A tentativa de fechar o assunto dos incêndios, a pressa de António Costa, está a ter a reacção que se esperava.
O presidente da República diz em entrevista ao DN que está à espera das conclusões dos inquéritos às mortes de Pedrogão e ao roubo das armas em Tancos que considera grave. A Protecção Civil reage à " lei da rolha" . As famílias querem saber mais.
Contra o que o ex-ministro da Administração Interna e actual primeiro ministro desejaria o assunto não está esclarecido . Há culpados .
“Costa lamenta aproveitamento político de mortes em Pedrógão”; “Marcelo contra aproveitamento político das vítimas de Pedrógão”; “Pedrógão Grande: Bloco acusa PSD de aproveitamento político”…
Considera a eurodeputada Marisa Matias que no caso das vítimas de Pedrogão a lista dos mortos não deve ser pública “por respeito às vítimas”. Ora uma pessoa não devidamente esclarecida sobre os meandros do aproveitamento político até podia pensar que a eurodeputada quer é respeito pelo seu sossego pois não é para todos (e todas, como diria a senhora eurodeputada) apoiar um governo que se confronte com tal lista.
É bastante claro o respeito que esta gente tem pelos mortos. Ainda me lembra no tempo da Troika as mortes que eram atribuídas aos cortes de verbas no SNS.
António Costa não quer perceber que há um antes e um depois de Pedrógão Grande. Grande parte da confiança perdeu-se como se vê neste caso da listagem do número de mortes.
Habituado a atirar a culpa para cima dos outros - do anterior governo, dos bombeiros, da Altice, de Bruxelas ...- foi longe demais e centralizou a informação para melhor a controlar. Resultado ? Ninguém acredita em ninguém. Um tremendo tiro no pé.
Enfim, a culpa é de toda a gente menos de quem nos governa. Aliás, para Costa, as polémicas fazem pouco sentido. São mesmo desnecessárias. E percebe-se porquê, para ele estão sempre “encerradas” e “esclarecidas”. O problema são as que não estão nem encerradas, nem esclarecidas.
Pedrógão não se apaga ficará para sempre agarrado à pele deste governo, e não vale a pena Costa empurrar o problema com a barriga como faz sempre .
Marta Soares, o Presidente dos Bombeiros, chama "lei da rolha" e "suspensão democrática" à imposição do governo em centralizar a informação.
Uma questão que repetiu em declarações ao Expresso, mas indo mais longe: “É uma demonstração de falta de confiança em quem está no terreno“. Para Marta Soares, a medida “não faz sentido nenhum” e é uma “desculpa esfarrapada” para distrair do que se passa no terreno.
“Há sempre um oficial dos bombeiros que pode fazer essa comunicação, treinado para esse propósito, se o comando estiver bem organizado”, destacou ainda ao Expresso o líder da Liga dos Bombeiros, acrescentando que “é um crime a informação ter de passar a sair do local, para ser filtrada, para ser dita por Lisboa”.
Agora os comandantes distritais não podem dar informações à comunicção social. E percebe-se porquê. As notícias são muito más e ainda estamos no ínicio do verão. Não há como centralizar a comunicação em gente amiga que antes de falar recebe ordens .
Quer dizer a fonte para o jornalista passa a ser alguém que está num qualquer gabinete, fonte que ande no terreno não dá garantias. Pode dizer a verdade.
Hoje um jornalista na RTP1 dizia-se nada surprendido, anda nisto há muitos anos e sabe que esta tentação de mordaça é recorrente.
É claro que os jornalistas vão passar ( já o fazem) a entrevistar as vítimas dos incêndios, os moradores no teatro de operações. Os comandantes distritais amordaçados vão ter o tempo todo para se dedicarem ao combate aos incêndios. Mas claro, haverá uma informação oficial que passará em tudo o que é jornal e televisão. E quem é que neste ambiente, chamesmo-lhe oficial vai fazer perguntas incómodas ?
Os incêndios tendo em vista as proporções e os desastres bem como o envolvimento de António Costa como ministro da Administração interna são um pesadelo para o governo.
Há que calar vozes independentes e chamar os boys que foram nomeados há apenas dois meses.