Provavelmente são os mesmos nos dois bancos assinala Rui Rio . Mas o governo não diz quem são. Esse dinheiro era mais que suficiente para equilibrar o orçamento da saúde e aumentar os funcionários públicos.
"Por que é que o Governo se recusa a dizer quem foram os credores que ficaram com o nosso dinheiro?", questionou Rio, explicando que "repor o poder de compra dos funcionários públicos custaria 300 milhões de euros" e "só na CGD e no Novo Banco o Estado meteu um total de oito mil milhões de euros", o que "são 25 vezes mais do que os 300 milhões de euros".
É verdade, os credores internacionais estão a fugir e a ser substituídos por credores nacionais.
Se as coisas estão a correr tão bem porque será ?
O que é mais significativo é que mais de metade (52,6%) das necessidades se destinou a financiar o desinvestimento de credores estrangeiros. É certo que uma parte (21,2%) resultou do pagamento voluntário antecipado de parte do empréstimo do FMI, como medida de redução do custo da dívida, mas o que é mais sério é que quase 1/3 das necessidades de financiamento (30,8%) se destinaram a cobrir a retirada de credores estrangeiros (não oficiais).
"Este foi o facto que me deixou mais preocupado e que me tocou campainhas de alarme: os investidores estrangeiros, que em 2014 e 2015 tinham voltado à dívida portuguesa (em 2014 financiaram quase metade e em 2015 quase 1/4 das necessidades), em 2016 desfizeram-se dessa dívida, o que é coincidente com o alargamento dos spreads a partir do final de 2015. A que se deve essa mudança?"
Será a retórica anti-mercado do PCP e do BE que está a afastar os investidores estrangeiros ?
Afinal a proposta apresentada para a reestruturação da dívida pelo BE e PS não propõe nenhum corte, nenhum perdão de dívida. E as razões são fáceis de entender.
Se não pagássemos aos credores internacionais o país ficaria fora dos mercados financeiros durante 20, 30 ou mesmo 40 anos ( veja-se o caso da Argentina).
Se o estado não pagasse, cá dentro, aos bancos e aos restantes credores ( indivíduos e famílias) todos iriam para a falência.
Realmente ficaríamos todos com as pernas a tremer mas não seriam os alemães. A extrema esquerda e os seus populismos em todo o seu esplendor . A montanha pariu um rato .
E porque é que ninguém teve coragem de se atravessar por uma “reestruturação”, se durante tanto tempo a apregoaram?
Para responder a isso, é preciso perceber quem são hoje os detentores da dívida pública Portuguesa (dados de abril do IGCP). A nossa dívida pública de médio e longo prazo ronda os 240 mil M€ (240 bis). Destes, o setor financeiro (banca e seguros) tem 53 bis; os particulares nacionais (retalho) têm 31 bis; a Segurança Social tem 8 bis e o Banco de Portugal (via QE) tem 20 bis (valores aproximados para todos). Ou seja, os nacionais têm neste momento 112 bis, o que perfaz quase 50% da dívida pública.
A restante dívida está nas mãos do BCE (15 bis, via QE e sobretudo via SMP), no FMI (15 bis), nos instrumentos Europeus (50 bis) e nas mãos de investidores estrangeiros (60 bis).
Ou seja, uma reestruturação que apenas afetasse os investidores estrangeiros colocaria Portugal fora dos mercados financeiros por muito tempo (20, 30 anos, e não só para o Estado, mas também para os bancos, empresas e famílias), com gravíssimos conflitos judiciais (vide Argentina), e reduziria a dívida de 130% do PIB para 100%. Uma reestruturação que afetasse os investidores estrangeiros e nacionais, reduziria a dívida para uns 90%, mas implicaria além do fecho dos mercados internacionais, a falência do setor financeiro nacional. Uma reestruturação que colocasse a dívida pública em 60% do PIB teria de atingir o Banco de Portugal e BCE, colocando em sério risco a permanência de Portugal na zona Euro.
