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BandaLarga

as autoestradas da informação

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O portugueses vivem uma ilusão que vão pagar caro

«Henrique Neto defende que os portugueses vivem “uma ilusão”, porque “o país não está melhor” com a geringonça. Prevê que o PS não consiga a maioria absoluta e repita a aliança com os partidos de esquerda. Uma solução que, na sua opinião, impede uma política económica “mais arrojada”.

Diz que António Costa não tem capacidade para fazer as reformas que o país precisa e “governa com dois ou três amigos” e que Rui Rio não tem “ideias alternativas à geringonça”.»

Há cada vez mais pessoas a avisar mas o governo nada verá até às eleições. Nessa altura será tarde se não for antes.

A caminho de sermos um dos países mais pobres da Europa

A ilusão do milagre económico.

A realidade que sai das últimas projeções europeias é diametralmente oposta ao milagre económico. Se os números não estiverem completamente errados, Portugal terá sido ultrapassado em 2018 pelos países do Alargamento. República Checa, Eslovénia, Eslováquia, repúblicas Bálticas têm agora um rendimento per capita superior ao português. Não tinham há quinze anos. E eram países significativamente mais atrasados que Portugal há trinta anos. Mas as más notícias não param. Portugal desceu de 84% em 1999 para 78% do rendimento per capita europeu em 2018. Portugal está hoje mais distante da média europeia do que em 1999. E ainda há mais. Olhando os países que ainda estão atrás de Portugal em 2018, se as trajetórias de crescimento não forem significativamente alteradas, Croácia, Hungria e Polónia ultrapassarão Portugal na próxima década. Quer isso dizer que, dentro de dez anos, com enorme probabilidade, apenas a Bulgária e a Roménia serão mais pobres que Portugal. E veremos o caso grego.

O governo a jogar sozinho

Quando se compara os indicadores com os outros países da Europa percebemos que o país que nos vendem é uma ilusão.

Vamos voltar a crescer a um bom ritmo este ano. Mas o que importa é saber como estamos a evoluir em termos relativos. Qualquer jogador pode pensar que é o melhor do mundo se jogar sozinho, mas é quando se compara com os outros que percebe em que campeonato pode jogar. E no do crescimento estamos perto da despromoção para a terceira divisão distrital.

Temos o menor défice da democracia, mas é o sexto pior da zona euro. A dívida pública está em queda, mas é a medalha de bronze no pódio dos que mais devem. Vamos crescer 2,3% (ou qualquer valor próximo), mas é o sétimo pior registo entre os 28 países da União Europeia. Temos a taxa de desemprego mais baixa dos últimos 14 anos, mas temos o segundo menor crescimento de produtividade de toda a Europa.

Quando estiver tudo revertido estaremos no dia 6 de Abril de 2011

bessa.jpg

 Menos ilusão e mais sensatez, diz Daniel Bessa. No essencial a política seguida pelo actual governo é reverter o que foi feito no período da troika até chegarmos à situação de 6 de Abril de 2011 dia em que pedimos ajuda externa.

Desta forma o governo quer dar a entender que não houve crise e que as medidas que agora reverte não eram necessárias. Mas a verdade é que foram estas medidas que agora se revertem que tiraram o país de uma situação de desequilibrio profundo.

O Presidente da República já veio dizer que " não pode haver a ilusão de voltarmos à situação anterior à crise" e pediu "sensatez" .

Oxalá seja ouvido.

Marcelo : "é uma ilusão "

"Numa conferência sobre educação, Marcelo Rebelo de Sousa deixou vir ao de cima uma opinião que se aplica como uma luva às reivindicações dos professores", escreve o Público. E que disse o Presidente da República nestes dias em que os professores exigem do Governo que "reponha os contadores" do tempo de carreira como se os anos da crise não tivessem acontecido? "A crise deixou marcas profundas, é uma ilusão achar que é possível voltar ao ponto em que nos encontrávamos antes da crise – isso não há!” E foi mais longe, apontando outra ilusão: “A segunda ilusão é achar que se pode olhar para os tempos pós-crise da mesma forma que se olhava antes [para os problemas], como se não tivesse havido crise. A crise deixou traços profundos e temos de olhar para eles”.

