Francisco Assis : Muitas vezes é difícil percebermos o que isso significa a partir de uma perspectiva europeia. Mas quem viajou dezenas de vezes para a América Latina, como eu fiz nos últimos anos, sabe bem o que isso traduz naquele sacrificado continente. Ali, ser pobre corresponde a ser muito mais pobre do que no nosso velho continente europeu; ali, ser mulher, ser homossexual, ser indígena, ser desempregado, ser mãe solteira, comporta uma carga sem correspondência com o que se passa no mundo que nós próprios habitamos.
Francisco Assis : "Imbuída de uma cultura marxista básica, que associa despudoramente com uma moral de sacristia, Catarina Martins procura instalar a ideia de que a esquerda se divide entre o mundo angelical em que ela própria se passeia e o universo potencialmente demoníaco em que rastejam os malfadados herdeiros da tradição socialista e social-democrata, sempre prontos a soçobrar ao apelo dos mais tenebrosos e ocultos interesses particulares. Essa dicotomia rasteira caracterizou ao longo do século XX grande parte da relação entre a esquerda totalitária e a esquerda de inspiração liberal e democrática. Tudo tem que ter um limite. O Bloco de Esquerda violou regras fundamentais da própria convivência democrática. Infelizmente não é coisa que me cause a mais leve surpresa. Se bem que hoje não exerça nenhuma função na direção do Partido Socialista, aqui deixo o registo da minha indignação, que estou certo será partilhada por um grande número de portugueses, o qual extravasa em muito o universo restrito dos militantes do PS.
O problema insanável da maioria de esquerda é, como sempre se soube, a sua heterogeneidade. Terminada a fase da reversão dos rendimentos nada mais junta PS, PCP e BE
É de tal forma assim que as recentes declarações quer do PC mas ainda mais do BE já juntaram dois socialistas bem diferentes. Francisco Assis da ala direita do partido e desde sempre adversário da solução conjunta e Manuel Alegre, da ala esquerda do partido e apoiante da geringonça.
As declarações de Catarina Martins não podem deixar de ter resposta por parte do PS sob pena de atentar contra a dignidade do partido. Por muito menos António Costa respondeu duramente a Assumpção Cristas do CDS, apesar de os parceiros terem deveres de lealdade para com o governo que a oposição não tem.
No essencial - União Europeia e Zona Euro - tudo separa os três partidos da maioria de esquerda e o orçamento de 2018 foi o primeiro ensaio sério. Para já o BE e o PC criticam mas apoiam o orçamento . Daqui em diante se mantiverem o mesmo registo não serão levados a sério.
E a CGTP já eleva o nível das exigências em vários sectores pressionando na rua e nas empresas.
Pelo lado do PS há tentativas de aproximação ao PSD e ao CDS nas matérias mais profundas e estruturais que têm que ser levadas a cabo sob pena de a economia continuar a ter uma performance medíocre.
Sem essas reformas o país não estará preparado para a nova crise que é inevitável, só ainda não se sabe quando. O insuspeito Francisco Louçã também já o anuncia juntando-se a vários economistas reputados e Catarina Martins voltou à narrativa da renegociação da dívida.
António Costa para salvar a pele meteu o país num beco cada vez mais estreito e, para minguar os estragos, já enviou o seu ministro das finanças para o olho do furacão . Esta é, aliás, a resposta mais dura que o PS podia dar aos seus parceiros de coligação.
A resposta que Alegre e Assis exigem seria a ruptura e o agravamento das relações funcionais da geringonça. Vamos andar assim até às eleições de 2019.
A direcção do PS tem que reagir às declarações de Catarina Martins, segundo Francisco Assis . Trata-se de um ataque descabelado ao carácter do partido socialista que não pode ficar sem resposta.
"Considero este ataque violentíssimo, que merece uma resposta pronta, clara e incisiva por parte da direcção do PS, por uma questão de respeito e de amor-próprio", afirmou o político.
"Nós não podemos estar reféns de qualquer parceria política ao ponto de aceitar sermos enxovalhados na praça pública sem esboçarmos a mais ligeira reacção. Um partido que age assim não se está a dar ao respeito a si próprio. Isso tem consequências graves a prazo, portanto acho que neste momento é importante que alguém o faça", afirmou.
É, claro, que o BE não faz este ataque ao carácter do PS ingenuamente, bem pelo contrário, tenta a curto prazo subir o nível da contestação demarcando-se do PS e, ao mesmo tempo, inviabilizar a longo prazo qualquer tentativa de repetir a solução comum.
E a verdade é que as sondagens mostram o BE a crescer e o PCP a descer.
Não há saída precária para tão precária situação. Os desacordos à esquerda vão ser cada vez mais frequentes e não se espere que à direita se encontrem escapatórias.
Assis salienta, no artigo de opinião publicado no Público, que PS, PCP e BE "entendem-se no que é mais conjuntural, mais popular e mais fácil, rapidamente se desentendem em tudo o que é mais exigente, complexo e estrutural." Considerando "natural que assim seja", devido à divergências de fundo que existem entre os partidos.
Francisco Assis e outros conhecidos socialistas, sempre estiveram contra a solução encontrada, exactamente porque anteviam que as profundas divergências políticas entre PS, PCP e BE levariam a situações de impasse como a actual à volta da TSU.
