Porque, se formos ver com alguma calma, a ação deste Governo, apesar da sua popularidade e do clima de otimismo e confiança que provocou, é, em si mesmo, uma homenagem aos esforços do Governo anterior.
Para o demonstrar sem grande esforço basta ver que, para repor salários e pensões (de molde a que agradou, mas não entusiasmou os beneficiados), mantendo os compromissos europeus sobre a trajetória da dívida, o Governo do PS deixou degradar inúmeros serviços públicos. O que seria dos grandes defensores do SNS ao verem o que se passa hoje, caso o Governo fosse de direita? Ou o que se passa na Educação? Ou no aeroporto? Ou na CP? Ou nas Forças Armadas e a trapalhada de Tancos? Ou em tantos outros sectores em que o PSD ou não se faz ouvir ou não consegue fazer-se ouvir? A degradação destes serviços (e de muitos outros) é uma continuação da austeridade que poderia ser mitigada caso fosse dividida por todos. Ao privilegiar sectores como os da Função Pública, onde se situa a grande base de apoio eleitoral dos partidos que sustentam o Governo, prejudicou todos os outros. Apesar de serem, principalmente, esses ‘todos os outros’ que têm feito, com o seu esforço, o país andar para a frente.
Ser detestado até na hora da morte por tiranos e tiranias é sinal que se fez alguma coisa de relevante.
"...não é preciso elogiar Belmiro de Azevedo na medida em que os partidos comunistas com representação parlamentar já se encarregaram disso. Ao negar, por oposição assumida ou abstenção cobardolas, o voto de pesar na AR, PCP e BE prestaram ao dono da Sonae a maior homenagem possível: é bom que uma pessoa parta entre o amor dos que lhe são próximos, e o ódio dos que lhe são distantes. Ser detestado, até na hora da morte, por uma corja devota de tiranos e tiranias é sinal de que, nas horas da vida, se fez alguma coisa bem feita. Será com certeza o caso.
Na verdade Mário Soares foi o mais importante travão do caminho comunista "Rumo à vitória" de Álvaro Cunhal. É, pois, natural que os comunistas lembrem isso mesmo, " as profundas diferenças políticas " . Nada mais correcto.
O que há a dizer é que do lado de Mário Soares estavam (estão) mais de 80% dos portugueses, repetidamente confirmados em 40 anos de eleições.
Almoços de homenagem a um político que o Ministério Público investiga na base de existirem fortes suspeitas de crimes praticados enquanto Primeiro Ministro. Que país é este ?
Chamam-lhe menino de ouro e estadista. Um politico que levou o país à bancarrota. Mas mesmo que assim não fosse o que leva políticos ressabiados e povo anónimo a fazer estas figuras ? Agradecem o quê ?
Não acreditam na Justiça ? Se é assim lancem uma petição para que ao nível mais alto do Estado se façam as necessárias mudanças. Em Democracia a Justiça responde perante o Parlamento e este perante o povo.
Para que servem os almoços ? A Justiça vai deixar de investigar porque há umas centenas de pessoas que se juntam para almoçar e, com isso, dar uma oportunidade ao ex-primeiro ministro de aparecer nas televisões ? A Justiça tem medo do que Sócrates poderá dizer ? Ou a ideia é facilitar a participação na vida politica mesmo na situação de arguido, agora que aí estão as presidenciais ? Operação de lavagem ?
Acho que o próprio tem todo o direito de participar na vida social e politica agora, o que move os apoiantes é que me escapa de todo. O que sabem eles do processo ? Acreditam na narrativa ? Têm todo o direito de acreditarem, como eu tenho o direito de não acreditar, mas nunca me passou pela cabeça promover um almoço de homenagem ao Inspector Rosário Teixeira.
No outro dia a magistrada Maria José Morgado - lutadora pela liberdade antes do 25 de Abril - num programa de televisão sobre o assunto, perguntava : mas acham que os magistrados e os trinta e tal juízes que nos tribunais de todos os níveis, consideram as provas reunidas sólidas, estão todos malucos ?
Meu Caro Mário: o que me lembro de ti, do teu bom humor, do teu saber, dos anos que passamos juntos no então ISCTE, hoje ISCTE-IUL. Sempre foste um bom conversador. O que ensinavas era uma matéria dura demais. A demografia passa pelos números, explica o ser humano de forma aritmética e o que se diz dele, nem por isso é divertido. Más, tu sabias bem como por o rir nas pessoas, porque juntavas a árida demografia com os amores que saltava de números a paixão. Com a paixão, o mundo, o mundo não envejecia, apesar de que os teus números revelavam que a nossa Nação ia-se converter num país de velhos porque ninguém queria entrar na obrigação de formar famílias com crianças que coram a noite, que sujam as fraldas, que devem ser ensinadas, ir para a escola, ensinar-lhes a ler e escrever antes da primária e gastar em livros e roupas.
