Com a educação, o princípio foi o mesmo. Num país que era basicamente uma floresta gelada povoada de renas dificilmente seria a terra a fazer da Finlândia um pais rico. Por isso, estabeleceram rapidamente o princípio de que ninguém fica para trás. Curiosamente, naquele país os direitos são dos estudantes, não dos professores. O direito à educação não é o direito a ter um professor, mas o direito a ser ensinado. Isto significa que se há facilidade de aprender, então o tempo com o professor pode ser menor. Mas se tem dificuldade em aprender então o tempo com o professor tem que ser prolongado, e se houver necessidade de apoio adicional então o estado providencia esse apoio adicional. Deu o exemplo de algumas ilhas isoladas, onde é muito difícil as (poucas) crianças irem à escola devido às condições atmosféricas e dureza da viagem, onde são dedicados professores para apoiar a única criança da ilha em idade escolar e que, por vezes, devido ao facto de os pais não terem condições para alojar o professor, este acaba por fazer a viagem uma vez por semana para acompanhar a criança até que tenha idade para ir para uma escola longe de casa. E, nessa altura, o estado paga a deslocação e alojamento da criança
Gráfico 6. Principais novidades da reforma curricular da Finlândia, 2016. Fonte: Finnish National Board of Education
Novo curriculum & aulas temáticas
O conteúdo das disciplinas foi revisto, sete competências transversais foram inseridas no processo de aprendizagem e passou a ser obrigatório, pelo menos, um período de aulas temáticas por ano lectivo.
Municípios e escolas decidem
A descentralização do sistema finlandês permite que sejam os municípios e as escolas a definir quantas vezes, por ano lectivo, haverá aulas temáticas em vez das tradicionais aulas por disciplina.
Os alunos participam
A participação dos alunos na definição das aulas temáticas é obrigatória e tem como finalidade tornar a aprendizagem mais estimulante para os alunos ao envolvê-los nas decisões.
Primeiro, a revisão do curriculum obrigatório. Ao contrário do que acontece em Portugal, o sistema finlandês está muito descentralizado e as suas escolas usufruem de elevados níveis de autonomia de decisão. Consequentemente, o curriculum finlandês é um documento aberto, que serve de orientação do ensino e pressupõe a devida adaptação ao nível do município (no curriculum municipal) e ao nível da escola (no seu projecto educativo). Ora, nesta recente revisão curricular, inseriu-se a obrigatoriedade de uma modalidade de ensino por temas, em vez de por disciplinas.
Ou seja, os alunos passarão a ter obrigatoriamente acesso a períodos de aulas em que, em vez de aprenderem no tradicional âmbito de disciplinas, estudam temas de forma multidisciplinar – por exemplo, a “União Europeia”, cujo estudo implica história, geografia e línguas estrangeiras. Esta abordagem temática não é inteiramente novana Finlândia.
Segundo, os municípios e as escolas decidem como implementar as aulas temáticas. Sabendo que têm de as fazer pelo menos por um período de tempo por ano lectivo, podem optar por fazê-lo mais vezes. Em Helsínquia, as escolas fá-lo-ão duas vezes por ano lectivo, sendo a opção mais comum a de cumprir a obrigatoriedade à risca – apenas uma vez por ano lectivo.
Terceiro, os alunos são envolvidos no processo de preparação dos períodos de aulas temáticas. O objectivo é combater o desinteresse dos jovens e tornar o processo educativo mais participativo e estimulante para os alunos. Assim, os alunos poderão ajudar a definir os temas acerca dos quais têm mais interesse e discutir as abordagens a seguir.
O que dirão disto os burocratas da 5 de Outubro e os sindicalistas da Frenprof ?
Na Finlandia entrou-se num teste que vai durar dois anos e que envolve 9 000 pessoas desempregadas. Como é que os envolvidos vão reagir recebendo 560 Euros sem trabalhar ?
Finlândia tornou-se o primeiro país da Europa a pagar aos seus desempregados um rendimento básico mensal, no montante de 560 euros, uma experiência social inédita que pretende cortar a burocracia, reduzir a pobreza e fomentar o emprego.
Vai ser muito interessante observar como as pessoas se vão comportar”. “Vai levá-los a experimentarem diferentes tipos de empregos? Ou, como alguns críticos acusam, vai torná-las preguiçosas, depois de saberem que vão receber um rendimento básico sem fazerem nada?”.
Se não há trabalho para todos o melhor mesmo é deixar as pessoas optar por diferentes formas de estar . É bem melhor do que ter um exército de funcionários públicos a trabalhar a tempo inteiro a controlar , que é uma forma de não fazer nada com custos acrescidos.
Portugal é um bom exemplo, basta contactar por uma vez os serviços de emprego.
Por cá discutem-se as carreiras e a colocação dos professores. A escola pública monopolista. O impedimento da escolha livre da escola pelas famílias. Nega-se a avaliação, os rankings e a descentralização. Lá fora avança-se em novas formas de envolvimento dos alunos e numa larga autonomia das escolas. Finlândia e Portugal estão de costas voltadas na Educação. Estamos mais uma vez a dar lições ao mundo.
Competirá às “escolas definir quais os assuntos a abordar nestes módulos, a sua duração e como serão implementados”, mas com um pressuposto de base: “Os estudantes devem participar no planeamento destes módulos. Antes do início das aulas, em conjunto com os professores, estudarão quais as melhores formas de atingir as metas estabelecidas no currículo, quais os objectivos e tópicos dos módulos e como serão estes organizados”.
A tímida descentralização que está a iniciar-se em Portugal tem como opositores os mesmos conservadores e centralizadores de sempre.
Por cá ensaia-se uma tímida descentralização ( logo catalogada de "municipalização") o que desde logo abriu caminho a um coro de protestos. E a indignados encerramentos de blogues que não conseguiram ver para além do seu umbigo.
Adelino Calado, director das Escolas de Carcavelos, em Cascais, exemplifica o processo: “O professor pergunta aos alunos o que é preciso para construir uma casa.E eles respondem que é preciso fazer cálculos. Ora isso envolve Matemática. E depois, o que será preciso? Conhecimentos de Física, e por aí adiante.” No final do exercício terão sido abordadas uma série de áreas do saber e o professor serviu de “orientador” da aprendizagem dos alunos.
É pouco provável – para não dizer impossível – que Portugal venha a embarcar de forma alargada no mesmo modelo. “Estamos no porto, de costas para o mar, e nem sequer nos damos conta de que o barco já partiu”, ilustra Joaquim Azevedo.
E a parte mais dificil é mudar a mentalidade aos professores. Por cá, como sabemos, nem exame de avaliação querem passar a fazer.
A Finlândia está no topo nos rankings mundiais da educação. Mas logo que sentiu que o sistema estava a bloquear, mudou. A mudança custa mas tudo muda menos a mudança.
Ao contrário, cá entre nós, temos os mesmos problemas há pelo menos 30 anos. A luta entre sindicalistas e burocratas. O abandono escolar precoce. A escola pública que oferece boas escolas a uns e más escolas a outros sem que os mais pobres possam ter a oportunidade de contornar as más escolas. Nega-se às famílias o direito de escolha.
42 anos após a última reforma no ensino finlandês, esta reforma será uma das maiores já feitas na educação. Apesar do sucesso, os responsáveis pelo ensino finlandês sentiram, em 2013, que o sistema estava a começar a vacilar, ao descerem até 12º lugar, atrás da Estónia, no prestigioso PISA global rankings, que avalia leitura, ciência e matemática.
Por cá o PISA serve ou não serve conforme as conveniências. E nada muda.