"Como uma luva", escreve o Público, e bem. E Marcelo continuou: “A sociedade tem de ter a coragem de assumir os seus problemas. Mas há muito a tendência portuguesa para o ‘mais ou menos’, o ‘assim-assim’, ou a tendência de ‘ganhar um tempinho’. É quando alguém pensa: ‘Bem, consegui ganhar um tempinho. Com sorte isto não dá errado’”. Ora, concluiu o PR, “a opção por ‘ganhar um tempinho’ normalmente não dá bom resultado”.

O recado de Marcelo vai direitinho para professores, sindicatos, partidos da esquerda e Governo. Quando os professores tentam recuperar o que perderam na crise, mantendo o resto na mesma, e depois de assinado um acordo, propositadamente vago, adiando para dezembro o regresso às negociações, fica clara a oposição do PR em relação ao princípio e ao método.

PS : Expresso

Conselho de Finanças Públicas : a ilusão orçamental

Entre tantos ceguinhos o CFP tem um olho e por isso é rei. Anda a avisar e já foi objecto de tentativa de silenciamento . Infelizmente a realidade dá-lhe razão.

Quando os juros voltam aos níveis de 2015 e a economia corre para 2008 e o primeiro ministro lhes chama as " maiores vitórias do século" não se aceitam vozes incómodas nem realidades trágicas.

Na leitura do Conselho das Finanças Públicas, Mário Centeno limita-se a fazer o mínimo para tentar passar o teste de Bruxelas, procurando uma situação de ilusão orçamental, em que um ajustamento numérico não respeita as regras europeias de consolidação estrutural, que são essenciais para se possam atingir objectivos sustentáveis de crescimento, redução de desigualdade e melhoria dos serviços públicos.

A consolidação estrutural no biénio 2017/18 é de 03% quando o que Bruxelas espera é de 06% . Nos dois anos ficamos pela metade o que se traduz numa fragilidade que o mais pequeno abalo externo derrubará.

Mas dizem que está melhor apesar das tragédias, da degradação dos serviços públicos e do aumento insustentável da despesa rígida pública .

É o que se chama " ensaio da cegueira" agora com outro autor.

A ilusão do sucesso

efeito base engana muito incauto. Comparar com uma base baixa dá percentagems de crescimento elevadas. É o que está  a acontecer em Portugal.

Neste momento vivemos na ilusão do sucesso, mas que será desfeito já em meados de Novembro, quando for divulgada a estimativa rápida do PIB do 3º trimestre, que deverá mostrar uma clara desaceleração em termos homólogos. Antes disso, o governo terá divulgado o cenário macroeconómico referente a 2017 e 2018, onde se deverá constatar que o crescimento para o conjunto do corrente ano será pior do que o 1º semestre, indicando que o segundo semestre deverá ser pior do que o primeiro. Para além disso, é muito provável que a previsão de crescimento para 2018 seja de desaceleração, reforçando a ideia de que não virámos nenhuma página em relação à quase estagnação dos últimos 16 anos.

Se não atingimos o sucesso, muito pelo contrário, isto tem que ser claríssimo e um governo que não quer reconhecer isto tem que pagar um preço político elevado pela sua omissão.

Jaime Gama : tudo isto é ilusório

histórico socialista põe a boca no trombone . Há uma ilusão geral sobre a actual situação.

Alerta que "é muito fácil pregar as situações óptimas" e que "a opinião pública está anestesiada porque lhe é escamoteada a compreensão do problema [da dívida] e lhe é permanentemente afirmada a oferta ilusória que é impraticável". "A realidade far-se-á sentir na altura própria," adverte.

