Já há muitos e cada vez mais. Para a maioria dos socialistas ser de esquerda é ter o estado a controlar as nossas vidas. São estatistas não são socialistas. Em França, as próximas eleições, colocam em cima da mesa a questão.
A 10 de Novembro, o L’Obs publicou uma entrevista com Macron em que este elencava as suas propostas para a lei laboral e para o ensino. Criticando o modelo actual, regulamentador, injusto e ineficaz, que favorece os que trabalham no Estado ou nas grandes companhias, em detrimento dos que o fazem por conta própria ou nas pequenas empresas, Macron propõe uma lei laboral que, não esquecendo o que considera ser essencial para a esquerda, difira de sector para sector de acordo com as suas especificidades. Para ele, diálogo social passa por nem tudo ter de ser prescrito por lei. Empresas e trabalhadores devem ter espaço de manobra para acordarem as regras de trabalho que mais lhes aprazem.
O mesmo raciocínio tem relativamente ao ensino. Neste domínio, defende um tratamento diferenciado entre as escolas, com o Estado a compensar financeiramente os professores que queiram leccionar nos estabelecimentos situados em zonas sensíveis. Ao mesmo tempo, suprime a carta escolar e o determinismo que o local de residência tem na escola que um aluno deve frequentar. O direito de escolha dos indivíduos é finalmente aceite por alguém de esquerda.
As presidenciais francesas vão ser muito importantes devido à possibilidade de Marine Le Pen vencer. De acordo com as últimas sondagens, esta dificilmente não passará à segunda volta, a não ser que Emmanuel Macron se consiga explicar. Se o fizer, a esquerda, depois de Hollande, Tsipras, Corbyn e Iglésias, verá, finalmente, uma luz ao fundo do túnel.
Por cá ainda não há populismo. Os partidos populistas valem agora menos do que em 2008 . Não temos Trump, nem o Podemos, nem Le Pen mas estamos próximos de Putin. Do estatismo.
Não vou tentar adivinhar o que vai passar-se em Portugal. Vou apenas lembrar o que se passou entre 2005 e 2011, com os governos de José Sócrates. Deixemos agora de lado a investigação judicial em curso. Fiquemo-nos pelo que é muito claro ter sido um projecto de poder que previa, a partir do Estado, o domínio da banca, das grandes empresas e da comunicação social — tudo muito bem embrulhado na demagogia do desenvolvimentismo. Um magistrado de Aveiro ouviu indícios de um atentado ao Estado de direito. O que ele ouviu foi destruído, para que mais ninguém pudesse ouvir.
A sociedade portuguesa é, há anos, uma aglomeração assustada de empresas sem capitais, famílias endividadas e jovens desempregados. Não lhe restam muitos meios para se defender de quem, do alto do poder do Estado, a pretenda avassalar. O método está definido: reforçar a administração com pessoal agradecido, e depois governar o país para benefício dessa massa de dependentes, incluindo os pensionistas mais ricos; controlar o crédito e a economia através do banco público ou de banqueiros amigos; manter um grande alarido sobre a “direita radical”, que, por pura maldade, deseja “destruir o Estado social” e vender a pátria à Sra. Merkel, para estigmatizar qualquer alternativa.
Não, em Portugal o perigo não é o populismo, é o estatismo.
Para garantir o apoio parlamentar do PCP o governo entregou o ministro da educação a Mário Nogueira. O velho sonho comunista de estatizar todo o ensino, eliminando o ensino privado, está em marcha.
Embora longe de serem uma solução ideal em termos de liberdade de educação, os contratos de associação sempre foram profundamente incómodos para os defensores da completa estatização do ensino. O próprio argumento de que urge exterminar os contratos de associação para evitar que as escolas estatais mais próximas percam alunos é profundamente embaraçoso para os seus defensores, que se vêm forçados a reconhecer que, quando têm essa possibilidade em condições de igualdade, as famílias optam esmagadoramente por escolas não estatais.
Professores, pais e alunos confrontaram hoje a secretária de estado, na visita a uma escola, com a intenção de o governo eliminar os contratos de associação. Chegou o momento de a comunidade democrática ocupar a 5 de Outubro em protesto por Mário Nogueira ser o verdadeiro ministro da educação.
Reagan e Tatcher não apareceram por acaso. " Hoje, a social-democracia europeia está mais preocupada com o passado do que com o futuro. O SPD quer fazer “esquecer” Schroeder. O Labour quer fazer “esquecer” Blair. O PS quer fazer “esquecer” Sócrates. E, já agora, também Guterres. Os Estados Gerais que organizou em 1995 já iam muito mais longe na necessidade de reformar o Estado social.
Muita gente acreditou que a chegada de François Hollande ao Eliseu alteraria os desequilíbrios políticos na Europa, claramente a favor da Alemanha e da sua receita para a crise. Vemos como está hoje Hollande. Depois, acreditou-se que a entrada dos sociais-democratas alemães no Governo de Merkel podia significar alguma coisa. Quem ouviu Peer Steinbrueck apelar a um Plano Marshall para os países do Sul, cujo sofrimento era inadmissível, não acredita que o SPD tenha assinado de cruz a política europeia da chanceler. O chefe do Eurogrupo é um trabalhista holandês que consegue ser mais radical do que Berlim. A clivagem aqui não é ideológica, é geográfica e cultural – atravessa a Europa a meio. É, portanto, bastante mais perigosa.