Eleições antecipadas pede o socialista Francisco Assis.
“o executivo do Partido Socialista só está em condições de assegurar em toda a plenitude a governação do país se puder contar com o apoio parlamentar de duas maiorias alternativas e contraditórias” — uma, à esquerda, para aprovar os temas relacionados com a reposição de rendimentos e apoios sociais, e outra, à direita (com o PSD, porque o CDS não chega), para aprovar temas relacionados com política europeia ou com a “resolução de graves problemas no setor financeiro”, ou ainda com a concertação social.
“Tenho fortes dúvidas e, sobretudo, que seja desejável que o Governo chegue ao fim da legislatura”, declarou esta quinta-feira o ex-líder parlamentar do PS, que foi, desde a primeira hora, uma das vozes que contestaram esta solução governativa.
"Entendo que as nossas divergências de fundo com o PCP e Bloco de Esquerda são de tal ordem em matérias fundamentais que não dão garantias de termos um Governo com uma verdadeira capacidade reformista", declarou o ex-líder parlamentar do PS, em Novembro do ano passado, apontando como exemplos de divergências de fundo as áreas da economia, das finanças, a União Europeia e "o próprio modelo de sociedade".
Segundo Assis, “António Costa tem sabido manter uma linha de orientação e não tem cedido em nenhum aspecto essencial e isso merece o meu respeito”. E deixa uma profecia:” É por aí [posições perante a Europa] que as contradições se vão manifestar”
DESAGREGAÇÃO GRAVE “O que me parece mais importante, do ponto de vista da análise deste processo, é que provavelmente assistimos ao primeiro momento de uma desagregação grave da actual maioria parlamentar”, afirmou Francisco Assis, na sequência da demissão de António Domingues da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e a propósito do voto do BE no Parlamento (Rádio Renascença). O que dizer sobre esta observação do eurodeputado do PS? Só estará surpreendido quem acredita que é possível a Geringonça cumprir a legislatura, o que suponho que não é o caso de Francisco Assis. Como também não integro esse grupo religioso, entendo que este caso apenas confirma aquilo que tenho vindo a dizer há muito: será uma questão de tempo até que as tensões e as clivagens intra-Geringonça lhe coloquem um ponto final. P.S. – Ainda sobre a abstenção do PSD nos votos de pesar apresentados pelo PCP e pelo PS relativos à morte de Fidel Castro, é da mais elementar justiça acrescentar que houve cinco deputados que votaram contra: António Costa da Silva, Bruno Vitorino, Emília Cerqueira, Pedro do Ó Ramos e Pedro Alves.
Francisco Assis : No essencial, estão nas mãos uns dos outros. É verdade que o PCP e o BE estão condicionados pelo risco de serem submetidos a uma avaliação crítica de uma parte do eleitorado se porventura romperem, sem aparente motivo, com o PS. Mas também é verdade que o PS está exatamente na mesma situação. Isto significa que isto é uma situação que conduz a uma certa inércia política. Dir-me-á que isso é próprio das coligações. Digo que é sobretudo próprio das coligações contranatura, como me parece ser declaradamente esta coligação. As divergências são muito grandes em questões muito importantes. Em tudo o que é essencial há diferenças profundas a separar o PS da extrema-esquerda: nas questões do modelo económico, de organização política e social, em tudo o que tem a ver com a Europa, profundíssimas diferenças que aliás se manifestam claramente por exemplo nas votações no Parlamento Europeu. Não estamos a falar de questões menores ou laterais. Estamos a falar do centro do debate político e do centro da decisão política.
Não vê nenhuma vontade neste momento do PS de dialogar com o centro-direita?
Há responsabilidades de parte a parte. Não são apenas do PS. São também do PSD, sobretudo na fase em que governou o país. Mas julgo que agora há uma afirmação perentória por parte do PS de que os grandes inimigos estão à direita. É assim mesmo. A frase é mais ou menos esta. Há uma espécie de esquizofrenia nisso. No Parlamento Europeu, todas as semanas promovemos grandes entendimentos de fundo com os partidos do centro-direita que nunca existem com a extrema-esquerda. Introduz-se aqui uma certa esquizofrenia, um certo delírio. Isto tem consequências. É delirante e absolutamente absurdo considerar como parceiros os partidos de extrema-esquerda e um partido declaradamente comunista, nostálgico dos tempos soviéticos. Não é com esses dois partidos que podemos conceber um projeto de renovação dos ideais europeus.
Francisco Assis não está com Sampaio da Nóvoa. Está com Maria de Belém. Se fosse preciso uma prova que o PS está fracturado pela solução encontrada à esquerda para governar...
O eurodeputado condena ainda o seu partido e a restante esquerda pela “grande disponibilidade para aderir a uma retórica programaticamente eunuca, conceptualmente ligeira e moralmente demagógica” que apresenta Sampaio da Nóvoa.
Assis representa todos aqueles que estão contra a solução governamental com apoio do PCP e do BE. Os dois primeiros meses mostraram bem que é Costa quem está capturado, cedendo em tudo o que é exigido pelos partidos da extrema esquerda.
Os custos da factura já começaram a aparecer, com mais divida e juros mais altos. E o investimento externo não arranca. Não há milagres.