Portanto, a remoção da PGR constitui um interesse privado de António Costa. Mas não se distanciou ele próprio de Sócrates e o PS não abandonou Sócrates à sua sorte? Sim. Mas: caso o julgamento se inicie, como deve ou está previsto, ainda em 2019, o “animal feroz”, que nos desgovernou e arruinou durante oito anos, não deixará de citar como suas testemunhas os seus mais próximos colaboradores, logo recuperados por Costa como elementos do seu inner circle ou fazendo parte da “tralha socrática” anichada no partido ou em lugares subalternos do governo. Last but not least, enquanto ministro da Administração Interna, o próprio Costa foi um colaborador próximo de Sócrates.
É de entre estas criaturas que Sócrates nomeará as suas testemunhas, que o Tribunal convocará oportunamente. Vai ser um espectáculo muito divertido (e instrutivo) assistir à caminhada, a conta-gotas, de actuais governantes e influentes ex-socráticos para o Campus da Justiça, na Expo. E isto a meses das eleições de 2020. É este carnaval que António Costa necessita de evitar – rolem as cabeças que rolarem. Que ninguém se meta com António Costa!
No PSD pode haver quem se tenha esquecido e quem ache que Santana Lopes merece uma segunda oportunidade mas no país não há dessa gente. Porque após oito meses calamitosos de governação entregou o país a José Sócrates. Pecado sem perdão. Bem sabemos que o então presidente da república, Jorge Sampaio (socialista) estava cheio de pressa para correr com o PSD do governo mas Santana Lopes se fosse competente não teria dado esse pretexto a Sampaio.
Só que ao nível de primeiro-ministro – tal como na guerra, ou no lançamento do space shuttle – não dá para arriscar. É tão simples quanto isto. Não dá para pagar para ver. Mais: seria tão pesada a mochila de 2004/2005 que Santana arrastaria às suas costas, que qualquer buraco no caminho ganharia a dimensão de uma cratera. Nunca haveria estado de graça – apenas recordações da gigantesca desgraça que foram os seus oito meses como primeiro-ministro. Tudo isto me parece tão evidente, tão escandalosamente óbvio, que ver Santana candidato apenas demonstra que o PSD pós-Passos é um partido em cacos. Está tão obcecado com as lutas internas que se tornou indiferente aos interesses do país e ao seu próprio futuro.
Os que andaram anos a defender José Sócrates defendem agora Fernando Medina com os mesmos argumentos. Não aprenderam nada .
"Fernando Medina tem um problema para além de ter feito “um bom negócio” e de ter comprado uma casa a alguém que decidiu perder 195 mil euros quando a economia já dava sinais de recuperação. É que a maioria dos seus defensores são os que juravam que Sócrates vivia dos seus próprios meios – e que decidiram ignorar todos os sinais, todas as notícias que a imprensa livre foi publicando. Medina tem azar com os seus defensores na praça pública: foram os mesmos que fecharam os olhos – não queriam ver, não queriam saber, não queriam ler – à vida de luxo conseguida à conta de “empréstimos” do antigo primeiro-ministro. "
Não é a primeira nem será a última. Começou com a Fernanda Câncio que escreveu na sua coluna no DN que não sabia que o dinheiro com que o ex-PM pagava as despesas era de um amigo. Se soubesse não teria aceitado a situação. Sempre lhe foi dito que a família tinha meios de fortuna ( cito de memória) .
Com a revelação do processo muitos outros dirão o mesmo. Não sabiam, mas bateram palmas, encheram salas e criticaram quem deles discordava.
Agora também sabemos que o "Abrantes" era mesmo um funcionário pago por Sócrates para dizer bem dele e do seu governo . E, evidentemente, o dinheiro vinha de uma conta pertencente a um tal Mão de Ferro, arguido no Processo Marquês. Nunca é como nos é contado, há sempre um tio, um primo, uma ex-namorada, um amigo, um amigo de um amigo...
E dinheiro, muito dinheiro...
Isabel Moreira: ‘Sócrates teve um comportamento que é eticamente condenável
Não conseguiram afastar-me do coração dos socialistas diz José Sócrates. É como o corno que diz que a mulher antes de o enganar tirou a aliança e isso mostra que ela continua a amá-lo. Os socialistas vão amando-o ou detestando-o conforme as necessidades e não fazem promessas. Leiam o que dizia João Galamba :
Em 2009, o socialista João Galamba ainda se demarcava claramente das ideias, propostas e métodos da extrema-esquerda: “É uma fantasia achar que se resolve o problema da pobreza e das desigualdades criando um escalão de 45% de IRS e um imposto sobre as grandes fortunas. Os nossos problemas também não se resolvem nacionalizando a banca, os seguros e o sector energético — e muitos menos se resolvem introduzindo mecanismos de controlo administrativo e burocrático dos juros. Em tudo o que cheire a economia a solução do BE é sempre a mesma: estatismo e penalização da iniciativa privada.”