"Imagine o que é a perspectiva do endividamento português quando o BCE resolver deixar de comprar dívida aos Estados-membros. (…) Esses cenários não são discutidos. (…) Há uma ilusão geral muito grande em relação à situação que envolve a economia portuguesa," afirma esta quinta-feira, 23 de Março, o histórico socialista em entrevista a Maria Flor Pedroso, na Antena 1.

E critica ainda a ilusão de que Portugal conseguirá trilhar o caminho da recuperação da dívida sozinho e de que conseguirá limpar o passivo com o "aplauso" dos credores. "Acho que há aí uma ingenuidade enorme. (…) É uma matéria sobre a qual é possível fazer toda a espécie de demagogia, mentindo e salvando a sua imagem com propostas absolutamente ilusórias," acrescenta.

Mentira, ilusão, esconder, escamotear . Vindo de um socialista não está mal.

A ILUSÃO DE SERMOS PAIS - Prof Raul Iturra

 

Retirado do meu livro de 2008: A ilusão de sermos pais, texto completo que pode ser acedido, com notas de rodapé, em:

http://br.monografias.com/trabalhos913/licoes-etnopsicologia-infancia/licoes-etnopsicologia-infancia2.shtml#xoreal

http://www.youtube.com/results?search_query=Tchaikovsky%20Rococo%20Variations&search=Search&sa=X&oi=spell&resnum=0&spell=1

Soo Bae - Tchaikovsky Rococo Variations Part 1/2

 

 

 

1. Sermos pais.

Devo reconhecer que não sei se este deve ser o primeiro ponto da matéria a tratar, esta de se ser autor da vida biológica, emotiva e intelectual de uma nova geração. Preciso reconhecer que o conceito de paternidade, me tem sido impingido pela cultura na qual vivo, a romana ocidental. Bem como gosto dizer que paternidade, a meu ver, inclui os dois géneros, como hoje em dia se define. Definição criada na luta dos finais do Século XX e estes anos do Século XXI, começada com a luta denominada Sufragista de finais do Século XIX. Épocas, todas elas, para definir uma igualdade entre seres humanos de genitais diferentes: falo e vagina, mamas que oferecem leite e amamentam, bem como mamas estéreis para criar. Talvez, ambas, para exibir de forma erótica e seduzir uma ou outra pessoa - do mesmo sexo ou de sexo diferente.

Complexo. É-me difícil falar da relação paternidade - filiação, por terem mudado dentro da nossa cultura as referências ao acasalamento. Mudança feita em curto espaço de tempo, em Portugal e em toda a Europa. Aliás, alguns países europeus definem a paternidade de forma diferente do nosso: os denominados países nórdicos como a Noruega, a Dinamarca, a Holanda, para casos determinados a Grã-Bretanha, ou o Estado Catalão do Reino da Espanha, definem o acasalamento como a união entre duas pessoas capazes de organizar uma descendência, adoptiva ou descendente consanguíneo de um dos membros do casal.

Porque sermos pais permite, hoje em dia, uma outra actividade, já universalizada, o denominado divórcio, ou dissolução do contrato entre um homem e uma mulher que a nossa lei refere como "nubentes" ou pessoas comprometidas para casar [39]. Nubente é um conceito do primeiro Código Civil Português e foi ficando no que eu gosto denominar, a alergia ao saber comum que os eruditos têm do povo. Porque de facto, o conceito nubente, mencionado já nos Evangelhos cristãos, foi adoptado pelo Direito Canónico e pela lei civil e significa ser livre [40]para contrair compromisso de casamento, como manda o Artigo 1591 do Código Civil Português. Por outras palavras, as ideias religiosas desde a antiguidade da nossa era prescreviam liberdade para se ser pai. E a Concordata assinada em 1945 entre os estados Vaticano e Português e ratificada por convénio em 1995, dentro da lei positiva está presente no Código Civil Português, nomeadamente no seu Livro IV, Título II, Capítulo I, "Modalidades de Casamento", entre as quais se legisla o Matrimónio Católico [41].

