A Ferro e fogo e a César o que é de César
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Ferro Rodrigues é o presidente da Assembleia da República tem dever de imparcialidade.
Pode alguém com prestígio e reconhecimento social falar enquanto cidadão, sem que as suas declarações sejam extrapoladas para a sua actividade profissional? Em Portugal, depende. A Gentil Martins, que é médico mas não ocupa cargo institucional de representação da sua classe, não foi concedido esse estatuto de falar enquanto cidadão e de expor a sua opinião sem posteriores julgamentos acerca de como exerce a sua actividade. Mas, há dias, Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, pôde pendurar as suas funções institucionais e, através de “posições pessoais”, criticar duramente o Ministério Público em casos que envolvem o governo. Logo ele que, ocupando o segundo lugar da hierarquia do Estado, tem um dever de isenção, que pretendeu suspender para abalar a separação de poderes no regime. E sem que se ouvisse sequer um burburinho. Há aqui algo que não bate certo: uns podem tudo, outros não podem nada. O ar está a tornar-se irrespirável.
Por acordo entre os dois maiores partidos o Presidente da Assembleia da República era indicado pelo partido mais votado. Foi assim até Outubro passado. Nessa altura o PS com a ajuda do PCP e do BE impôs Ferro Rodrigues.
Ora sabe-se bem que quem com ferro mata com ferro morre e desta vez quem pagou foi Correia de Campos, ex-ministro da saúde, demitido por Sócrates face às mudanças (boas) que estava a introduzir no SNS mas que não agradavam aos sindicatos e ao PCP.
Apesar do acordo PS e PSD - são necessários 2/3 dos deputados - vários deputados ( de ambos os partidos ou só de um deles?) roeram a corda e não votaram Correia de Campos para Presidente do CES . O que parecia pacifico mostrou-se afinal ser uma guerra surda . BE e PCP não votaram e o PS ficou nas mãos do PSD senão mesmo nas mãos da facção bloquista do partido socialista que não gosta de socialistas moderados como é o indigitado.
Agora vamos ver no que dá a nova ronda depois do PSD ter mostrado que o governo não deve contar com a posição de conforto com que tanto sonha. Hoje apoia-se no BE e no PCP amanhã no PSD e no CDS. Não está fácil.
A eleição ( com voto secreto) de Ferro Rodrigues mostrou que a Coligação está mais perto da maioria absoluta.
É apenas um detalhe mas a coligação PAF tem, no total, 107 deputados. Fernando Negrão obteve 108 votos. Ou seja os votos da PAF e, admito, o voto do deputado do PAN. Ferro Rodrigues foi eleito com 120 votos mas o conjunto dos deputados do PS + BE + PCP totaliza 122. Registaram-se 2 votos em branco o que significa que, à esquerda, se encontram dois dissentes. Pode parecer insignificante mas não deixa de ser notório que, logo no primeiro dia do convívio parlamentar, a esquerda sofra duas baixas.
Está como estava há quatro anos quando as suas políticas levaram o país à bancarrota. Teodora Cardoso é que tem opinião diferente :"
Criticando essas mesmas propostas, afirma sem contemplações que “simples políticas de estímulo à procura, avaliadas estritamente pelo seu impacto de curto prazo, já demonstraram a sua ineficácia: não só não garantiram o crescimento da produtividade e a competitividade da economia, como, ao aumentarem o peso do endividamento, público e privado, comprometeram o seu crescimento”. E continua, ainda falando do mesmo documento: foi “por ter levado longe demais o estímulo orçamental à procura” que “Portugal perdeu competitividade e capacidade autónoma de financiamento da dívida, predominantemente externa, e só poderá retomá-la quando os credores acreditarem que a necessária transformação está em curso”.
Ferro Rodrigues afirmou no Parlamento que está como estava. Não muda. Mas há bom remédio. Muda o país.
Ferro Rodrigues diz o mesmo que qualquer pessoa que não tenha perdido a lucidez : ou temos austeridade ou não há estado social. Eu quero ter estado social mas gostava mais que o estado social fosse sustentado por uma economia saudável .Mas para ter economia é preciso primeiro, com a austeridade, libertar meios para investir . Estamos no mesmo sítio em que estávamos há vinte anos.
Há dias, o mais recente líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, não quis ficar a dever nada à clareza. Eis o que explicou: “Não se pode, evidentemente, ao mesmo tempo, defender o progresso do Serviço Nacional de Saúde, defender o progresso da escola pública, defender o progresso na capacidade da protecção social e depois ter promessas desbragadas em matéria de diminuição dos impostos”. Ou seja: ou temos “Estado social”, ou temos um alívio do esforço fiscal exigido nos últimos anos.
Agora sim é que António Costa está na "Quadratura do Círculo".
A aposta no falhanço do programa de ajustamento, falhou. Apesar de todos os erros cometidos, como a errada previsão das consequências ao nível do desemprego, a grande culpada no falhanço é a oposição que nunca foi capaz de articular um programa alternativo. E se não apresentar alternativa consistente, não julgue a oposição que os cidadãos lhes entregam o poder de mão beijada.
As sondagens mostram que apesar do vendaval destes últimos três anos o PS não descola. Aliás, a posição pública de Ferro Rodrigues sobre as europeias é bem elucidativa. Ele sabe que muito dificilmente o PS terá uma "vitória clara". E, sabe, que depois da saída da troika as hipóteses de uma vitória clara vão encurtando, à medida que a economia se consolide, o desemprego baixe e os juros caiam.