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as autoestradas da informação

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José Rodrigues dos Santos : Porque será que o fascismo alemão se chamou nacional-socialismo ?

Porque será que o fascismo alemão se chamou nacional-socialismo ?

...os marxistas pró-guerra fundaram o movimento fascista, com reivindicações como o salário mínimo, o horário laboral de oito horas, o direito de voto para as mulheres, a participação dos trabalhadores na gestão das fábricas, a reforma aos 55 anos e a confiscação dos bens das congregações religiosas. Serei só eu a notar que estas reivindicações fascistas têm origem marxista?

Os meus críticos limitaram-se a constatar que os fascistas se descreviam como anti-marxistas – e assim foi a partir de certo ponto. Mas isso nada me desmente porque nunca disse que os fascistas, na sua fase já amadurecida, eram marxistas. O que eu disse, e repito, é que o fascismo é um movimento de origem marxista – o que é verdade.

Com o PS está de volta a censura

A liberdade de imprensa é um direito consagrado por via da Lei 2/99, de 13 de janeiro, que garante o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações. Numa lista de 180 países, Portugal ocupa a 23.ª posição, com uma avaliação “satisfatória” quando se fala de liberdade de imprensa.

Mesmo sabendo nós que existem alguns jornalistas que abusam das suas competências e invadem, de forma grosseira, a vida de figuras públicas (ou menos públicas), sem terem consequências do seu (pouco) profissionalismo, lá vamos andando.

Porém, durante esta semana em que se festejou o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, no dia 3 de maio, fomos confrontados com uma situação grave, que quase faz lembrar o tempo da “censura”. O jornalista da RTP José Rodrigues dos Santos apresentou, durante o Telejornal (a 2 de maio), a evolução da dívida pública nacional e fê-lo com recurso à imagem de um gráfico que referia o ano e o nível de evolução da dívida, recorrendo aos dados do Eurostat (Autoridade Estatística da União Europeia).

Até aqui tudo bem, dizemos todos nós. Trata-se de matéria de facto (basta ver os dados do Eurostat) e não de matéria especulativa, portanto a garantia de uma informação fiável estava salvaguardada.

Para espanto de todos os defensores da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão, vem o antigo secretário de Estado e ex-deputado socialista José Magalhães atacar o jornalista, chegando ao cúmulo de classificar a explicação dada como “uma vigarice extrema”. Mas vai ainda mais longe o socialista, dizendo que “passá-la na RTP à hora de maior audiência é um enxovalho para o serviço público”. José Magalhães acha que informar em horário nobre só se deveria fazer se o assunto não fosse incómodo para o Partido Socialista e para o atual governo.

O jornalista da RTP foi factual apresentando, apenas e só, os números. Senão vejamos. Em 2000, a dívida pública era de 61 mil milhões de euros. É um facto! Em 2005, a dívida pública tinha já um valor de 96 mil milhões de euros. É um facto! Em 2011, a dívida pública andava na ordem dos 185 mil milhões de Euros. É um facto! Em abril de 2016, a dívida pública portuguesa atingiu os 233 mil milhões de euros, valor que representa mais do dobro dos 60% a que Portugal se comprometeu com a assinatura do tratado da moeda única. É um facto!

Para os socialistas, se uma notícia lhes é favorável, trata-se de bom “serviço público” e o(a) jornalista que apresenta a notícia é um(a) profissional de primeira e merece todo o crédito. Caso a notícia seja desfavorável ao Partido Socialista e ao governo, então estamos perante uma afronta à “verdade”, um abuso do poder dos media ou, como diz o ex-deputado socialista José Magalhães, estamos perante “uma vigarice extrema”.

Isto revela um padrão de comportamento preocupante de quem tem dificuldade de viver em democracia, sem a controlar. Esta atitude é reveladora da estratégia de condicionamento que o Partido Socialista faz junto dos órgãos de comunicação social.

Analisando friamente este comportamento dos socialistas e do governo de António Costa, poderemos concluir que estamos perante uma deriva a roçar a “ditadura”, que quer condicionar tudo o que se lhe oponha. É importante lembrar que, a um governo responsável, cabe o papel de promover e garantir a liberdade de expressão (onde se inclui a liberdade de imprensa), permitindo que todos o possam fazer livremente, numa democracia saudável.

