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BandaLarga

as autoestradas da informação

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Muita gente avisou e ainda mais não quis ouvir

António Barreto : Não sou a primeira pessoa a descrever assim José Sócrates. Nem essa descrição é recente. Recordo apenas um texto de António Barreto, de Janeiro de 2008 (há quase sete anos, bem antes da bancarrota), onde se escrevia que “o primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra a autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas”

José Manuel Fernandes : José Sócrates foi a pior coisa que aconteceu na democracia portuguesa nos últimos 40 anos, e não o digo por causa da bancarrota. Digo-o por causa da forma como exerceu o poder, esperando fazê-lo de forma absoluta, sem contestação, sem obstáculos, sem críticos. Não os tolerava no PS, no Governo, nos jornais, nos bancos, nas grandes empresas do regime.

O que assusta é que o país está novamente pronto a aceitar a prepotência pessoal e política e deixar arrasar o estado de direito com teorias de perseguição quando está em causa um dos nossos. Tenta-se desviar a atenção do que está verdadeiramente em causa e é fundamental para a democracia com o aparato policial da detenção. Até há quem afirme (Estrela Serrano) que a prisão preventiva fará de Sócrates um mito.

Muitos dos que agora rasgam as vestes porque o antigo primeiro-ministro foi detido no aeroporto foram os mesmos que nunca quiseram admitir que havia um problema com Sócrates, com os seus casos, com o seu comportamento, com o seu autoritarismo. E também com o seu estilo de vida.

Há momentos que chegam a ser patéticos. Como é possível, por exemplo, que um homem supostamente inteligente, como Pinto Monteiro, queira que nós acreditemos que foi convidado por José Sócrates para um almoço, de um dia para o outro, numa altura em que o cerco se apertava, e que, naquele que terá sido o seu primeiro almoço a sós, só falaram de livros e viagens, como se fossem dois velhos amigos? Como é possível que continue a defender a decisão absurda sobre a destruição das escutas? Ou a achar que nada mais podia ter sido feito na investigação do caso Freeport?

Sempre há coincidências e muito desagradáveis.

Portugal precisa de uma alternativa séria e rigorosa

JMF - Público : (...)

Em países como o nosso, onde a riqueza nunca foi muita, onde o Estado social chegou tarde e o crescimento acabou cedo, a manutenção do modelo redistributivo coloca problemas ainda mais complexos à esquerda socialista (o resto da esquerda verdadeiramente só protesta, não corre o risco de governar). Por um lado, identifica-se com a política redistributiva e tem como base eleitoral uma classe média que passou a depender dessa mesma política; por outro lado, deixou de conseguir aumentar as receitas dos impostos e, assim, deixou de conseguir pagar essas políticas. Basta pensar que em Portugal as prestações sociais representavam apenas 13% do PIB em 2000, o que significa que o seu peso na riqueza nacional quase duplicou em pouco mais de uma década. Foi neste quadro que as políticas redistributivas deixaram de se basear no aumento da carga fiscal (a economia estava exaurida), para passarem a depender de uma dívida crescente (tornada mais acessível com a adesão ao euro).

O sonho de todos os socialistas é que o crescimento regresse e se libertem deste pesadelo. O seu dilema é que não conseguem imaginar uma forma diferente de crescer senão pela via de estímulos públicos, sendo que, enquanto houve dinheiro para esses estímulos – e houve em abundância até 2008/2009 –, isso não se traduziu em mais crescimento, apenas em mais dívida. É por isso que suspiram por um Plano Marshall sem entenderem que ficaríamos para sempre dependentes de subsídios externos. É também por isso que têm dificuldade em entender os sinais que começam a aparecer de alguma reversão do ciclo económico, pois este acontece sem reversão da austeridade, o que não encaixa na sua forma de pensar estadocêntrica.

Dominados pelo pensamento único, estatista e socializante

Escreve o José Manuel Fernandes (no Público) : ...em condições normais, num país menos dominado pelo "pensamento único" estatista e socializante, a emergência nacional teria, no mínimo, levado as elites a questionarem a bondade, até a justiça, dos actuais sistemas de protecção social, de saúde ou de educação. Foi isso que sucedeu há vinte anos nos países nórdicos e que levou a profundas alterações do seu modelo social e a uma redução do peso do estado que permitiu à economia voltar a respirar e a crescer.

Não foi isso que sucedeu em Portugal, onde o país e as elites se colocaram, sem hesitação, do lado do PS e da sua recusa de discutir o quer que fosse mesmo perante a urgência dos quatro mil milhões. (...)