No PS o que interessa é estar no poder, a ideologia já deu frutos . O PS defensor da União Europeia, democrático e defensor de uma economia social de mercado continua nos nossos corações. Estar no coração dos socialistas ( de alguns) é outra coisa bem diferente.
Ana Gomes considera que Sócrates "está a sequestrar e a manipular o partido", que é "chocante", sem que haja "vozes morais no PS". Embora se mostre crítica da justiça pela demora no processo que envolve o ex-primeiro-ministro, a eurodeputada entende que o que já se sabe do comportamento de Sócrates - admitido pelo próprio, em particular o modo como "vivia à custa do amigo" Carlos Santos Silva - torna "impensável a sua recuperação política".
A eurodeputada insiste: "Como é possível não haver consciência moral para demarcar o PS disto?" E a sua crítica estende-se a todos os dirigentes socialistas, incluindo ao secretário-geral do partido, atual primeiro-ministro.
O PS de Costa é a continuação do PS de Sócrates, um partido de poder disposto a tudo para se manter no poder.
Há confissões no processo José Sócrates ? O presidente do Grupo Lena entrou no DCIAP como arguido e saiu de lá como testemunha depois de ter confessado o esquema de pagamentos ao ex-primeiro ministro. É isto que está escarrapachado na capa do CM e vem replicado em todos os jornais.
Há quem não perceba o que é fácil de perceber no processo Sócrates. Outros não querem perceber por razões partidárias.
Não há a mais pequena dúvida - até pelas explicações que o próprio deu - que José Sócrates vai ser acusado de fuga ao fisco e de branqueamento de capitais. Há provas mais do que suficientes como se percebe pelo que vem a público. A questão que está em jogo é provar a corrupção, muito mais difícil de provar e é essa prova que num caso desta dimensão exige trabalho e tempo. Muito tempo.
Claro que o tempo, demasiado tempo, é a bóia de salvação a que se agarram Sócrates e os seus advogados, porque sabem que esse argumento toca na sensibilidade dos cidadãos. Todos nós achamos que a Justiça para ser justa tem que ser rápida. Mas pode ser rápida quando o processo se desenrola por vários países e exige a análise de milhares de documentos ?
A opção que, em dada altura, dividiu os responsáveis pela investigação era entre deixar cair a acusação de corrupção e avançar, somente, com a acusação de fuga ao fisco e branqueamento de capitais. Se assim tivesse sido feito há muito que a acusação teria sido formada mas restava uma pergunta : teria sido feita justiça ?
Devem os investigadores largar um processo em que estão convictos que há crime e onde há provas e índicios fortes? É claro que há mais processos desta envergadura que vão demorar muito tempo. Que bom seria pagar uma pequena multa e ficar tudo limpinho, limpinho.
As investigações aos casos que se desenvolveram ao longo dos governos de José Sócrates vêm revelando a existência de uma poderosa e invisível máquina de controlo a vários níveis da estrutura do estado.
Agora é Fernando Lima, ex-assessor de Cavaco Silva que o revela em livro :
Durante o seu mandato, José Sócrates combinou um "autoritarismo oculto que exercia o seu controlo sobre o Estado, a finança, o sector judiciário e as informações" com uma poderosa e invisível máquina de intimidação que denegria todos quantos se atravessavam no seu caminho. Entre as vítimas, estiveram o então Presidente da República, Cavaco Silva, que não se conseguiria recompor das guerras intestinas e acabou por terminar o seu segundo mandato sem rasgo nem carisma, quase irreconhecível.
Começou a debandada. António Costa nunca foi tão longe na tentativa de se afastar das políticas dos governos de Sócrates assentes em grandes obras públicas . Agora culpa a Coligação PSD/CDS de encostar o programa do PS a 2011. Grandes obras públicas, gastar impostos, subsídios e empréstimos para acabar na bancarrota.
É tarde . O PS nunca teve a coragem politica de se demarcar, pelo contrário, logo após a vitória de Costa sobre Seguro, o que vimos foi Ferro Rodrigues gritar que o PS voltaria aos mesmos princípios de sempre. E na Assembleia da República, as primeiras filas da bancada estavam cheias de figuras próximas de Sócrates.
Esta não é a primeira vez que o líder socialista tenta a demarcação de uma governação assente em grandes obras, mas esta foi a vez que mais ao detalhe foi no distanciamento de uma linha de governação que diz rejeitar e que tem estado na linha de fogo da coligação. “Faz toda a diferença ter não o Estado a puxar pela economia, mas o Estado puxar pelo saneamento das finanças públicas”.
É tarde . O que este governo tem feito é mesmo tirar o estado da economia e sanear as finanças públicas, contra a oposição feroz do PS, do PCP e do BE.