Trabalhar dá saúde
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Para além de não servir para nada , o kit distribuído não passa do que habitualmente se chama "criar a necessidade do produto". Criado o mercado há que montar as empresas que vão fazer o negócio já que os subsídios europeus estão à mão do camarada, do filho ou do pai.
Basicamente o que nos dizem agora é que a gola que foi distribuída para defender as pessoas do fogo não deve ser usada junto do fogo. Compreendido.
Se era apenas para sensibilizar, o melhor seria não brincar com o fogo. Por mais persuasivos e educadores do povo quisessem ser aqueles que, no ano passado, distribuíram os kits, faltou-lhes atenção aos factos. Os factos: aqueles homens e mulheres, muitos deles velhos e atrapalhados, ouviram uma oratória, a tal campanha de sensibilização; e àqueles homens e mulheres, muitos deles fracos e temerosos, foi-lhes estendido um saco. Pergunta-se à Proteção Civil: o que mais ficou daqueles dias de campanha? As palavras ou a gola de poliéster? No dia do cerco do incêndio, olhos postos no saco do kit à porta, o que faria o sitiado? Não poria a perigosa gola antifumo na cara?
É que a gola não mata mas queima ainda que poucochinho.
Várias vezes ministro e agora primeiro ministro Costa não tem culpa de nada. É verdade que se um ministro fizer que faz mas não faz até pode passar por vários governos e não ter culpa de nada. Mas não é o caso.
Estivesse o Manel vivo e, se calhar, lembraria os portugueses que foi Costa, enquanto ministro da Administração Interna do governo de José Sócrates que extinguiu os guardas florestais, em 2006; foi Costa quem reduziu o orçamento da protecção civil em 10%; foi Costa quem cortou fundos aos bombeiros; foi Costa quem renegociou o contrato com o SIRESP, que custou 5 vezes o valor real, que depois o readquiriu e que continua sem funcionar; Foi Costa quem recusou a compra de 2 Canadair, negociados pelo anterior governo e financiados, em grande parte, pelos fundos europeus; Foi Costa quem mandou encerrar os 236 postos de vigia a 1 de outubro de 2017, apesar das previsões meteorológicas; Foi Costa quem aceitou mudar toda a estrutura e chefias da Protecção Civil poucos meses antes do início da época de fogos, cedendo a interesses, amizades e compadrios, mesmo contra o parecer dos generais que sublinharam a falta de competência e preparação das mesmas.
Mas António Costa não tem culpa dos resultados das suas decisões .
Nos incêndios como no SNS, na Justiça ou na Educação. Se não conhecemos porto de abrigo dificilmente encontramos vento favorável.
"É uma questão de perceber o que queremos: se continuamos a ter esta produção lenhosa intensiva e extensiva, ou se avançamos para outra modalidade agro-florestal", sublinha o engenheiro silvicultor, advertindo que, se não quebrarmos aqui esta corrente de fogo que deflagra ciclicamente no interior do país, dentro de pouco tempo "isto será um deserto sub-tropical". Quer dizer com isto que, dentro de poucos anos, quando desaparecerem os habitantes idosos que ainda se mantêm nas casas, o interior não terá condições de atrair moradores. De resto, Pimenta de Castro lembra que até os habitantes estrangeiros que vieram povoar muitas das aldeias desabitadas vão começar progressivamente a abandonar esses territórios. "Ou são apanhados pelo fogo ou começam a fugir dele, antecipadamente".
Entretanto já abriu a guerra entre Costa e os presidentes de câmara. Como já sabíamos o governo não tem culpa de nada.
Está tudo na mesma como a lesma. Quem o diz são as populações e os presidentes das câmaras que continuam a ver as suas propriedades a arder
Imaginemos que tínhamos conseguido revitalizar a indústria de serração e que hoje conseguíamos produzir o dobro do que produzíamos em 1995, e ao mesmo tempo se tivéssemos conseguido manter condições para termos o mesmo efectivo animal de pequenos ruminantes. Qual seria o impacto na área ardida?
Imaginemos então o resultado de políticas de promoção do uso de madeira nacional na construção, no mobiliário e como matéria-prima para utensílios do dia-a-dia, complementadas, por exemplo, com estratégias de valorização da madeira e da floresta enquanto “produtores de serviços de ecossistema”? Qual seria o resultado se essas políticas tivessem sido assumidas de forma consistente por todos os governos desde 1999? Teríamos hoje menos incêndios e menos área ardida?
