Esgotada uma etapa segue-se outra ainda mais dificil . A Escócia quer ser independente e a saída do RU da UE é um bom pretexto para avançar para um referendo.
No final da votação, o primeiro-ministro Boris Johnson não reagiu aos resultados. Quem não perdeu um minuto para reagir foram os nacionalistas escoceses do SNP, a terceira maior força no Parlamento, com 48 lugares. "É um momento histórico para todos nós. Ao longo de três anos e meio, o governo do SNP tentou chegar a um acordo, procurou garantir que permanecêssemos na UE, o que os escoceses votaram. Não aceitamos, sob circunstância alguma, que o povo da Escócia seja retirado da UE contra a sua vontade", disse o líder parlamentar, Ian Blackford, antes de lembrar que na véspera o Parlamento escocês havia votado "esmagadoramente contra" a saída da União Europeia.
"É uma crise constitucional. Não aceitamos o que nos fizeram e digo isto ao primeiro-ministro: respeitem a democracia, respeitem o voto", disse Blackford .
O Brexit acordou o demónio e três anos depois o Reino Unido vê-se abraços com uma situação política muito grave.
O Banco de Inglaterra já veio confirmar as negras previsões se houver uma saída desordenada
Desde a votação do Brexit, em 2016, a questão da independência da Escócia voltou a colocar-se. Apesar de 52% dos eleitores do Reino Unido, no seu conjunto, terem votado no ‘leave’ (para sair da UE) e 48% no ‘remain’, a Escócia votou maioritariamente pela permanência (62% contra 38%).
Os políticos que se batem por um novo referendo destacam o voto esmagador dos escoceses para o Reino Unido permanecer na UE.
Três anos depois coloca-se a possibilidade de novo referendo agora apoiado por uma maioria que deseja a permanência .Segundo uma sondagem realizada após a visita do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, à Escócia – onde foi vaiado –, 52% dos eleitores são favoráveis à independência e 48% estão contra.
Pode-se enganar quase todos durante algum tempo mas não durante o tempo todo.
A revolta dos escoceses perante o princípio de acordo entre Londres e Bruxelas pode ser resumida na intervenção de Sturgeon no Parlamento de Edimburgo, na quinta-feira: "A União Europeia é uma união de países independentes e vejam como se manteve do lado da Irlanda ao longo dos últimos dois anos. Em contraste, como disse à primeira-ministra ao telefone, o governo britânico ignorou a Escócia, marginalizou a Escócia, deixou de lado os interesses da Escócia e agora está não só à beira de nos tirar da UE contra a nossa vontade, ou de nos tirar do mercado único contra os nossos interesses, também está à beira de pôr a Escócia em verdadeira desvantagem competitiva com a Irlanda do Norte."
A União Europeia não pode deixar que o Reino Unido fique melhor fora do que dentro pelo que o "hard Brêxit" não é uma figura de estilo, sob pena de muitos quererem o mesmo . Sol na eira e chuva no nabal .
Já o Reino Unido, não tendo outro caminho que não seja cumprir o resultado do referendo tudo fará para suavizar o brêxit . Quem tem nas costas a casa a arder não pode transferir recursos para a frente de batalha.
Com muitos escoceses – 62% dos quais votaram para ficar na UE – a serem arrastados para um "hard Brexit" pelo governo conservador do Reino Unido, o argumento para um referendo à independência da Escócia pode ser convincente. O futuro da Irlanda do Norte continua também em aberto. O estado de espírito de uma pequena Inglaterra pode tornar-se real.
May, a primeira ministra Britânica, prometeu logo após o referendo que não haveria eleições antecipadas mas voltou com a palavra atrás e marcou eleições antecipadas para Junho deste ano . Ganhando, e tudo aponta para que sim, ficará com uma maioria sólida no parlamento que lhe dará força negocial com a UE.
Mas os que se afirmam solidamente pró-europeus não vão deixar cair os braços. Um "hard Brêxit" pode fazer-se sentir com fragor na economia do Reino Unido.
May está também a jogar um jogo arriscado em relação à sobrevivência do Reino Unido.
O parlamento escocês aprovou novo referendo à permanência do país no Reino Unido porque não quer sair da União Europeia. A Escócia vai a referendo para ser um país independente.
Ainda muita água vai passar por debaixo das pontes agora que se aproxima a negociação da saída do Reino Unido da União Europeia . Há muito a perder por ambas as partes e a União Europeia não pode deixar que fique a ideia que quem sai se livra do osso mas leva o lombo. Que é o que a primeira ministra inglesa quer. Ter acesso aos 400 milhões de consumidores da UE em igualdade de condições sem taxas a carregar nos preços dos seus produtos que vende na europa.
É de esperar que as negociações entre Edimburgo e Londres por causa do referendo sejam duras.A primeira-ministra britânica, Theresa May, já se mostrou contra a iniciativa, mas Sturgeon tem mantido firme a sua posição: “Quando esta mudança nos é imposta, devemos ter o direito de escolher”, disse, antes da votação, citada pela Bloomberg. “Nenhum de nós deve ter qualquer dúvida sobre o que está em jogo. O povo da Escócia também deve ter uma palavra a dizer”, frisou ainda.
