É dramático governar assim
O governante - secretário de estado da administração da saúde - deixou escapar o enorme problema que o governo enfrenta. E estava a referir-se apenas à saúde porque há outros sectores na administração pública onde se pensa que para a despesa pública o céu é o limite.
Entretanto, os avisos são mais que muitos, numa tentativa de repor alguma normalidade no que ameaça ser o caos. Como se escreve aqui e aqui .
A indicação que passou para a sociedade é que Portugal estava novamente com dinheiro, com as contas públicas consolidadas, que a tempestade estava afastada. Essa percepção está a voltar-se contra o governo com os seus parceiros a quererem mostrar serviço. Se há "folga" há que aumentar salários e pensões, descongelar carreiras e reduzir impostos . Tudo de uma vez.
E o governo agora tem que dizer a verdade. Não há dinheiro, não há folga, não pode aumentar a despesa nem reduzir impostos. Porque o crescimento da economia não chega para isso, a dívida não desce e o saldo externo deteriora-se de uma forma dramática.
A reposição de rendimentos conduz à compra de bens de consumo duradouro, com uma componente importada da ordem dos 90%, que no caso dos automóveis é ainda superior.
O governo joga ansiosamente no tempo, esperando que a economia cresça mais à boleia do bom ambiente externo . António Costa é um político com sorte mas se calhar vai mesmo precisar de muita sorte mais do que a tem tido.