Qual teria sido o resultado da incorporação defesa do nosso Mundo Rural, dos nossos produtos agrícolas e da nossa floresta em todos programas escolares? Será que os alunos da década de 1990 teriam hoje as mesmas escolhas no supermercado se tivessem sido ensinados na escola sobre o impacto das nossas escolhas enquanto consumidores? E se ao mesmo tempo tivéssemos promovido o produto gastronómico “borrego e cabrito” por exemplo através das cantinas públicas? Será que hoje precisaríamos de andar a “cortar mato” e a limpar as bermas das estradas?
Qual teria sido o resultado de campanhas constantes de valorização das diversas profissões rurais junto da população estudantil? Possivelmente não conseguiríamos inverter a tendência de diminuição da população rural, mas será que estruturalmente o nosso tecido produtivo seria tão frágil? E a capacidade em investir seria a mesma? E será que a vontade em plantar diversas espécies seria maior?
A culpa é dos sucessivos governos que não mandam limpar o combustível acumulado na floresta por anos e anos de incúria. Depois disto o ministro da maior reforma da floresta não se demite ? E o primeiro ministro que é o principal responsável da estratégia seguida em Portugal desde que foi ministro da administração interna ?
Qual foi a maior surpresa do que viu neste mês que aqui esteve?
A rapidez com que o combustível já aumentou desde a última vez que cá estive, em novembro de 2017. Piorou mesmo muito. Pensei que vinham aí grandes problemas de novo. O que vamos fazer? Reduzir o combustível. A minha equipa que esteve na zona de Pedrógão e em Monchique viu postes de eletricidade sem o terreno limpo de vegetação à roda, quando esta foi uma das causas de incêndios. Não estamos a aprender as lições. E digo "nós" a uma escala global.
O governo promoveu durante alguns meses a limpeza das florestas e muita gente fê-lo...
Mas tem de haver continuidade. Se não houver, o problema até piora. As sementes germinam mais depressa.
As políticas públicas deste governo são esta permanente mediocridade . E não é só na floresta.
Portugal tem uma quantidade catastrófica de combustíveis florestais.
No caso de Monchique a área ardida é proporcional ( na verdade igual) à area plantada. Já se sabia que é assim Monchique só confirmou . Os eucaliptais não ardem nem mais nem menos, ardem mais se forem a espécie com maior área plantada . Tal como as outras espécies.
O fogo de Monchique afectou os grandes tipos de floresta e mato na proporção quase exacta em que estavam presentes, não tendo “preferido” (nem “evitado”) nenhum deles, fossem eucaliptais ou sobreirais .
Lá se vai a teoria dos que odeiam a indústria da celulose.
Todos revelaram igual propensão para arder. Verificou-se o mesmo para tipos de ocupação do solo com menor extensão, como as áreas agrícolas e as de outros tipos de floresta, ou seja, a propagação do fogo foi essencialmente indiferente ao tipo de vegetação que encontrou pela frente.
Para além dos incêndios há outros fogos que ardem sem se ver .
...sabemos que há mais sectores onde caminhamos sistematicamente em cima do arame.
Sabemos que é assim com a sustentabilidade das contas públicas e da dívida. A bancarrota de 2011 tornou o problema evidente e inegável para todos. Mas nem tinha começado aí nem está resolvido. Longe disso. Entre a austeridade urgente assumida e a austeridade disfarçada transformada em gestão orçamental corrente, continuamos expostos aos solavancos económicos que, tarde ou cedo, acontecerão inevitavelmente.
Incapazes de reformar e tornar o Estado sustentável, achamos que é com cativações que o problema se resolve. Não é. A redução do défice que está a ser feita credibiliza o país e ajuda a conter a dívida mas o método seguido tem prazo limitado, como se tem visto pelo impacto nos serviços do Estado.
Com a Segurança Social não é diferente. Não há governo que não jure que salvou o sistema.
Tal como o ano passado António Costa desapareceu. O país arde e o primeiro ministro foge. É uma cobardia política inaceitável.
Na Grécia o primeiro ministro apareceu no local da tragédia e assumiu a responsabilidade política . O ministro da administração do território demitiu-se. Por cá não só desapareceu o primeiro ministro como o ministro respectivo ao fim de três dias veio aplaudir a coragem das populações. E é claro tudo está a correr como seria de esperar.
O ano passado ardeu onde havia material combustível acumulado este ano arde onde há material combustível acumulado. Nenhum avanço na estratégia. Depois de começar a arder foge o governo e aparecem os bombeiros. Tudo como dantes.
O país devia exigir que António Costa voltasse, interrompesse as férias e assumisse a responsabilidade política. É que fugir com a desculpa que estava fora do país não colhe quando a tragédia está prometida e em plena repetição.
O PCP e o BE não tugem nem mugem. Grandes partidos ao lado do (seu) povo em sofrimento.