Não eras forreta nem te importava que os novos pais gastassem o seu tempo e os seus raros recursos em criar. Bem ao contrário, a tua propaganda era o combate a falta de seres novos e de como os ensinar. A tua ciência não fez de ti um ser fechado nem grave por saber que Portugal ia a falência de crianças, passando a ser um país de velhos. Especialmente desde 2011, quando os mais novos tinham que procurar alternativas em outros países, por estar este fechado à reprodução, ao saber e a economia.
Com o teu eterno charuto nos lábios, milhares de vezes te convidara a visitar o interior do país, especialmente as partes altas, em que sem crianças não havia agricultura e sem vegetais, faltavam a comida e o prazer de viver, as entradas de dinheiro desapareciam se os mais novos não se aplicavam à semente de batatas e de milho para o consumo e o cuidado dos animais dos que vivíamos.
Foste sempre muito urbano e colado aos livros. A vida rural não era para ti. Nunca aceitas-te os meus persistentes convites. Antes, ensinavas como ensinar, como nesse trabalho em conjunto que realizamos no Conselho Pedagógica, após do abandonar Mário Pinto, Catedrático do Porto, Rogério Roque Amaro para preparar o seu doutoramento ou trabalhar em bairros de lata. Foste ficando só, mas ladeado de pessoas novas que fizeram do Conselho, um manancial de transferência de saberes.
Trabalhavas da manhã à noite entre aulas, teses orientadas a tua escrita rara mas profunda. A tua juventude tornou a ti quando te namoraste de una aluna bem mais nova que tu e fez de ti um homem feliz, uma estudante da quase a metade dos anos da tua filha de trinta que a tua demografia te ensinou a fazer.
Acabo de saber que já não estás entre nós, que como Vasco Graça Moura nos deixaste exatamente uma quinta-feira depois que o Vasco. Ele nas festas do 25 de Abril, tu, nas comemorações do dia do trabalhador.
Mais nada vou a acrescentar, saber pelo jornal que um coração amante nos tinha abandonado, foi uma triste notícia para mim no acordar do dia de hoje. O teu saber vive nos teus textos e na cabeça dos teus estudantes.
Não sou homem de fé, tu também não, mas a nossa amizade fez de nos não apenas colegas, bem como dois seres sorridentes, de almoçar juntos, de nos visitar em casa.
Fica em paz Mário, que a tua paz se abra à nossa e a o teu departamento de Sociologia, a quem entrego os meus sentimentos.
Não estar na Basílica, bem sabes que não posso transferir-me com facilidade nem morar ao pé das emoções. Mas, para mim, ficas nestas letras endereçadas a ti. Foram 40 anos a confraternizar, a falar da ciência do ensino e outras ideias da nossa intimidade. Os jornais falaram de ti e da tua vida académica.
Eu falo para o amigo.
Abraço, Mário e até ver.
Raul Iturra
Catedrático de Etnopsicologia da Infância
Eterno Presidente da Antropologia até que o cancro me atacou
Nos anos de brasa da revolução de Abril, militares e partidos políticos da extrema esquerda digladiávam-se para se arvorarem em voz única do novel regime. A sociedade civil estava marginalizada sem compreender e sem chamada a participar. Nacionalizou-se tudo o que havia para nacionalizar. Proprietários e empreendedores foram jogados fora com a água do banho. Onde deveriam estar apenas os capitalistas do regime fascistas acabado de cair.
O Presidente Eanes soube compreender que o país é de todos e restabeleceu o primado da lei. Tomou medidas muito difíceis e algumas delas não inteiramente justas, como foi o de restabelecer a hierarquia militar sem tomar em devida conta os "capitães de Abril".Com um carácter de antes quebrar que torcer, tomou as medidas que considerou mais adequadas a um regime democrático, mesmo que afrontando quem era do seu meio.
"Com lucidez e determinação", colocou a instituição militar "ao serviço dos cidadãos, à legitimidade do voto e à capacidade de transmitir incólume" o poder dos militares aos civis.
Ramalho Eanes "é um cidadão a quem a democracia muito deve", alguém que "contribuiu em momentos decisivos para a implementação" do regime democrático e que "soube compreender o seu lugar na história.
General Ramalho Eanes. Um exemplo! Merecida homenagem a um homem de valores e convicções.
Conheço a família desde criança. A sua irmã mais velha foi minha professora primária. Aliava a uma forte dedicação um grande rigor. O seu pai trabalhou com o meu na reabilitação do quartel Caçadores 5 em Castelo Branco. Homem íntegro.
(...) enumera episódios do que considera o percurso ímpar de Eanes: ficou com o ordenado de militar, de Chefe do Estado Maior das Forças Armadas; recusou a promoção a marechal; não quis receber os retroactivos do vencimento dos ex-Presidentes da República. “Mostrou desprendimento”.