Já a UGT, que também subscreveu o acordo tripartido, tinha desafiado o PS aprovar já a proposta.
"Queremos e vamos fazer alterações aos contratos a prazo, ao banco de horas individual e ao trabalho temporário, e vamos fazê-lo quando houver um acordo em concertação social, que não ficará fechado antes do final do ano".
PS a travar medidas que constam do programa de governo .
A proposta tinha como objectivo alterar a Lei do Trabalho mais especificamente a contratação colectiva. O PS com a ajuda do PSD e CDS chumbou a proposta de comunistas bloquistas.
Se esta alteração era assim tão importante porque PS, PCP e BE não a incluíram nos acordos de apoio ao governo ?
"A nossa posição é de, neste momento, não votar favoravelmente as propostas de PCP e BE", afirmou o deputado do PS, sublinhando que o partido "sempre esteve na primeira linha da defesa da contratação colectiva". Contudo, acrescentou, a "reversão da regra da caducidade não resolve problemas, que hoje são muito diferentes, num quadro de globalização e de mudança profunda e de modernização tecnológica (digitalização, robotização), sendo necessário diálogo com os parceiros sociais.
"PCP e BE estão hoje num canto de uma sala, do país. Têm pouco a dizer sobre as exigências da realidade laboral. Entre 2011 e 2013, duplicou o número de trabalhadores abrangidos pela negociação colectiva" .
O projeto de lei do PCP visava alterar o Código Geral do Trabalho, repondo o princípio do tratamento mais favorável aos trabalhadores e o fim da caducidade dos contratos colectivos, ao serem sucessivamente renovados até à substituição por outros negociados entre as partes, sendo que os dois textos do BE iam no mesmo sentido.
O PS, segundo os seus parceiros, tem as mesmas preocupações de esquerda mas soluções de direita. Na verdade, para o que conta, é realmente assim, mas não é por isso que comunistas e bloquistas rejeitam o pacto de governo.