Sermos pais acaba por ser uma definição escrita de costumes adquiridos ao longo do tempo. Até ao ponto de existir um conjunto de regras que definem o comportamento de vai e vem das emoções, do carinho, do cuidado, do olhar, do sentimento gratuito e recíproco que tinha na minha cabeça no minuto de pensar essa frase, já para mim, conceito. Sermos pais. Como diz Eduardo Sá no seu texto de 2003, ao falar de resiliência, conceito de Boris Cyrulnik [42], a ser definido mais á frente: "...o bebé nasce na cabeça dos pais..." [43]. Esta frase, retirada do contexto mencionado em nota de rodapé, diz respeito á minha procura emotiva da criança e por observar que o adulto entende que esse ser é resultado do amor, do desejo que nasce dos olhos, desse mirar sem pestanejar, profundo, calmo, seco, terno, da profundeza do amor que nasce da entrega de um ao outro - distante dos comentários da praça pública, esse fazer amor por erotismo. O erotismo permite sermos pais? é a frase que cunhei para um texto meu, como subtítulo[44]. Ou ainda, o poema de paternidade sabida por se ser pai, não por ser erudito, cuja quarta versão revista fala de forma tão determinada acerca da necessidade dos filhos para os pais crescer [45]. Aí é preciso distinguir entre a paternidade e o ser humano adulto que os Código Civil, o de Direito Canónico, o Catecismo de Wojtila, definem. Na página 39, o capítulo praticamente abre com a ideia definida pelo autor: "Talvez a primeira função de uma pessoa seja ser mãe" [46]. O meu comentário é quase autobiográfico: na altura da minha primeira paternidade -maternidade, tinha "proibido " em casa os cor-de-rosa, estava certo de o meu primeiro descendente ser um rapaz e os pequenos, por costume, vestiam de branco ou azul faz já trinta anos...Quando vi sair a pequena que adoro, não precisei esperar ver os genitais, era tal e qual a minha sogra...e assim ficou linda até ao dia de hoje, como a sua mãe. Donde, sermos pais, é o conceito de ternura para com esse ser pequeno, de pés descalços, indefeso se não for pelos cuidados de ser amamentado pela mãe na companhia silenciosa e de mãos dadas, do pai. Essa ternura que nasceu na cabeça, das brincadeiras românticas da intimidade a dois, de se passar a ser um á espera do outro e continuar aser esse um, até ao suspiro final que descansa a atenção de saber que de dois, há um no minuto da concepção ou no minuto de alimentar o desejo da paixão que permite solidificar o casal - com ou sem matrimónio - salvar-se dos conceitos de Édipo impingidos entre nós desde 1906, de não sofrer por sentimentos nunca acordados do incesto, como Françoise Héritier, Boris Cyrulnik e outros, nos lembram em 1994[47]. Esse incesto universal como conceito, mas de diferente "textura", estrutura e processo, de exógama clãnica e não consanguínea, como entre nós. Como Bronislaw Malinowski [48] nos lembra e que vamos analisar a seu tempo.

Será que todos estes factos da relação adultos/criança são culturalmente entendidos? Será que, a relação paterna/materna é a de todo o adulto com toda a criança? A minha observação dos factosdiz, não. As minhas conclusões de facto dizem sim, ou que, pelo menos, é preciso trabalhar forte e duro para criarmos grupos sociais, com ou sem recursos abundantes, não só por causa da afectividade simpática e serena, bem como pela necessidade de transferir essa outra parte que todo o adulto sabe: optar, decidir, distinguir. Estes três conceitos, retirados por mim das minhas análises económicas que fazem parte do real, são para expandir á Dante, á Erasmus, á Philippe Buonarroti, á Bento Espinoza, á Tomás de Aquino - o introdutor de Aristóteles via Averröes entre nós - a capacidade de filosofar e pensar com arte,sermos pais.

