As perspectivas agora são sombrias interessa mais recolher o descontentamento em relação a quem governa. E aí está como a esquerda se entendeu quando havia perspectivas económicas animadoras e agora não consegue entender-se.
O que chega a ser chocante é o PS, o BE e o PCP terem conseguido superar as suas diferenças para atingir o poder numa altura em que as perspetivas económicas eram animadoras e não o conseguirem fazer quando o país vive uma emergência histórica.
Fica transparente que o que movia o BE quando da geringonça era uma simples questão de poder, e por isso conviveram com medidas que pelos vistos eram contra a sua consciência. Como também é evidente que agora não alinham com o PS porque sabem que o próximo ciclo vai ser muito complicado e querem capitalizar o descontentamento. Para chumbar o Orçamento, qualquer desculpa serviria.
Antigamente o partido que ganhava eleições governava. Após o PS de Costa ter perdido eleições inaugurou-se outra práctica, passou a governar a área política que conseguia a maioria dos mandatos.
Neste sentido penso que a direita deveria procurar criar a sua geringonça com o propósito patriótico de desmontar a teia socialista nos Açores.
O facto dessa negociação ter que ser feita incluindo o Chega não é, quanto a mim, razão suficiente para não a fazer. A partir do momento em que um PS perdedor de eleições vai procurar o apoio de partidos fora do arco democrático para conquistar o poder não há nenhum motivo para não conversar com o Chega.
A mudança de uma práctica de mais de 40 anos de democracia foi feita pelo PS. Foi para assegurar a sobrevivência política de Costa que essa regra implícita foi alterada, foi o PS que modificou as regras do jogo em seu benefício.
Se a direita quiser ser alternativa tem que deixar de ser anjinha, tem que interiorizar que, neste momento, o maior obstáculo ao desenvolvimento de Portugal é o polvo socialista.
A direita tem aqui a oportunidade de mostrar que não se resigna a ser a idiota útil da história. Se me perguntarem se vejo estamina na actual direita para adoptar uma atitude combativa e combater a resignação, a minha resposta será que tenho sérias dúvidas.
É uma espécie de anticiclone ou de boomerang. Costa está a provar do próprio veneno.
O PS ganhou nos Açores mas quem tem a maioria é a direita e, sendo assim, não estou a ver como é que um programa de governo socialista passará no parlamento açoriano. Não passa.
A geringonça de direita chegou logo no primeiro acto eleitoral após a geringonça de esquerda estar desfeita, o que mostra bem como não há almoços grátis e as cambalhotas em política têm consequências.
António Costa teve um dia negro com este resultado eleitoral e a nega do BE ao orçamento.
Já os pormenores, como arranjar dinheiro, são para o governo. E como a riqueza não cresce, a carga fiscal é elevadíssima e os subsídios europeus não podem ser enterrados outra vez em despesa, lá se vai o défice ( que neste semestre já se foi) e o correspondente aumento da dívida.
É o caderno de encargos da esquerda para uma nova geringonça que o PCP não quer ( não está agendado) e que o BE, apesar do ruído, vai ter que engolir. O Presidente já veio dizer para não contarem com ele para crises políticas a juntar às crises sanitária e económica.
É claro, que Rio também já veio dizer que o orçamento é da responsabilidade da esquerda ( o PS nunca mais vai precisar da direita para governar, lembram-se?) não há que enganar, o orçamento não tem margem para tentações por muito ruído que se faça e por muito preenchida que esteja a agenda.
As ideias gerais dão para tudo o pior é quando se chega aos pormenores. É preciso fazer contas.
É justo que a geringonça governe em plena crise e em austeridade
Afastou-se da geringonça e pediu a maioria absoluta que o povo em eleições não votou. E quem se lembrar das palavras de Carlos César percebe bem porque o PS tem medo da extrema esquerda. E com razão.
...porque se os socialistas fossem “sempre atrás do BE”, o país voltaria “ao tempo da bancarrota”. Palavras de César numa jornadas parlamentares do PS em Junho do ano passado, em que o presidente do partido, então líder parlamentar, chegou a dizer que "o Bloco não manda na Assembleia da República nem no país". "Se fôssemos sempre atrás do estilo de aventura e de que tudo é fácil, de que tudo é barato e que tudo pode ser feito e que o BE em especial, mas também alguns dos nossos parceiros, alimentam frequentemente, nós tínhamos um país com uma mão à frente, outra atrás de novo e voltávamos ao tempo da bancarrota" .
Ninguém diria melhor embora, na verdade, não estando ainda em bancarrota já estamos com uma mão à frente e outra atrás.
Rui Rio quer que o CHEGA modere o discurso para abrir caminho a uma eventual parceria. António Costa fez o mesmo com os parceiros à sua esquerda.