Então sobre reestruturação da dívida estamos conversados ?
A "nova situação" mistura o partido socialista com o apoio da extrema esquerda a aplicar uma política orçamental que na "velha situação" era de direita .
Nem nos melhores dos nossos sonhos podíamos imaginar que algum dia a austeridade e responsabilidade orçamental dessem o braço, promovidas por um governo socialista, com pacificação garantidas pelo PCP e pelo BE.
Sim, a "nova situação" é isto : o velho respeitinho pela ordem imposta pelos credores sem confusão nas ruas. Uma política orçamental de direita, sem manifestações e greves. Uma vela acendida ao santo Draghi e ao dinheiro barato, sem tumultos que abalem o sonho de que estamos a resolver os nossos reais problemas.
Os patrões de ínicio desconfiados começam a perceber que a "nova situação" até pode dar muito jeito. A "nova situação" espanta Bruxelas com a proposta de obter um excedente orçamental e a extrema esquerda bate palmas. A "nova situação" "vai além da Troika" como se dizia no tempo da "velha situação" mas a extrema esquerda cala-se.
A extrema esquerda descobriu as maravilhas daquilo que antes apelidavam de neoliberalismo ou, pior ainda, de submissão ao capital.
De facto o que está a acontecer nem no melhor dos nossos sonhos.
Vamos, agora , que já se percebeu que "palavra dada não é palavra honrada" falar na CAIXA ? É que com todo este folhetim vamos esquecendo o que nos interessa verdadeiramente. Que eles passam a vida a dizer meias verdades já sabíamos.
"O Presidente tem razão e os deputados da direita que hoje vão interrogar o ministro podem aproveitar para lhe perguntar sobre aquilo que verdadeiramente interessa. Como está a recapitalização da Caixa? Onde está o plano ao abrigo do qual os contribuintes foram novamente chamados? De quem são os créditos malparados que levaram o banco público a chegar onde chegou (o Banco de Portugal e a CMVM não querem dizer)? Como vai a auditoria forense à Caixa que está parada no banco central? Que regime vai ser aplicado para indemnizar os trabalhadores a dispensar no processo de reestruturação do banco? Como e quando será feita a colocação da dívida da Caixa em privados, e a que preço? "
Sabem mesmo do que estão a falar ? Quais são as consequências ? Há duas formas de reestruturar a dívida. Uma é fazê-la contra os credores, o país ficar fora dos mercados , não conseguirmos dinheiro e as taxas crescerem até ao desastre. Vejam no que deu a bravata na Grécia.
A outra forma é :
No caso da dívida pública, o objectivo – totalmente consensual – será diminuir o peso dos seus encargos. No caso português, quais são os instrumentos possíveis para alcançar isto? Um primeiro instrumento, que é um objectivo em si mesmo e até mais importante do que diminuir o peso da dívida, é crescer de forma robusta e sair da estagnação dos últimos 16 anos. Com mais PIB, o rácio da dívida sobre o PIB irá diminuindo naturalmente, para o mesmo nível de défice público.
Se queremos crescer mais não devemos reverter as reformas do tempo da troika cujo objetivo era exatamente esse, nomeadamente no mercado de trabalho, nem afugentar investidores com reversão de privatizações e contratos de concessão.
Um segundo instrumento para diminuir os encargos com a dívida é reduzir o défice público, o que ajuda por duas vias: porque a dívida se vai reduzindo e porque o bom comportamento se traduz em taxas de juro mais baixas.
O caminho não é certamente assustar investidores (da economia real), que leva à desaceleração da economia, que faz cair as receitas fiscais, que coloca as metas orçamentais em causa, que afasta investidores financeiros e faz subir as nossas taxas de juro.
