É isto o que o BE pensa do PS e de uma possível ( embora cada vez menos provável)maioria absoluta : isso é sinónimo de “arbítrio absoluto, abuso absoluto, compadrio absoluto, nepotismo absoluto e corrupção absoluta”. Ganhou fôlego e concluiu: “Não queremos repetir uma maioria absoluta”.
Isto é, o BE quer ir para o governo para controlar um PS corrupto, eis a opinião que tem do até agora companheiro de viagem parlamentar. É como meter ladrão e polícia na mesma cela da prisão, isto se o BE quiser mesmo fazer o papel de polícia. É difícil ser mais explícito.
Mas a geringonça é isto mesmo, não tem como prioridade somar vontades para salvar o país, trata-se de um jogo de sombras até que um deles morra às mãos do suposto parceiro. É essa a visão do BE , só vive se tirar votos ao PS.
É certo que o PS quer tudo menos dar vantagens a quem é seu inimigo declarado. O BE só crescerá à conta dos votos que conseguir retirar aos socialistas.
E há gente escondida no Cavalo de Tróia que há muito entrou no reduto do PS. César, Costa e Alegre já o denunciaram.
Nas eleições legislativas de 2015 o PS nunca disse que se iria juntar ao BE e ao PCP para formar uma maioria parlamentar.A questão legítima colocada foi sempre a de saber se os eleitores teriam votado da mesma forma se soubessem previamente dessa aliança.O que sabemos hoje é que o PS tem medo que os eleitores votem de maneira diferente sabendo previamente dessa hipótese.E afasta escandalosamente o BE já que o PC se afastou pelos próprios pés.
Em 2015 tratava-se de salvar a própria pele hoje, trata-se de chegar à maioria absoluta.
A distância do PS que tenho notado não é nas sondagens, é a distância relativamente ao BE, que é uma coisa que custa a entender. Enquanto foi útil para o PS, o PS andou quatro anos com o BE ao colo, e o BE com o PS ao colo. Agora, como dá jeito nas eleições fazer uma demarcação do BE, [o PS] faz a demarcação. A 6 de outubro [data das legislativas], se precisar, volta a chegar-se ao BE”, criticou Rui Rio.
O PS não tem vergonha e o BE não tem dignidade. É nestes partidos que vamos votar?Que a tudo se submetem para chegar ao poder?
Foi o PS que precisou do PCP e do BE para salvar a pele, mas a partir das reversões logo se percebeu que a luta mais importante acontecia dentro da geringonça. Um PS europeu e próEuro a não deixar que partidos antiEuropeus e antiEuro atravessassem as linhas vermelhas.
Se o Governo tivesse seguido os programas políticos que pressupunham a rutura com o tratado orçamental, a renegociação da dívida, a saída do euro, ou outras medidas do género, não teríamos, seguramente, conseguido cumprir esta legislatura nem alcançar os resultados que alcançámos”, diz Costa sobre a geringonça.
Além de referir o programa eleitoral dos bloquistas, o socialista (Costa) também lembrou momentos em que este aliado da geringonça tentou mexer no seu eleitorado: “Houve um partido, que não é o PS, que sentiu que devia crescer à custa do eleitorado dos outros. Já ouviu o BE ter a impertinência de dizer aos socialistas para irem votar no BE”.
Que não se saiba por terceiros o que compete a Costa dizer.
Bessa diz que no “dia em que for preciso meter os funcionários públicos a funcionar com as 35 horas, no dia em que for preciso pagar aos fornecedores, no dia em que se tenham de fazer os investimentos que o país exige… aí vamos ter aqui grandes problemas de finanças públicas.”
“Vão ter de pagar às farmácias… Vão ter de recrutar os funcionários para resolver o problema das 35 horas. Não vão querer reduzir os salários ou aumentar os impostos… Têm os compromissos que foram agora anunciados em matéria de investimento… A maionese não prende, como se costuma dizer”, sublinha.