A Escócia quer ser independente e aproveita a saída do Reino Unido da União Europeia para reforçar o seu desejo de permanência, pelo caminho quer um referendo sobre a independência.
É bom não esquecer que a votação para o Brexit na Escócia foi o Remain que ganhou .
“Não tenham dúvidas. Foram os que se opõem à independência, os que estão à direita do Partido Conservador, que causaram a insegurança e a incerteza” em relação à saída do Reino Unido. “Cabe-nos agora a nós, defensores da independência [da Escócia], oferecer soluções melhores para os problemas que eles criaram”, disse a líder escocesa. Primeiro, Surgeon disse que iria tentar “trabalhar com outros partidos para tentar salvar o Reino Unido como um todo do destino de um hard Brexit”.
Mas, temendo que isso não aconteça, prometeu: “vamos propor novos poderes para manter a Escócia no mercado único mesmo se o Reino Unido sair.” E “se o Governo conservador rejeitar estes esforços, se insistir em levar a Escócia por um caminho que prejudica a nossa economia, que faz baixar os nossos padrões de vida, que causa danos à nossa reputação como um país aberto, acolhedor, diverso – então não há dúvidas, a Escócia tem de ter a possibilidade de escolher um futuro melhor”, disse.
E o Reino Unido quer continuar unido o que parece ser uma contradição sem escapatória. Mas o Reino Unido quer continuar a aceder ao mercado comum da UE o que poderá fazer através da Escócia europeia. Confuso ?
Não é tanto assim. Afinal os Escoceses votaram a favor da UE e querem ser independentes. Trocar uma coisa pela outra é política. Dá-me a minha independência que eu dou-te o acesso ao mercado de 400 milhões de que tanto precisas. É assim tão bizarro sabendo nós que os jovens ingleses votaram na permanência na UE ? Pela lógica das coisas daqui a uns cinco anos há menos votantes no Brexit e mais a votar no Remain. Inexorável . E assim sendo o referendo não pode ser repetido ? Como muito bem diz a primeira ministra escocesa a primeira ministra britânica não pode bloquear um novo referendo.
"Penso que seria inconcebível para qualquer primeiro-ministro interpor-se no caminho de um referendo se este for votado pelo Parlamento escocês", explicou Sturgeon aos jornalistas após um encontro de 45 minutos com May. Pouco antes, a primeira-ministra britânica, que na quarta-feira sucedeu no número 10 de Downing Street a David Cameron, garantira que os escoceses já tiveram a sua oportunidade de votar pela independência há dois anos. "Tanto o governo do Reino Unido como o governo escocês disseram que iriam respeitar" a vontade do povo.
Se assim for a Escócia fica na União Europeia e continua integrada no Reino Unido. Porque não, há quem ponha vacas a voar...
Em 2014, um dos argumentos usadas para combater a independência da Escócia foi que, independente, a Escócia não seria aceite na União Europeia. Ora, com o referendo de ontem em que o Reino Unido decidiu sair da UE, está criado um facto novo que abre caminho constitucional a novo referendo. Porque a maioria da população escocesa votou maioritariamente no "remain".
"Da forma como estão as coisas, a Escócia enfrenta a perspetiva de ser retirada da UE contra a sua vontade. Considero que isso é democraticamente inaceitável", declarou a primeira ministra.
A líder independentista assinalou que o 'brexit' supõe "a alteração material de circunstâncias" que o seu Governo requeria para admitir um segundo referendo, pelo que este "deve estar e está em cima da mesa".
Na sua intervenção de hoje, a primeira-ministra escocesa recordou que nessa consulta, a independência foi derrotada em parte porque os partidários da união conseguiram convencer os escoceses de que deixar o Reino Unido significaria que a Escócia ficaria fora da União Europeia, o que acabará agora por acontecer.
Não é o que acontece com as regiões independentistas noutros países que reclamam a independência mas não a saída da União Europeia.
Crescem os movimentos de autonomia e de independência. A Escócia pondera ou ponderou sair do Reino Unido, mas não se propõe sair da UE, pelo contrário, deseja permanecer (escrevo quando a votação terminou e o resultado ainda é desconhecido, mas o argumento funciona para os dois lados). A Catalunha quer sair de Espanha, mas não tem qualquer intenção de abandonar a União. O mesmo se pode dizer da Flandres e das outras regiões nacionalistas que em breve serão micro-Estados.
A fragmentação política na Europa está provavelmente no futuro, mas ligada à elevada sensação de segurança dos europeus. Os escoceses não sentem qualquer ameaça externa e acreditam que se podem tornar numa espécie de país escandinavo. Se houvesse uma ameaça, ninguém votaria a favor da separação. Dizer que o problema está na Europa parece ser uma conclusão contrária aos factos. É precisamente o oposto, ninguém quer perder o acesso a um mercado gigantesco e à livre circulação de bens e capitais. Isto também não é uma conspiração de Bruxelas contra o Estado-nação, pelo contrário, as nações europeias podem existir de muitas formas e existem também sob a forma União Europeia, que pertence aos Estados que a compõem.