Sim, é verdade que a denomino a ilusão desermos pais. Por dois motivos: porque os mais novos em breve serão os adultos do grupo social e mudando na hierarquia por meio de vários processos rituais, formam a sua casa, o seu lar, a sua distância. Essa altura das nossas vidas quando, mais uma vez, ficamos pais sem filhos por perto: na nossa afectividade e, eventualmente, no cumprimento ou no pedido de conselho. Ideia a estudar mais á frente da forma simples com que sempre tenho analisado o facto que me parecia o mais importante: toda sociedade está dividida em duas culturas, a dos pequenos e a dos adultos [49]. Ideia que começara a defender em 1998 no meu texto sobre o imaginário infantil [50]. Mas, o facto de entrar com mais cuidado nas ideias de Émile Durkheim, Marcel Mauss e de Georges Devereux, -me reparar que toda sociedade tem adultos e crianças, mas apenas uma cultura. Esta ideia apareceu ao lembrar os meus primeiros estudos e fui ao código e á lei. é o segundo assunto, que passo a estudar.

A cultura tem formas de comportamento denominadas costumeiras. No entanto, elas estão codificadas e poucos conhecem essa prescrição. Estamos, no entanto, na altura de a incorporar no nosso quotidiano.

2. Amor de colo.

Amar, amo, e tomo conta dos meus adultos porque nasce da minha alma, da mesma forma que aprendi a tomar conta dos meus descendentes, ainda que á distância. O direito tirou-nos a alegria de amar, as penas de prisão estão ao pé de nós se não cumprirmos o que a lei manda e que, em Portugal, o Catecismo apoia. Textos normalmente ignorados pelos estudiosos de seres humanos e, especialmente, de crianças. Debate esse que tenho tido com uma imensidão de eruditos e pessoas da rua, para sermos capazes de nos governar e assim proteger melhor os mais novos: é dizer, ensinar melhor os mais novos dentro da racionalidade da sociedade em que vivemos. Racionalidade nascida do cálculo económico que permite a existência de recursose reprodução biológica e afectiva. Se falei de dar colo no início do parágrafo, foi para definir o conceito introduzido por Cyrulnik especialmente no texto de 2003 [51]: quanto mais pais somos, mais damos ideias aos mais novos, mais liberdade para aprenderem a proteger-se na interacção social. O livro abre com perguntas endereçadas aos mais novos, através dos seus adultos que entendem. Uma das questões chamou a minha atenção: "que violência traumatizante é essa que dilacera a bolha protectora de uma pessoa?", para se responder com a frase de abertura do texto, na mesma página:  "Só se pode falar de resiliência se tiver existido um traumatismo seguido da retomada de um tipo de desenvolvimento, uma fenda reparada"[52].

É esta ideia que me permite saltar para a lei. Os processos emotivos espontâneos devem ser como a lei manda. Essa letra conhecida pelos que sabem regulamentar o comportamento da população e que a populaça ignora: donde, resiliência do povo ou da maior parte dos habitantes de um país. Se pensamos na paternidade, que definiria como o melhor papel de educador, ela é definida assim: ARTIGO 1871º

(Presunção)

1. A paternidade presume-se:

a) Quando o filho houver sido reputado e tratado como tal pelo pretenso pai, é reputado como filho também pelo público;

b) Quando exista carta ou outro escrito no qual o pretenso pai declare inequivocamente a sua paternidade;

c) Quando, durante o período legal da concepção, tenha existido comunhão duradoura de vida em condições análogas ás dos cônjuges ou concubinato duradouro entre a mãe e o pretenso pai;

d) Quando o pretenso pai tenha seduzido a mãe, no período legal da concepção, se esta era virgem e menor no momento em que foi seduzida, ou se o consentimento dela foi obtido por meio de promessa de casamento, abuso de confiança ou abuso de autoridade.

2. A presunção considera-se iludida quando existam dúvidas sérias sobre a paternidade do investigado.

(Redacção do Decreto - Lei 496/77, de 25-11)[53].

