Ferro Rodrigues pode o que Gentil Martins não pode
Ferro Rodrigues é o presidente da Assembleia da República tem dever de imparcialidade.
Pode alguém com prestígio e reconhecimento social falar enquanto cidadão, sem que as suas declarações sejam extrapoladas para a sua actividade profissional? Em Portugal, depende. A Gentil Martins, que é médico mas não ocupa cargo institucional de representação da sua classe, não foi concedido esse estatuto de falar enquanto cidadão e de expor a sua opinião sem posteriores julgamentos acerca de como exerce a sua actividade. Mas, há dias, Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, pôde pendurar as suas funções institucionais e, através de “posições pessoais”, criticar duramente o Ministério Público em casos que envolvem o governo. Logo ele que, ocupando o segundo lugar da hierarquia do Estado, tem um dever de isenção, que pretendeu suspender para abalar a separação de poderes no regime. E sem que se ouvisse sequer um burburinho. Há aqui algo que não bate certo: uns podem tudo, outros não podem nada. O ar está a tornar-se irrespirável.