O PCP que exige a nacionalização da banca cabe na geringonça ? Não cabe. E o BE que quer impedir a flexibilização das leis laborais cabe na geringonça ? Não cabe.
Foi por estes partidos não estarem dispostos a moderar o discurso que o primeiro ministro os foi afastando. E aquela palavra escrita dada, palavra honrada, não foi mais do que o PS renunciar às reformas que tem agora que empreender.
O PCP anuncia todos os dias que as opções do governo PS não são as suas opções e o BE acusa Costa de se estar a entender com o PSD.
Que Rio não feche a porta a entendimentos com o CHEGA faz parte da factura que o primeiro ministro paga por aquela súbita paixão pela geringonça.
É isto o que o BE pensa do PS e de uma possível ( embora cada vez menos provável)maioria absoluta : isso é sinónimo de “arbítrio absoluto, abuso absoluto, compadrio absoluto, nepotismo absoluto e corrupção absoluta”. Ganhou fôlego e concluiu: “Não queremos repetir uma maioria absoluta”.
Isto é, o BE quer ir para o governo para controlar um PS corrupto, eis a opinião que tem do até agora companheiro de viagem parlamentar. É como meter ladrão e polícia na mesma cela da prisão, isto se o BE quiser mesmo fazer o papel de polícia. É difícil ser mais explícito.
Mas a geringonça é isto mesmo, não tem como prioridade somar vontades para salvar o país, trata-se de um jogo de sombras até que um deles morra às mãos do suposto parceiro. É essa a visão do BE , só vive se tirar votos ao PS.
É certo que o PS quer tudo menos dar vantagens a quem é seu inimigo declarado. O BE só crescerá à conta dos votos que conseguir retirar aos socialistas.
E há gente escondida no Cavalo de Tróia que há muito entrou no reduto do PS. César, Costa e Alegre já o denunciaram.
Nas eleições legislativas de 2015 o PS nunca disse que se iria juntar ao BE e ao PCP para formar uma maioria parlamentar.A questão legítima colocada foi sempre a de saber se os eleitores teriam votado da mesma forma se soubessem previamente dessa aliança.O que sabemos hoje é que o PS tem medo que os eleitores votem de maneira diferente sabendo previamente dessa hipótese.E afasta escandalosamente o BE já que o PC se afastou pelos próprios pés.
Em 2015 tratava-se de salvar a própria pele hoje, trata-se de chegar à maioria absoluta.
A distância do PS que tenho notado não é nas sondagens, é a distância relativamente ao BE, que é uma coisa que custa a entender. Enquanto foi útil para o PS, o PS andou quatro anos com o BE ao colo, e o BE com o PS ao colo. Agora, como dá jeito nas eleições fazer uma demarcação do BE, [o PS] faz a demarcação. A 6 de outubro [data das legislativas], se precisar, volta a chegar-se ao BE”, criticou Rui Rio.
O PS não tem vergonha e o BE não tem dignidade. É nestes partidos que vamos votar?Que a tudo se submetem para chegar ao poder?
Foi o PS que precisou do PCP e do BE para salvar a pele, mas a partir das reversões logo se percebeu que a luta mais importante acontecia dentro da geringonça. Um PS europeu e próEuro a não deixar que partidos antiEuropeus e antiEuro atravessassem as linhas vermelhas.
Se o Governo tivesse seguido os programas políticos que pressupunham a rutura com o tratado orçamental, a renegociação da dívida, a saída do euro, ou outras medidas do género, não teríamos, seguramente, conseguido cumprir esta legislatura nem alcançar os resultados que alcançámos”, diz Costa sobre a geringonça.
Além de referir o programa eleitoral dos bloquistas, o socialista (Costa) também lembrou momentos em que este aliado da geringonça tentou mexer no seu eleitorado: “Houve um partido, que não é o PS, que sentiu que devia crescer à custa do eleitorado dos outros. Já ouviu o BE ter a impertinência de dizer aos socialistas para irem votar no BE”.
Que não se saiba por terceiros o que compete a Costa dizer.
Bessa diz que no “dia em que for preciso meter os funcionários públicos a funcionar com as 35 horas, no dia em que for preciso pagar aos fornecedores, no dia em que se tenham de fazer os investimentos que o país exige… aí vamos ter aqui grandes problemas de finanças públicas.”
“Vão ter de pagar às farmácias… Vão ter de recrutar os funcionários para resolver o problema das 35 horas. Não vão querer reduzir os salários ou aumentar os impostos… Têm os compromissos que foram agora anunciados em matéria de investimento… A maionese não prende, como se costuma dizer”, sublinha.
E, agora, apregoam investimentos e mais investimentos para os quais não há dinheiro.