O Estado há muito que está abocanhado pelas corporações de interesses.O Estado direcciona as políticas públicas para as classes profissionais e nunca para o cliente final, o cidadão. Vivemos num Estado que insiste em não colocar no centro da sua política o aluno ou o utente.
Prefere mil vezes discutir carreiras, salários, reformas e pensões, dotações orçamentais e recursos humanos, do que perceber se está ou não a servir quem deve.E é por isso que passamos os últimos quatro anos a discutir a devolução de rendimentos para a Função Pública, fim dos contratos de associação com colégios privados ou o fim das PPP na saúde, em vez de tentar perceber como ter alunos mais bem preparados ou os melhores cuidados médicos para a população.
João Vieira Pereira : Este texto tem de começar com um aviso sobre conflitos de interesse. Tenho um familiar que sendo precário do Estado há mais de 10 anos vai ficar sem emprego por ter recusado a proposta que lhe fizeram, de passar a receber metade do salário. Uma chantagem ignóbil: menos salário em troca de um emprego para a vida.
Em 2017 o PIB potencial só cresceu 1,3% abaixo da média europeia. Este indicador é importante porque revela a real capacidade de crescer mas não sobe acima da média europeia pelo menos desde 2003.
Sem maior crescimento do produto potencial haverá uma tendência de aumento das taxas de juro, de diminuição das exportações e menor investimento directo estrangeiro.
Isto é o resultado das políticas adoptadas . A produtividade do trabalho caiu 0,3% ( medida per capita por pessoa empregada). Fruto do crescimento do emprego em actividades pouco produtivas, como por exemplo o turismo. Ficou congelada a reforma da administração pública perdendo-se uma oportunidade única, quando se restituíam rendimentos e regalias e por isso os funcionários públicos estavam mais receptivos a aceitar mudanças estruturais. Mas tudo foi feito sem pedir nada em troca a não ser alimentar as exigências do PCP e do BE.
A única preocupação foi utilizar o bónus do crescimento para favorecer os mesmos de sempre. Mas podíamos ter acelerado o pagamento a fornecedores que induziria uma aumento no PIB calculado em 1%. Ou poderia servir para reduzir a dívida pública que desceu em percentagem do PIB mas que cresceu em valor global . Se há défice, há mais dívida e no total o Estado deve ao exterior 243,6 mil milhões, mais 2 mil milhões do que em 2016.
E podia ter servido para reduzir impostos beneficiando a actividade económica . E se houve alguma baixa no IRS, aumentaram os impostos indirectos que criam a ilusão de que temos mais rendimentos do que aquele que realmente temos.
Quando temos as condições para fazer diferente e preparar um futuro mais risonho, decidimos olhar para o umbigo e comprar a complacência de quem vota, está tudo dito sobre a qualidade de quem nos governa.
PS : Expresso - joão vieira pereira ( a partir de...)
Não é por o borrifarmos com perfume que ele deixa de ser lixo.
Até Outubro deste ano os bancos emprestaram às famílias 11,7 mil milhões, um valor que ultrapassa já o total do crédito concedido durante todo o ano de 2016.
Até Outubro deste ano os bancos concederam 3,4 mil milhões em crédito ao consumo, o valor mais alto dos últimos 11 anos.
Até Outubro deste ano os bancos concederam 6,7 mil milhões para a compra de casa.
Há 15 trimestres consecutivos que a procura interna está a subir o período mais longo deste século. E o consumo privado está no mesmo caminho.
É claro que também existem boas noticias das exportações, que infelizmente têm sido minoradas pelas importações, fazendo com que muitas vezes o contributo da procura externa seja negativo.
Já detectou o padrão ? Parece óbvio que estamos a crescer com o que não temos ou esperamos a vir a ter no futuro, pedindo emprestado agora, convictos de que um dia vamos conseguir pagar.
E as baixas taxas de juro ajudam à festa, criando a ilusão de que temos mais do que realmente temos.
Se continuamos a fazer as mesmas coisas vamos obter os mesmos resultados. E no dia em que deixarmos de ter os juros baixos, lá teremos de procurar quem pague as loucuras de hoje.
"A energia verde produzida pelas eólicas é dos maiores embustes criados pelos socialistas através dos longos dedos de José Sócrates e amigos. Com a desculpa de que o objetivo era criar um cluster e uma alternativa aos combustíveis fósseis na produção de energia, montaram um esquema maquiavélico. As empresas investiam milhares de milhões de euros com uma taxa garantida de rentabilidade, portanto sem risco, e o consumidor ia pagando através da conta da luz. O Governo ficava bem na fotografia, os investidores ricos, se calhar alguns governantes também, e os consumidores pagavam tudo sem se aperceberem. Algo tão escandaloso que, em comparação, faz das PPP rodoviárias um bom negócio para o Estado."
A grande mentira sobre as contas públicas começa numa ilusão. A austeridade que Centeno prometeu acabar está melhor do que nunca. Tinha prometido aos partidos da "geringonça" cortar E950 milhões na despesa. Afinal cortou mais de E 3 mil milhões. Se os números não enganam, porque passa a ideia que os tempos de apertar o cinto terminaram ?
A resposta está no tipo de cortes que o governo fez . Investimento, fornecimentos e serviços externos e contratos com o Estado. Quem trabalha para o Estado foi a grande vítima da austeridade do PS. No anterior governo o alvo tinha sido quem trabalha no Estado ou é por ele suportado. Em vez de salários e pensões o PS escolheu cortar nos gastos externos dos serviços e naquilo em que o Estado investe.
O mais curioso é que o PS está a aplicar à letra a recomendação da Troika de reduzir o défice por via da despesa. No fundo, a aplicar o programa do PSD de 2011 que este nunca conseguiu fazer.
...este ano vai continuar a reposição de rendimentos a funcionários públicos e pensionistas. E o garrote no investimento e gastos com os privados. A economia vai continuar a crescer uma miséria e o monstro começa a engordar. E, para animar a festa a dívida pública, aquela que ainda é "lixo", não para de crescer .Já vai nos 130,4% do PIB. E não dá sinais de diminuir.
Para terminar, fique com esta informação : a dívida pública irlandesa era de 120% do PIB em 2012 . Em 2016 ficou nos 75,4%.