A realidade é bem diferente do que parece para a maioria de nós.
Se perguntar a alguém minimamente informado qual é o principal setor, por volume de negócios, na prestação de cuidados de saúde e venda de produtos de saúde em Portugal, provavelmente, a resposta será o SNS – Serviço Nacional de Saúde, que integra cuidados em ambulatório (centros de saúde e unidades de saúde familiar e hospitais), cuidados hospitalares (incluindo, MCDTs e medicamentos) e cuidados continuados.
A surpresa é que a resposta correta é: o setor privado.
Quadro 1
Ano 2018
Valor Total Despesa Saúde
Setor Público
Setor Privado
Milhões de euros
19 303
8 010
11 293
% Total
100%
41%
59%
Fonte: INE, Conta Satélite da Saúde
Uma análise mais fina revela quais as principais componentes:
Quadro 2
Unidade
Total Despesa Saúde
Setor Público
Setor Privado
% Setor Público
% Setor Privado
Hospitais
7 975
5 816
2 159
73%
27%
Unidades residenciais de cuidados continuados
399
10
389
3%
97%
Prestadores de cuidados de saúde em ambulatório
5 040
1 383
3 657
27%
63%
Prestadores de serviços auxiliares
862
121
741
14%
86%
Venda a retalho e outros fornecedores de bens médicos*
3 673
0
3 673
0%
100%
Prestadores de cuidados preventivos
21
8
13
38%
62%
Prestadores de serviços de administração e financiamento dos sistemas de saúde
405
174
231
43%
57%
Resto da economia
767
418
350
54%
46%
Resto do mundo
159
79
80
50%
50%
Valores em milhões de euros; *o valor de venda das farmácias foi de 2833 milhões de euros em 2018. Fonte: INE, Conta Satélite da Saúde
Não se ouve nada quanto à falta do apoio do governo ao Serviço Nacional de Saúde. Os fornecedores que não recebem os seus créditos têm medo de protestar não vá serem dispensados dos concursos. Mas em democracia há sempre quem não se cale.
"Embora seja reconhecido o contributo da rede [de cuidados continuados] para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde e a sua importância para a continuidade de cuidados junto da população, os atrasos nos pagamentos às Misericórdias estão a tornar insustentável a viabilidade do sistema como atualmente existe", disse Manuel de Lemos.
"Se não pagarem, não conseguimos pagar salários e manter a qualidade", sendo o desfecho mais provável o fecho de algumas unidades e o encaminhamento dos doentes para os hospitais públicos, o que vai "custar muito mais dinheiro" ao Estado.
Atualmente, cerca de 55% da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados são das Misericórdias, com 116 unidades que representam mais de 4.500 camas de norte a sul do país.