E, agora, apregoam investimentos e mais investimentos para os quais não há dinheiro.
Que margem é que ficou para se reeditar a geringonça à esquerda depois desta ópera bufa dos professores ?
Nenhuma ou muito pouca. Hoje, é clarinho que PCP e BE não estão dispostos a largar mão de nada mesmo que se trate de manter o equilíbrio orçamental. Resistir aos ditames de Bruxelas é isso mesmo, rebentar com o défice, não pagar a dívida e sair do Euro.
Para quem não tem motivos para agradar a eleitores o que sempre esteve em cima da mesa era muito simples. Não se podia pagar aos professores sem pagar a todos os outros sectores e desde que fosse orçamentalmente sustentável. Sem crescimento económico mais forte não há dinheiro suficiente. Mas o drama é que o crescimento está a fraquejar não está a fortalecer.
Na estratégia da esquerda a função de Mário Nogueira era forçar o PS a escolher um dos lados. Juntava-se ao PCP e BE e avançava na degradação orçamental ou desagradava aos professores e perdia votos para a extrema esquerda entre uma classe que vota PS. Em qualquer dos casos ganhava sempre . Mas Costa e Centeno perceberam o que estava em jogo bem ao contrário do PSD e do CDS e escolheram a estratégia orçamental que vinham a desenvolver nos quatro anos de governo.
Controlar o défice, gerir a dívida e manter a mais elevada carga fiscal .
No fim temos um PS ganhador como defensor sério do equilíbrio das contas públicas, PSD e CDS como perdedores nos seus méritos de exigência orçamental e PCP e BE ( anti-equilíbrio orçamental) afastados do arco da governação.
O que dirá o PS na sua campanha eleitoral quanto ao mérito de nova geringonça ?
Como quem queria ver, viu, a geringonça serviu para recuperar a vida política de António Costa depois da humilhante derrota das últimas legislativas. Para isso, Costa vendeu a ideia que a austeridade tinha acabado e que era possível dar quase tudo a todos mercê da maravilhosa governação de PS, PCP e BE .
O PCP e o BE levaram Costa às costas até meio do rio aí, tal escorpião, deixaram-no cair. Costa não pode tornar a contar com o apoio da extrema esquerda e vai ser obrigado a pedir a maioria absoluta que está longe ou, se ganhar, governar em geometria variável à esquerda e à direita. Quem é que neste país vai voltar a acreditar que PCP e BE pertencem ao arco de governação de um país democrático e europeu ?
É da sua natureza anti-democrática e anti-Europa que PCP e BE fira de morte todo o trabalho de equilíbrio e sustentabilidade orçamental dos últimos anos. Agora, na contingência de o governo pedir a demissão ou, no mínimo, de dramatizar a situação, os dois partidos da extrema esquerda tentam desesperadamente salvar a possibilidade de entrar nas contas nas próximas legislativas.
Quanto ao PSD e ao CDS na ânsia de ganharem os votos de sectores importantes da função pública esqueceram o essencial. Borregaram o que andaram a dizer durante o governo de Passos Coelho e de António Costa. É da sua natureza deitar abaixo o actual governo das esquerdas ? É, mas não a qualquer custo.
Depois do pântano de Guterres, a bancarrota de Sócrates e a ilusão de Costa. Ao fim de 40 anos já sabíamos que era assim.