A primeira frase é definidora e fria, não dá lugar a emotividade. A paternidade está longe de ser as ideias que comentava páginas atrás, no nascer da paixão. Não digo que não exista paixão na "feitura" de um filho. Queria apenas dizer que a interacção social não tem por base o acarinhamento, mas sim a prova. Será que, homem da minha cultura, eu posso dizer que a prova não é necessária? E a inteligência humana, a sua racionalidade e o conhecimento existente entre vizinhos do mesmo grupo? Não consigo deixar de mencionar uma história, já publicada a e analisada por mim no meu Jornal A Página: Conceição, a Sardinheira, como era denominada, foi abandonada pelo marido que emigrou para a Argentina. Os anos foram passando e ela criou o filho vendendo sardinhas e limpando casas. Um dia, oito anos depois do marido ter saído e nada se saber dele, aparece na Conservatória do Registo Civil da Vila para declarar o nascimento da sua filha. O Oficial, conhecedor da senhora e da lei, solicitou provas de paternidade e perguntando de forma arrogante: "o teu marido voltou?". Ela nada respondeu e ele, no cumprimento da lei, retorquiu: "mas, onde é que ele está, para inscrever a pequena?" Então ela diz: "Oiça, meu senhor, não tem aí o Livro de Casamentos?" E lêem juntos com quem está ela casada, concluem que sim, esse é o marido e, é evidente que é o pai da filha porque não se sabia de outro homem da senhora. E, como bom vizinho, aceita a resiliência de Conceição e inscreve a pequena com o nome do marido, sendo a prova a certidão de matrimónio. Por outras palavras, a vida dura anterior de Conceição Lopes e o conhecimento que da mesma tinha o Oficial do Registo Civil, desenvolve uma nova situação. Como diz Cyrulnik, a ferida faz parte da vida de Conceição - o marido ausente - e com essa ferida retoma o seu caminho em ruptura com a vida anterior de mulher pobre e abandonada, e ninguém na Vila nem na aldeia faz comentário nenhum e a pequena é aceite, comemorada, cresce, um dia casa e vai andando: a prova da paternidade foi feita...de outra maneira....com resiliência mutua e recíproca.

Continua o Código, tal e qual o Catecismo de Wojtila, ao debruçar-se sobre direitos e deveres da filiação. Diz o Código Civil:

ARTIGO 1874º

(Deveres de pais e filhos)

1. Pais e filhos devem-se mutuamente respeito, auxílio e assistência.

2. O dever de assistência compreende a obrigação de prestar alimentos e a de contribuir, durante a vida em comum, de acordo com os recursos próprios, para os encargos da vida familiar.

(Redacção do Decreto - Lei 496/77, de 25-11) [54]

            Estas palavras não apenas incluem direitos económicos, bem como comportamentos que hoje em dia denominamos de não-violência doméstica: a punição sem motivo ao mais novo, a luta entre os pais quando a mãe defende um filho injustiçado pelo seu marido, e, especialmente, relações que tenho referido noutros textos, denominadas de abuso sexual dos mais novos pelos seus progenitores, que vou referir no Capítulo correspondente. é mais claro neste sentido, o Catecismo de 1992 de Karol Wojtila, ao falar de que honrar pai e mãe não é apenas o amor - nem sempre possível diria eu - mas uma situação de interacção social difícil por causa do crescimento e autonomia dos pequenos[55]