Triste e lamentável é o Partido Socialista e o governo acharem que têm o direito de impedir que uma notícia seja publicada, só porque não gostam do seu conteúdo. Isto sim, é uma afronta à liberdade e à democracia. Esta afronta faz-nos temer o regresso da “censura”, que é agora mais moderna, mais dissimulada, mais hábil, mais engenhosa… mais socialista! Avaliando a forma como se vêm as liberdades básicas, é evidente que o Partido Socialista vê a liberdade de expressão (e de imprensa) da mesma forma que a Coreia do Norte vê os direitos humanos. Só existe para quem não presta.

Por Rodrigo Gonçalves,
Mestre em Ciência Política

(in http://www.oje.pt/ps-esta-volta-censura/ )

A resposta de José Rodrigues dos Santos

RESPOSTA DE JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS AOS COMENTÁRIOS PUBLICADOS NESTA PÁGINA À ENTREVISTA FEITA PELO JORNALISTA A JOSÉ SÓCRATES, NO DOMINGO, DIA 23 DE MARÇO DE 2014, NA RTP1:

Devido às minhas funções na RTP, que nada têm a ver com a minha actividade de romancista para a qual esta página foi criada, alguns leitores escreveram mensagens críticas da forma como foi conduzido o espaço com José Sócrates. Repito que isto nada tem a ver com os livros, razão de ser desta página de Facebook, mas não me importo de esclarecer dúvidas e equívocos que me parecem nascer do facto de muitas pessoas, e como é natural, desconhecerem as regras da actividade jornalística.

Uma leitora chega mesmo a perguntar em que escola aprendi jornalismo. A resposta é: na BBC. Sei que se calhar não é suficientemente boa, mas foi o que se pôde arranjar.

O que ensina a BBC? Quais as regras da nossa profissão? É obrigado um jornalista a ser sempre isento? Há ocasiões em que não deve ser isento? São perguntas interessantes e todas elas têm resposta, embora o público em geral, e como me parece normal, não as conheça.

1. A isenção de um jornalista não é obrigatória. Depende da linha editorial do jornal. Não faz sentido esperar que um jornalista do «Avante!», por exemplo, seja isento. A linha editorial do «Avante!» é claramente comunista e um jornalista que não a queira respeitar tem a opção de se ir embora. Há muitos casos que se podem encontrar de linhas editoriais que implicam alinhamentos (partidários, desportivos, ideológicos, etc).

2. No caso da RTP, a linha editorial é de isenção. Isto acontece porque se trata de um meio público, pago por todos os contribuintes, pelo que deve reflectir as diferentes correntes de opinião. Os jornalistas esforçam-se por escrever as notícias com neutralidade e, nos debates, os moderadores esforçam-se por permanecer neutrais.

3. Nas entrevistas, no entanto, as regras podem mudar. Há dois tipos de entrevista: a confrontacional (normalmente a entrevista política) e a não confrontacional. Em ambos os casos a isenção pode perder-se, não porque o entrevistador seja pouco profissional, mas justamente porque é profissional. Por exemplo, numa entrevista não confrontacional com a vítima de uma violação é normal que o entrevistador se choque com o que aconteceu à sua entrevistada. Estranho seria que ele permanecesse indiferente ao sofrimento. Não se trata um violador e uma mulher violada da mesma maneira, não se trata um genocida e uma pessoa que perdeu a família inteira da mesma maneira - a regra da isenção não se aplica necessariamente.

4. As entrevistas políticas são, por natureza, confrontacionais (estranho seria que não fossem e que jornalista e político tivessem uma relação de cumplicidade). Uma vez que o agente político que está a falar não tem ninguém de outra força política que lhe faça o contraditório (como aconteceria num debate), essa função é assumida pelo entrevistador. O entrevistador faz o contraditório, assume o papel de advogado do diabo. Portanto, o jornalista suspende por momentos a sua isenção para questionar o entrevistado. Isto é uma prática absolutamente normal. O entrevistador não o faz para "atacar" o entrevistado, mas simplesmente para fazer o contraditório. Acontece até frequentemente fazer perguntas com as quais não concorda, mas sabe que o seu papel é fazer de "oposição" ao entrevistado.

5. Dizem os manuais de formação da BBC, e é assim que entendo o meu trabalho, que o entrevistador não é nem pode ser uma figura passiva que está ali para oferecer um tempo de antena ao político. O entrevistador não é o "ponto" do teatro cuja função é dar deixas ao actor. Ele tem de fazer perguntas variadas, incluindo perguntas incómodas para o entrevistado. Não deve combinar perguntas com os políticos, mas deve informá-lo dos temas. No acto da entrevista o entrevistado "puxa" pela sua faceta positiva e o entrevistador confronta-o com a sua faceta potencialmente negativa. Espera-se assim que o espectador veja as duas facetas.

