Como é que explica essa oposição dos pequenos partidos? São conservadores, têm medo da mudança. E são conservadores do Bloco de Esquerda e do PCP ao CDS - somos todos, está no nosso código genético, não gostamos de mudar. Dito isto, o que propomos é uma melhoria do sistema eleitoral. As democracias mais antigas e consolidadas do mundo têm círculos uninominais. Todas. Fala-se muito da descentralização e da regionalização, mas a única maneira de defender o interior e o país desertificado é com círculos uninominais. Porque o poder está na discussão do Orçamento do Estado - é aí que se discutem as políticas, para onde vai o dinheiro. E um deputado eleito por um círculo uninominal não depende do chefe, o que obriga qualquer partido ou governo - de qualquer cor - a discutir. Neste sistema eleitoral valem mais as pessoas que os partidos e isso tem uma vantagem: o poder tem que partilhar mais. Um deputado uninominal por Portalegre ou Beja valerá muito mais do que um deputado eleito atualmente por estes círculos.
A degradação da imagem do primeiro ministro é muito evidente entre os eleitores que não têm partido. Os indecisos e os votantes noutros partidos ou em branco apresentam quebras muito significativas. Tanto para António Costa como para Marcelo.
Mas há uma "nuance" muito relevante : no caso de António Costa a deterioração da imagem é muito evidente entre os abstencionistas . António Costa Pinto no Negócios diz que é natural que a onda de instabilidade transmitida pela vaga de greves no sector público faça o seu caminho entre esta parcela do eleitorado.
Pode este desagrado dos abstencionistas converter-se em votos nos novos partidos que estão a aparecer à direita ? Isto explica que o PS esteja longe da maioria absoluta ? O PSD tem nos abstencionistas um potencial eleitorado que está a fugir ao PS.
Na opinião do politólogo esta é a grande incógnita para os actos eleitorais que aí vêm.
Há, todavia, uma grande dúvida – Tudo isto será sustentável a prazo, quando a economia arrefecer?
O período que estamos a viver é muito parecido com o tempo do primeiro governo de António Guterres, há 20 anos: também o Governo era minoritário; também a economia estava a crescer; também era "chapa ganha, chapa gasta"; também o Governo distribuía dinheiro por toda a gente para tentar a maioria absoluta.
Depois, foi o que se viu: o PS não conseguiu a maioria absoluta; a seguir veio o pântano; e depois começou a crise que demorou estes anos todos.
É bom agradar às pessoas e melhorar o seu nível de vida. Mas, se não houver conta, peso e medida, o que se ganha hoje perde-se amanhã.
Sim, há uns que têm mais responsabilidade do que outros. Sem dúvida que o Governo de António Costa é o primeiro e mais importante responsável. O primeiro-ministro fez-nos pagar este preço pela sua estratégia política de conquista de eleitorado e mais de cem pessoas pagaram-no com a vida. E o Presidente que há muito percebeu e só agora falou.
A tragédia podia ter sido na saúde ou nos transportes públicos – o que se passou recentemente com a Soflusa na ligação entre o Barreiro e Lisboa é um pequeno exemplo. Aconteceu com um Verão demasiado quente em cima de décadas de desordenamento e com uma Protecção Civil liderada na lógica dos empregos para os amigos e toda uma estrutura de combate aos incêndios sem dinheiro.
O programa, que acompanhou as autárquicas no concelho, intercetou mais de mil emigrantes à chegada ao aeroporto Francisco Sá Carneiro a serem conduzidos por um presidente de junta de freguesia e recandidato nas listas do PS no concelho de Montalegre. No dia seguinte, esses mesmos emigrantes foram presentes às mesas de voto, que garantiram a vitória ao mesmo candidato socialista. Na Câmara também o socialista Orlando Alves vencia, com maior absoluta.
Há mais de 28 anos que o PS ganha as eleições para a Câmara com maioria absoluta, mas nas legislativas o PSD ganha sempre e mantém quase os mesmos votos que teve nas autárquicas. O PS sai sempre beneficiado pela descida da abstenção.
São os 15% do eleitorado que ora dão a vitória ao PS ora ao PSD/CDS . Por enquanto são os indecisos. São mais conscientes politicamente e não pertencem a partidos nem a organizações. Votam no que lhes parece melhor para o país, conforme as circunstancias.
"“Como é possível que um partido se apresente aos portugueses com propostas que falharam tão rotundamente quando aplicadas no passado? E como é possível que se afirme agora que sim, agora resulta? Porque haveriam os portugueses de acreditar que exactamente a mesma receita que conduziu ao desastre de 2011 produziria agora resultados diferentes?”
"Conseguirá o PS ser bem-sucedido num campo de batalha onde o Syriza não conseguiu, apesar do braço-de-ferro mantido ao longo de vários meses? Num campo de batalha onde, ainda antes dos gregos, já os franceses liderados pela grande esperança dos socialistas europeus, François Hollande, já tinham caído? Não há risco de a alternativa socialista cair no saco da hollandização? De todo, responde João Torres.”[O Presidente francês] foi uma grande deceção para todos os socialistas. [Mas], António Costa dá-me garantia de não ser hollandizável“.