A geringonça de António Costa, estusiasticamente reproduzida, em Espanha, por Sànchez, nasceu de um pecado capital incontornável: partidos democráticos que levam para governos europeus partidos de extrema-esquerda e comunistas, inimigos do modelo liberal de sociedade e da União Europeia. Ao tempo, a coisa foi apresentada como um acto de genialidade política de Costa, que, finalmente!, dera poder a quem tinha expressão popular sufragada em votos, mas que nunca tivera responsabilidades governativas. Ora, esta questão poderá voltar a colocar-se, já em Espanha, nos resultados das eleições da Andaluzia: por que não fazer um governo de coligação PP+C's+Vox? Estes últimos afirmam-se nacionalistas? Mas não o afirma, também, o PCP? São contra «esta» União Europeia? Mas não é o que diz o Bloco? Querem o regresso da soberania nacional orçamentária? Não o reclamam, em uníssono, Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português? São de extrema-direita? Mas não são, o Bloco e o PCP, de extrema-esquerda? Por conseguinte, que legitimidade democrática poderá existir, agora, para impedir que o Vox, ou, no futuro, outro Vox qualquer, sirva de muleta para governos chefiados por partidos democráticos? Pelo contrário, pela lógica que levou à geringonça de Costa, eles deverão ser saudados com entusiasmo por aceitarem as regras do jogo democrático. O carteiro toca sempre duas vezes. Por vezes, os políticos esquecem-no.
Terminadas as reversões de rendimentos já nada há em comum entre os partidos da actual solução conjunta. As mil propostas de mudança( montam a 5 mil milhões de euros) ao Orçamento inicial mostra bem que o governo vai governar com um orçamento que não é o seu ou, então, que governa com o seu orçamento dando por terminada a actual maioria parlamentar.
O arranjo inédito a quem poucos auguravam uma vida longa sobrevive, mas este último orçamento é um orçamento já em esforço: as negociações prévias que viabilizaram os orçamentos anteriores já não foram suficientes para encontrar o equilíbrio político necessário, e por isso se assiste à formação, quase medida a medida, de consensos negativos entre direita e esquerda parlamentares, muitas vezes ao arrepio da vontade expressa do Governo.
A campanha eleitoral vai ser mais brava que nunca . Tão amigos que eles eram.
Reformas nem vê-las e isso é a marca da governação da geringonça. Aquilo que divide os partidos que a compõem é muito mais do que aquilo que os une. O que para fazer o que é preciso é muito pouco.
Os últimos anos e as condições económicas favoráveis podiam e deviam ter servido para o país lançar um conjunto de reformas estruturais, há muito adiadas, que o preparassem para as próximas crises. Na saúde, na educação, na justiça, na função pública, em tantos setores onde continuamos a marcar passo e onde não se vislumbra até hoje uma solução. E não digo que o PS não tenha essa visão, ideias e projetos, mas com a atual solução governativa eles são impossíveis de concretizar. Precisamente porque, no fim do dia, aquilo que divide a geringonça é sempre muito mais forte do que aquilo que a une.
É por isso que os últimos anos - e o próximo promete ser igual - foram marcados por medidas casuísticas e não tiveram uma única reforma digna desse nome. E aquilo a que os socialistas chamam reforma não tem sido mais do que a eterna tese de que os problemas se resolvem atirando dinheiro para cima deles.
Quem manda é o PS e as agendas políticas do PCP e do BE não influenciam a governação. Em muito pouco a governação do PS difere do que seria a governação do PSD/CDS.
No défice que vai além de Bruxelas . Nas cativações na Saúde e nas reversões dos professores. No investimento que nega o futuro ao país. Na austeridade que continua. A vitória oculta uma derrota política: o projecto de uma esquerda unida enquanto alternativa às “políticas de direita” e enquanto pilar de “defesa do Estado Social” falhou.
A geringonça definiu-se desde a raiz pela reversão da governação anterior, mas foi incapaz de construir uma alternativa política para lá da retórica: mesmo num contexto de retoma económica e de crescimento, a contenção orçamental não se evaporou, como exigiram PCP e BE. Pelo contrário: um dos maiores orgulhos do governo PS tem sido ir além do cumprimento das suas próprias metas do défice, impondo restrições severas na despesa pública – algo que seria também de esperar de um governo PSD-CDS.
Por muito que custe às esquerdas Mário Centeno podia perfeitamente ser o ministro das finanças de um governo das direitas. O próximo orçamento e a guerra que se prepara é disso prova irrefutável.