            Como acontece com os códigos denominados positivos, o catecismo fala da Sociedade Civil na sua versão geral e manda os cidadãos submeterem-se aos seus superiores como representantes de Deus: " O amor e o serviço da pátria derivam do dever de reconhecimento e da ordem da caridade. A submissão ás autoridades legítimas e ao serviço do bem comum exigem dos cidadãos que cumpram o seu papel na vida política...pagamento de impostos, o exercício do direito de voto, a defesa do país..."[56]. O que dizem estes catecismos, tal como os códigos é para evitar surpresas que podem danificar a população e causar um não desenvolvimento na interacção doméstica e dentro dos indivíduos. Só que, o conteúdo destes textos, diz respeito apenasaos grupos sociais que não estão dentro das hierarquias dominantes. Mais uma vez a ilusão de sermos pais, porque devemos entender estes textos e ensiná-los aos nossos descendentes, com a denominada democracia e as formas globalizadas de partilhar uma economia altamente dividida entre países e grupos. A guerra recente do Golfo para libertar a um povo que não parecia estar oprimido, é um indicador da nossa dificuldade como adultos, de indicar aos mais novos quem tem a razão e quem está a enganar-se ao enganar-nos. O próprio Código Português, como os Códigos Latinos ou Napoleónicos do Ocidente, têm um título derivado do poder paternal. Pelo que sermos pais acaba por ser um derivado de formas patriarcais e cheias de masculinizações de comportamentos. Formas de masculinidade entendidas como poder patriarcal. Eis a divisão do trabalho entre um pai que chega a casa para ser servido por mulheres que hoje em dia trabalham, como tenho referido nos meus textos de 1998 e de 2002 a) e b)[57]. O artigo 1877 do Código Civil Português diz que, os filhos estão sujeitos ao poder paternal até a maior idade ou emancipação, enquanto o artigo seguinte, de forma lata, define a obediência que devem os filhos aos pais: "ARTIGO 1878º·

(Conteúdo do poder paternal)

1. Compete aos pais, no interesse dos filhos, velar pela segurança e saúde destes, prover ao seu sustento, dirigir a sua educação, representá-los, ainda que nascituros, e administrar os seus bens.

2. Os filhos devem obediência aos pais; estes, porém, de acordo com a maturidade dos filhos, devem ter em conta a sua opinião nos assuntos familiares importantes e reconhecer-lhes autonomia na organização da própria vida.

(Redação do Decreto -Lei 496/77, de 25 -11) [58].

De entre a comprida legislação sobre a filiação e o poder paternal - entenda-se dos pais em conjunto - a seguir á reforma do Código, escolhi este número apenas para salientar as formas de autoridade que, com conhecimento ou sem ele, a cidadania age como se o poder paternal fosse ainda maior e á antiga.Com efeito, nos factos observados, é possível apreciar essa forma de aceitar a condição de autoridade suprema de chefe de família, do marido. E, no entanto, a lei civil actual, tem tentado diminuir esse poder que fica muito mais lato nas formas culturais de comportamento ou, como eu defino a Etnopsicologia, os parâmetros culturais que orientam os sentimentos, como vou referir mais á frente, No Catecismo Católico, como noutros, a procura de sermos pais experimenta universalizar a ideia da autoridade sobre os mais novos, bem como a da emotividade dentro do grupo familiar, como fez o Imperador Justiniano no seu Código de 535. De facto, pode sintetizar-se a procura de harmonia e paz dentro do grupo familiar e diz assim ao longo dos 12 Livros do Código e das Sete Partidas do Digesto ou texto para entender a interacção social que define o Código:

1.2. LA FAMILIA COMO PRESUPUESTO DEL DERECHO HEREDITARIO.

La familia se distingue de las demás organizaciones por su sentido patriarcal, siendo el pueblo romano una comunidad de familias representadas cada una por un pater familias. La persona más importante de la familia es el pater familias, que tiene que ser un hombre y no una mujer, siendo la única persona que es sui iuris (persona independiente), mientras que los demás miembros de la familia son alieni iuris (personas sometidas al pater familias). El pater familias ejerce 3 tipos de patria potestad:

- Domenica potestas: sobre los esclavos:

- Manus potestas: sobre la mujer.