Ter que pagar 43 mil milhões aos credores . O défice orçamental estrutural não desce o suficiente, o défice público normal idem, mas o verdadeiro problema da troika, que amanhã termina a sua missão de avaliação, é com o facto de o governo ter de conseguir devolver até 2019 (final da legislatura) 43,1 mil milhões de euros aos credores oficiais (UE e FMI) e privados. E, pelo caminho, não reverter, mesmo que em parte, medidas de austeridade e de disciplina orçamental (reformas estruturais) que mirram o Estado social.
Estão bastante inquietos com a abordagem da "reposição de rendimentos" desenhada pelo PS com o apoio da CDU e do BE, com um esboço de Orçamento que é visto como expansionista e com a reversão de medidas emblemáticas que, para a missão, significavam a rutura com "erros do passado" do Portugal gastador que viveu "acima das possibilidades".
"...A História do século XlX grego é dominada pela batalha entre os credores que ambicionaram reformar o país para receber o seu dinheiro e as sucessivas lideranças políticas que se comprometeram a fazê-lo a troco de ajuda mas que nunca começaram verdadeiramente o processo. O resultado deste duelo foi sempre penoso para a sociedade grega."
"Três anos depois ( 1857), uma comissão de credores internacionais examinou as finanças gregas e concluiu que a administração pública e a autoridade tributária tinham falhado a sua missão de arrecadar e gerir o dinheiro dos contribuintes"
Muito do que estamos a assistir é familiar para quem conheça a História. Em 183 anos de história, como país independente, os gregos não cumpriram as suas obrigações com os seus credores em 1826, 1843, 1860, 1894 e 1932. Durante quase metade da sua história a Grécia esteve em incumprimento.
Está aqui um bom texto . (...) No fundo, os dois autores que citei não consideram válida a opinião dos nossos credores. Um “alto responsável” do Eurogrupo está incomodado com o Tribunal Constitucional e isto é equiparado a colonialismo. A alternativa é romper com a troika e declararmos independência? Organizamos uma guerrilha e dizemos que não pagamos? Sem o dinheiro da troika, nomeadamente o europeu, Portugal será forçado a sair da zona euro, pois não se poderá sustentar nos mercados. Este é um elemento crucial da equação que o autor de Arrastão simplesmente ignora. Por definição, quem nos empresta dinheiro é um aliado. É também natural que quem nos empreste dinheiro esteja preocupado em recuperar esse empréstimo. Podemos defender muita coisa, da reestruturação da dívida aos eurobonds, passando pela actual estratégia da Alemanha, ou sermos contra tudo isto ao mesmo tempo, mas não podemos defender a tese de que os países que nos emprestam dinheiro são inimigos. E era o que mais faltava o governo português exigir desculpas formais por declarações anónimas.
Seja quem for o governo tem pela frente mais cinco avaliações da Troika. Este governo em que todos batem já passou sete. Há resultados concretos e há também fracassos. E agora apareceram sinais positivos onde é mais difícil. A economia está a inverter, o desemprego está estabilizar. Isto leva a perguntar. O que pretendia Portas?
Louçã diz que Portas queria levar o país para eleições. Saía de um governo em perda e tomava lugar num governo em inicio de legislatura com o PS. Mas Portas não percebeu o essencial. Quem manda está em Bruxelas, Berlim...
Foi por isso que pela primeira vez vimos o CDS levantar-se contra Portas. Tudo o que é poder, finanças e banca fez saber que não gostaram. E Portas recuou.
A dívida pública vai exigir que Portugal, a partir de 2014, pague 19,4 mil milhões de euros por ano em serviço da dívida durante 30 anos. Corresponde a dois serviços nacionais de saúde por ano. A economia não conseguirá pagar porque está mais que provado que não será possível o PIB crescer pelo menos 6% ao ano.
É por isso que o corte estrutural no estado, sendo importante, já não é o mais importante. O mais importante é o país conseguir obter dos credores um perdão da dívida de 30%. A partir deste perdão, então terá sentido o corte estrutural do estado que, sendo incontornável, vai ter que se bater contra todos os interesses instalados.
Mas sem estes cortes no estado os credores não abrirão mão do seu dinheiro!