Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

BandaLarga

as autoestradas da informação

BandaLarga

as autoestradas da informação

Deitar os foguetes e apanhar as canas

EUROGRUPO | CENTENO A eleição do ministro portugués para a presidência do Eurogrupo tem sido festejada como uma grande vitória. E, nomeadamente, uma grande vitória da diplomacia portuguesa. Mas não foi, nem é. Sendo honrosa, ela resultou de um quadro de desistências, tipo dominó.

Primeiro facto: para reequilibrar o peso do norte e centro da UE, ficou entendido que o substituto do holandês do vinho e gajas deveria ser, agora, um ministro das Finanças dos países do sul. Os ministros mais falados como candidatos fortes foram os da França e Itália. Mas, dadas as conjunturas internas desses países, eles recusaram. Chegou então a vez do ministro espanhol.

Mas Madrid considerava relativamente irrelevante a função e queria mesmo ( e quer) a mais decisiva posição de vice presidente do BCE. Guindos desistiu também. Restava Lisboa ou Atenas. Esta era uma candidatura impensável, depois de tudo o que a Grécia do Syriza representa. Hipótese riscada.

Restava Portugal, que havia recuperado respeitabilidade com os dois últimos governos e, em Bruxelas, beneficiava do discurso anti-geringonço de Costa e da política realista de Centeno. Ficou este, por exclusão de partes. Sorridente, sabedor, dupla face, foi considerado um intérprete possível e aceitável da visão do eixo Berlim-Paris. Por exclusão de partes. Bastaria ir lendo a imprensa do país vizinho para ir seguindo o caso. Com a nossa não chegávamos lá...

 
 
 

Ou me engano muito ou temos Sócrates 2

OU ME ENGANO MUITO | OU TEMOS SÓCRATES 2
Será que a Altice contrariou um plano Sócrates 2 para compra da TVI e impediu, assim, outra manobra de controle da generalidade dos media? Será que as tentações de Sócrates de ter na mão a generalidade dos media, controlando também as estações de televisão, através da PT e suas adjacências (Ongoing e etc) renasceram das cinzas políticas do ex-PM? Controlar a a agenda política, através dos media, e aniquilar as oposições pela marcação e calendarização de «factos» redutores da acção dos adversários políticos seria (é!) uma arma de arremesso fortíssima e poderosa. Será que a Altice foi 'demasiado' independente e se adiantou aos candidatos da geringonça ? Se o foi, aguardemos os pregos que lhe serão colocados no caminho (lembrem o discurso do nosso PM na AR).

O MITO OU A DATA? por José Manuel Barroso


A dia 25 de Abril de 1974, duas coisas essenciais aconteceram: acabaram as guerras em África e a ditadura do Estado Novo. Era a História de um povo que dava um salto. Subitamente, a democracia ou a promessa dela. Subitamente, o fim anunciado do Império. Num compasso de espera para ambos, mas uma via sem retorno. Em África, os quadros militares e grande parte dos soldados entenderam o 25 de Abril como um regresso a casa anunciado. Na Guiné, o MFA local decretou um cessar-fogo unilateral, logo a 26. Em Moçambique, as armas também se abateram, que a guerra não é apenas capacidade militar, é também vontade de combater. Angola demorou um pouco mais, mas o que estava ganho no terreno acabou por ser derrotado pela falta de ânimo - ninguém ganha uma guerra que considera perdida. Spínola queria fazer uma transição diferente, mas precisava para isso de força militar durante um período transitório. E precisava de uma retaguarda forte que lhe permitisse a manobra. Levou algumas semanas a entender que isso era o antes, nem força militar, nem tempo. Melo Antunes disse, um dia, com verdade inteira, ter sido a descolonização feita «contra Spínola». Mesmo afirmando haver um projeto político, consubstanciado no Programa do MFA, o certo é que a direção assumida do movimento foi fiel ao clássico: se o regime não consegue ganhar politicamente a guerra, abata-se o regime para terminar com a guerra. O Exército não pode, nem aceita, sair derrotado. Nada de mágoas do Império. Nem nova humilhação, como no episódio da Índia Portuguesa de 1961, sob Salazar. O 25 de Abril, na sua versão puramente política, era o resultado unido das lutas da oposição, depois de Delgado e, sobretudo, depois de 1969. Todo as ideias políticas da esquerda socialista e comunista estava lá, no Programa inspirado nos Congressos de Aveiro e nos programas da CDE. Telegraficamente, mas estava. Melo Antunes também reconheceu isso. E, assim, o jeito de terminar o Império. E, por isso também, arrumado o Império, as lutas internas que terminaram no 25 de Novembro. A esquerda aparentemente unida da Comissão Coordenadora do Programa tinha duas componentes que, sob o nome escondido de socialismo, não eram compatíveis: uma queria um regime social de esquerda, com democracia, a outra sonhava com 1917 e Lenine. Esta ficou fechada nos desertos demográficos do sul, Alentejo e Ribatejo e num pedaço da cintura industrial de Lisboa. A outra espraiou-se pelos populosos centro e norte anti-comunistas e católicos. À cacetada e na rua, o povo cristão e a classe media apoiaram Soares e o grupo dos Nove e depois elegeram Eanes. Ficaram as concessões feitas a Cunhal, para reequilibrar as coisas internamente entre as fações militares e os partidos: um Conselho da Revolução, só extinto em 1982, a unicidade sindical e uma Constituição democrática, mas «rumo ao socialismo». Reforma Agrária e nacionalizações. Pesos que ainda pesam muito na balança do país, mesmo depois da adesão à Europa comunitária. A verdade é que, no fim de contas, vivemos há 40 anos na mais estável, mesmo se problemática, democracia da nossa longa História. Valeu a pena? Tudo vale a pena, disse o grande poeta, «se a alma não é pequena». O 25 de Abril, com tudo o que encerra e encerrou, valeu um país livre.