6. Uma vez apresentado o princípio geral, vejamos o caso de José Sócrates. É falso que José Sócrates desconhecesse esta minha linha de pensamento. Almoçámos e expliquei-lhe o meu raciocínio. Avisei-o de que, se encontrasse contradições ou aparentes contradições entre o que diz agora e o que disse e fez no passado, as colocaria frente a frente e olhos nos olhos, sem tergiversações nem subterfúgios, como mandam as regras da minha profissão. Far-me-ão a justiça de reconhecer que fiz o que disse que ia fazer.

7. Como todas as figuras polémicas, José Sócrates é amado por uns e odiado por outros. É normal com as figuras públicas, passa-se com ele e passa-se comigo e com toda a gente que aparece em público. Mas o que se está a passar com ele é que muita gente fala mal nas costas e ninguém pelos vistos se atreve a colocar-lhe as questões frontalmente. Fui educado fora de Portugal e há coisas que me escapam sobre o país, mas dizem-me que é um traço normal da cultura portuguesa: falar mal pelas costas e calar quando se está diante da pessoa. Acho isso, devo dizer, lamentável. Quando alguém é muito atacado, devemos colocar-lhe frontalmente as questões para que ele tenha o direito de as esclarecer e assim defender-se. Foi o que foi feito na conversa com José Sócrates. As questões que muita gente coloca pelas costas foram-lhe apresentadas directamente e ele defendeu-se e esclareceu-as. Se o fez bem ou mal, cabe ao juízo dos espectadores.

8. O caso de José Sócrates tem alguns contornos especiais e raros. Ele foi Primeiro-Ministro durante seis anos e acabou o mandato com o país sob a tutela da troika. Quando era chefe do Governo, começou a aplicar medidas de austeridade. No PEC I foram muito suaves (cortes em deduções fiscais e outras coisas), mas foram-se agravando no PEC II (aumento de impostos) e no chamado PEC III, que na verdade era o Orçamento de 2011 (corte de salários no sector público, introdução da Contribuição Especial de Solidariedade aos pensionistas, aumento de impostos, cortes nas deduções, etc). Defendendo estas medidas, afirmou em público que "a austeridade é o único caminho". Agora, nas suas declarações públicas, ele mostra-se contra a austeridade. Estamos aqui, pois, perante uma contradição - ou aparente contradição. Não tem um jornalista o dever de o colocar perante essa (aparente ou não) contradição, dando-lhe assim oportunidade para esclarecer as coisas?

9. Na entrevista não é para mim necessariamente relevante se ele tinha razão quando aplicou a austeridade ou se tem razão agora que critica a austeridade. O que é relevante é que há uma aparente contradição e cabe ao jornalista confrontá-lo com ela. Foi o que foi feito e ele prestou os seus esclarecimentos. Se foi convincente ou não, cabe a cada espectador ajuizar, não a mim. Limitei-me a apresentar-lhe directamente os problemas e a dar-lhe a oportunidade de os esclarecer. O meu trabalho ficou completo.

10. Como disse no ponto 8, o caso de José Sócrates é raro. Não é muito normal termos entrevistados com as circunstâncias dele. O tipo de conversa que era necessário para esclarecer as coisas não nasce do facto de ele ser do PS, mas das suas circunstâncias únicas. Se o entrevistado fosse, por exemplo, Ferro Rodrigues ou Maria de Belém ou Francisco Assis ou qualquer outra figura do partido, o perfil da conversa teria de ser diferente porque nenhum deles teve funções de Primeiro-Ministro durante tanto tempo e imediatamente antes da chegada da troika nem entrou num discurso tão aparentemente contraditório como José Sócrates. São as suas circunstâncias específicas que exigem uma abordagem específica. Se o Primeiro-Ministro que governou nos seis anos antes da chegada da troika fosse do PSD, CDS, PCP, BE, MRPP ou o que quer que seja, e fizesse declarações tão aparentemente contraditórias com o que disse e fez quando governava, não tenham dúvidas de que as minhas perguntas seriam exactamente as mesmas.

11. No final, temos de nos perguntar: José Sócrates esclareceu bem a sua posição? Essa resposta cabe a cada um e aí não meto eu o dedo. Limitei-me a dar-lhe a oportunidade de tudo esclarecer.

12. E aquele espaço?, perguntarão alguns. É entrevista? É comentário? Boa pergunta. A minha resposta está no ponto 5.

Um abraço a todos.

José Rodrigues dos Santos