- Patria potestas: sobre los hijos.[59]

É verdade que estava a referir o Catecismo Romano, mas o catecismo Romano é a base de todos os textos que orientam a nossa interacção e, especialmente, as relações pessoais dentro do que é denominado grupo familiar. De facto, as ideias retiradas por Justiniano para a sua recompilação de Editos, decretos e leis, são já derivadas do Código Gregoriano que, por sua vez, deriva dos debates de vários Códigos que legislam sobre a família, sendo o Código Gregoriano, compilado pelo rei dos Visigóticos, Alarico II em 506 [60], após o seu pai ter entrado em Roma em 410, saqueado e tentado apagar a memória já cristã, sendo-lhe, contudo, impossível retirar o denominado direito eclesiástico, cuja memória governara Roma até Tibério. As ideias estavam compiladas em textos góticos e cristãos, retirados da Bíblia e dos Evangelhos. A compilação feita por Justiniano foi capaz de juntar uma memória romana e outra cristã, as duas patrísticas, especialmente com os textos de Agostinho de Hipona e as suas homilias que levara a interacção á base da solidariedade e da caridade, da hierarquia e da obediência á Divindade, representada pelo Pater Famílias. As ideias romanas desde o Século IV até hoje e espalhadas por outros povos ao longo dos séculos da nossa era, formam a memória de sermos pais, uma resiliência de grupos sociais em luta, unidos por apenas uma ideia que Hipona sintetizou no seu livro Confissões - que inaugura uma estrutura de comportamento público de culpa e arrependimento - a capacidade de optar entre o bem e o mal para se ser bondoso e específico na interacção, ou Livre Arbítrio. O seu texto político, A Cidade de Deus, defende ideias de governo interno e externo, baseadas na caridade e o amor ao outro, especialmente á cidade que é da família [61]. Ideias derivadas do denominado Código da Bíblia, ou, por outras palavras, estrutura de relações baseada na ideia de Patriarcados ou supremacia do pai sobre os descendentes, a mulher e as pessoas da casa. Este é o facto emotivo que organiza o conceito de sermos pais, como passamos a analisar. Com esta breve nota de comentário: mais de dois mil anos de vida patriarcal, incluindo a cultura grega de 400 anos antes da nossa era, acumula na memória uma ideia difícil para a ilusão de sermos pais, com uma forte resiliência da parte do povo para entender as formas reais de uma interacção hierárquica de subordinação. O Pai de Família tem, maioritariamente, direito sobre os bens. As potestades enumeradas mais acima compiladas por Justiniano I - o segundo Justiniano I por o seu ancestral se ter aborrecido de ser Imperador passando o número a Flávio Anício Justiniano Magno seu sobrinho, o do Código. A enumeração sintética começa por falar dos que não têm direito á sua pessoa, aos seus bens, á sua liberdade e á disposição de movimentos ou de opinião. Ainda menos, a manipular recursos. Se repararmos na definição da sociedade romana, lemos já que é um conjunto de pater famílias: por outras palavras, a obrigação de se ser pai, ou o conjunto de pais, serem representantes de todos os que o não são. Ser pai poderia definir-se como o símbolo reprodutor de um grupo social, o ser humano do falo, o ser humano do esperma que transfere a outros, ou em pessoa e faz filhos, ou em gestão, e toma conta de recursos que permitam continuar dentro de História, com posses suficientes para fundar um outro grupo social de patriarcado. Da listagem, poderíamos apreciar que existe "muito colo", muito pai e falta de capacidade para ser livre e pensar por si próprio. No Livro II, Título XXIII do Corpo do Direito Civil Romano de Justiniano, podemos ler: " Si tu hermano estaba bajo la potestad de su padre cuando recibió una cantidad en mutuo, y el contrato no se hizo ni por mandato de él, ni contra el tenor del senado consulto, pudo a causa de la fragilidad de la edad pedir la restitución de la cantidad por entero....No se le prohibirá al hijo de familia, si siendo menor de veinticinco años salió fiador por un extraño, pedir la restitución por entero....Emperador Jordiano Augusto, Calendas de Julho [62].

Raúl Iturra

20 de Março de 2014.

lautaro@netcabo.pt

O conteúdo das notas de rodapé estão definidas no libro citado ao começo do texto