António Costa vai usar apenas o dinheiro europeu a fundo perdido e não utilizar os empréstimos europeus. A razão é óbvia. As subvenções não vão à dívida que está demasiado elevada e que não pode ser aumentada sob pena de a frágil situação financeira se deteriorar ainda mais.
Aquela discussão de a dívida estar a descer está terminada. Para passar a mensagem o governo falava em percentagem que beneficiava do denominador estar a crescer ligeiramente ( dívida/ PIB ).
O que nos vale é que os juros estão historicamente baixos graças à compra de dívida do BCE. Estamos a pagar juros /ano que são menos de metade do que pagaríamos em circunstâncias normais.
O governo entre 2014 e 2018 emitiu dívida a médio e longo prazo não percebendo que as taxas de juros teriam uma tendência decrescente. Custou-nos cerca de 1% do PIB por ano. É obra!
A estratégia de gestão da dívida do Governo foi incorreta e dispendiosa. Com efeito, quando as taxas de juro já caíram para níveis historicamente baixos em 2019, o Governo não pôde beneficiar plenamente das taxas de juro mais baixas, porque tinha emitido demasiada dívida de médio e longo prazo entre 2014 e 2018”, argumenta Ricardo Cabral.
Segundo os cálculos do economista, os sucessivos governos e o IGCP [Agência para a Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública], ao optarem por emissões com maturidades mais elevadas entre 2014 e 2018, fizeram custar ao país “cerca de 5% do PIB [Produto Interno Bruto] (10 mil milhões de euros) mais do que o necessário, senão mais”.
Para compreender o efeito do QE ( quantative easing) na dívida pública portuguesa, basta dizer que em 1990 tínhamos uma dívida pública de 55% do PIB mas pagávamos em juros da mesma 8,1% do Produto.
Agora, com mais de 120% de dívida pública em relação ao PIB, pagamos apenas 3,5% do PIB por esses juros!
Lembram-se daqueles que tinham solução para restruturar a dívida e que punham as pernas dos alemães a tremer ? E que "não pagamos"? Por onde andam tais cérebros ?
De um problema gravíssimo a dívida pelas política do BCE tornou-se numa magnifica oportunidade. Juros baixos, negativos, dá uma folga de centenas de milhões de euros. Vamos utilizá-la como ?
Se essa folga orçamental for utilizada para propaganda eleitoral ou para satisfazer interesses de potenciais coligações governativas, Portugal manterá o crescimento anémico. Se alguém tiver a coragem de utilizar este brinde para potenciar o crescimento, mesmo com custos eleitorais, aí isto vai muito além de política e a economia e o PSI agradecem. Cristina Casalinho fez o seu trabalho, o que os políticos farão disso decidirá o rumo da próxima década de Portugal.
Não é por acaso que António Costa nos últimos tempos, insistentemente, afasta o cenário de se juntar ao PC e ao BE em nova governação. Há um caminho que os dois partidos da extrema esquerda não aceitam.
No caso de Portugal, convém sempre recordar que o país ainda tem uma dívida pública de cerca de 120% do PIB, enquanto a média da zona Euro está abaixo dos 90%.
Entendo que Portugal tem de aproveitar esta bonança económica para atuar nos grandes problemas estruturais de competitividade da economia nacional. E, simultaneamente, reduzir a sua divida pública rapidamente para valores abaixo dos 100%. Isto com contas públicas equilibradas do ponto de vista estrutural. Reformando a gestão financeira do setor público, tornando os serviços públicos mais eficientes, promovendo investimento público de qualidade e garantindo a sustentabilidade da segurança social.
Se atuarmos do lado da melhoria da competitividade da economia, promovendo reformas e medidas que aumentem a posição de Portugal, e do lado de um setor público mais eficiente, iremos aumentar o nosso PIB potencial, e com isso a nossa capacidade de crescimento económico no médio e longo prazo.
Com tudo isto, e com taxas de juro baixas, reduziremos a divida pública, bem como a despesa com juros, protegendo Portugal de eventuais crises financeiras e tornando a economia nacional mais forte, gerando assim os recursos necessários para uma melhor função de redistribuição, nomeadamente através de serviços públicos na área da saúde e da educação, bem como nas prestações sociais.
Á medida que as prestações vencidas forem pagas pelos países o BCE, com esse dinheiro, fará novas compras de dívida pública. E pelo menos até ao fim de 2019 manterá negativas as taxas de juro.
Quanto representam estas medidas no orçamento e na situação financeira do nosso país ? Lembram-se das declarações desabridas contra o Euro, as exigências de reestruturação da dívida e da redução das taxas de juro ? Está aí tudo pela mão do BCE .
Mil e quinhentos milhões por ano é quanto poupamos em juros graças aos Programas do BCE . Alguns cretinos querem-nos fora do Euro.
É importante continuar com uma política de prudência. Esperemos bem que não, mas imaginemos que daqui a um, dois ou três anos temos uma nova crise: se continuarmos com uma dívida pública tão elevada, isso vai ter consequências, nomeadamente vai diminuir a margem [de gestão] dessa crise. Mas o que se fala para o Estado também se fala para as empresas e para as famílias. Desendividaram-se muito nos últimos anos, mas também têm de continuar.
Com a Europa a ser empurrada pelo ciclo da alteração dos juros nos Estados Unidos, em alta , chegou a factura para os países com elevadas dívidas como Portugal .
Mesmo com o BCE a manter a sua política de compra de dívida os juros já estão a subir. E quando o BCE deixar o programa ainda subirão mais.
Neste novo paradigma, os países e empresas mais endividados ficarão mais vulneráveis. É o caso de Portugal. Embora a dívida pública tenha descido em 2017 para o nível mais baixo em cinco anos (126,2% do PIB), continua a ser perigosamente elevada.
Este contexto será gerível se os juros não subirem muito, nem demasiado depressa. É o que tentarão fazer, a todo o custo, os bancos centrais, que terão a difícil missão de conter as pressões inflaccionistas sem arrefecer demasiado a economia.
Mas reduzir a dívida nunca foi prioridade para o actual governo que preferiu beneficiar as suas clientelas . Está a chegar a factura.
Não dá para grandes folias bem pelo contrário . E com uma economia a crescer poucochinho. Com excepção da Grécia, esse tal exemplo de sucesso, somos os que estamos em pior situação.
Juros da dívida soberana em Portugal, Grécia, Irlanda, Itália e Espanha cerca das 09:25:
2 anos…5 anos….10 anos
Portugal
27/12……-0,235….0,375……1,821
22/12……-0,272….0,369……1,804
Grécia
27/12…….1,595….3,405……4,060
22/12…….1,603….3,413……4,077
Irlanda
27/12……-0,544…-0,009……0,598
22/12……-0,546…-0,011……0,603
Itália
27/12……-0,311….0,618……1,918
22/12……-0,311….0,602……1,906
Espanha
27/12……-0,381….0,297……1,460
22/12……-0,391….0,279……1,463
Fonte: Bloomberg Valores de ‘bid’ (juros exigidos pelos investidores para comprarem dívida) que compara com fecho da última sessão.
Por volta das 09:25 em Lisboa, os juros a dez anos estavam a subir para 1,821%, contra 1,804% na sexta-feira e 1,740% na quinta-feira passada, um mínimo desde maio de 2015.