Pára a produção, pára o dinheiro, pára o consumo. Para quem não sabe isto é uma catastrofe económica
Há dois dias, no Twitter, li o desabafo de Carlos Fernandes, responsável numa cadeia de restauração: “O meu dia de trabalho: Andar de loja em loja a informar as pessoas que não vai ser renovado o contrato ou demitir quem se encontra no período experimental, tudo devido ao coronavírus. As quebras nas vendas estão nos 70%. Puta de sorte”. Explicou que há lojas com quebras de vendas de 90% porque os centros comerciais começaram a ficar vazios e os clientes não aparecem. São cerca de três dezenas de pessoas que perdem o emprego para tentar manter os outros cerca de 200.
Não é difícil adivinhar que neste momento há centenas de Carlos Fernandes e de empresas com a mesma sorte e largos milhares de trabalhadores que, de um momento para o outro, ficaram sem emprego. As estatísticas vão mostrá-lo brevemente.
E daqui por menos de duas semanas, quando chegar o momento de pagar ordenados, muitas empresas vão ver-se impedidas de o fazer porque não há dinheiro. Em muitos sectores do consumo, em que a quebra da procura foi quase instantânea e em que a tesouraria vive dos fluxos de caixa de curtíssimo prazo, esse drama vai ocorrer.
O que se está a passar é uma catástrofe económica. Por razões sanitárias as pessoas estão impedidas ou altamente limitadas no desempenho das duas funções centrais na equação da economia: produzir e consumir.
Olha se o país tivesse ido na cantiga e não tivesse as contas controladas . Olha se o Estado não tivesse agora onde bater à porta e a União Europeia não ajudasse com todo o poder de fogo ?
Andamos a vender os anéis para financiar o excesso de consumo. As famílias e as associações sem fins lucrativos portuguesas tiveram, no primeiro trimestre de 2017, um rendimento disponível bruto mais baixo do que as despesas de consumo. Um saldo do consumo negativo de 624 milhões de euros.
Isto é, consome-se mais do que se ganha. O saldo desta natureza é o mais baixo desde qu há registos (1999). Para suprir esta diferença andamos a vender os anéis e o acumulado já vai na bonita soma de 14 mil milhões de euros.
A diferença é que antes alienávamos bens para financiar o investimento das famílias, agora vendemos bens para financiar o consumo. Uma limpeza na queda da poupança.
Até o sucesso do nosso consumo que alguns insistem afirmar ser o pináculo do nosso crescimento, está assente na confiança dos consumidores, e na poupança dos outros, pois nem os anéis que vendemos nos chegam para pagar o excesso de consumo.
A entrar em 2017 sem aprender nada com 2010. Os portugueses começaram a alargar o cinto. O consumo está a crescer à custa do crédito bancário pessoal . Crédito para compra da habitação, de automóveis já colocaram as compras ao nível de 2010. Em contrapartida, os indicadores de actividade económica e de clima económico que traduz a confiança dos empresários, estão a degradar-se.
Este novo aumento da procura está novamente a fazer-se à custa das importações . E os desequilíbrios daí resultantes levaram-nos ao pedido de ajuda internacional.
Não há ninguém ao nível do Ministério das Finanças ou do banco de Portugal que alerte quem de direito para este estado de coisas e que implemente medidas ao nível fiscal ou bancário que travem o excesso de consumo que está de regresso e em força ?
Com uma previsível subida das taxas de juro e o eventual fim da compra de títulos da dívida pública por parte do BCE vamos ter problemas sérios em 2017 - o que quer dizer que não aprendemos nada em 2010 .
O factor que, segundo a nova maioria, deveria acelerar o crescimento do PIB era o consumo das famílias. E este não tem faltado: as famílias estão a gastar acima do seu rendimento disponível ( a sua poupança encontra-se em mínimos históricos, sendo agora negativa) e o crédito ao consumo aproxima-se de máximos históricos. Mesmo assim, o crescimento do PIB não acelera.
Uma conduta de acordo com práticas recomendáveis deveria levar o governo e a maioria parlamentar a dizerem-nos alguma coisa.Porque é que estando a ser implementada pelas famílias(é o que parece...)a estratégia delineada não está a dar o resultado pretendido?
Deverá o Estado ele próprio, consumir mais, endividando-se mais? Deverá incentivar as famílias a gastarem mais, endividando-se mais? Ou, pura e simplesmente, reconhecerem que poderão ter-se enganado, sendo melhor mudar de caminho ?
No Orçamento está previsto um crescimento de 1,8% que todas as instituições financeiras já negaram. Todas reviram em baixa e agora o mais certo é que o crescimento não chegue à previsão menos optimista.
Apesar de o crescimento do consumo interno estar em linha com o previsto os maus ventos vêm das exportações a tal treta da Catarina Martins. Já sabíamos há muito que o consumo interno não chega e que sem contas externas positivas não vamos lá. Nenhuma surpresa, pois.
Mas o ministro das Finanças diz que mesmo para chegar a um crescimento anual de 1,2%, será “necessário alguma aceleração da atividade económica ao longo do ano”. As previsões oficiais que constam no Orçamento do Estado para 2016 apontam para um crescimento de 1,8%. Mas Centeno deixa claro: “já nem falo em 1,8%” — e a referência a 1,2% deve-se ao facto de esta ser a previsão mais baixa que existe para a Portugal (OCDE).
António Costa reuniu com as maiores exportadoras para ouvir. A economia não arranca e as exportações caiem a pique. Nada que não se soubesse, mas Costa foi na conversa até porque era a única forma de formar governo. Lembremo-nos da inteligente declaração de Catarina Martins " as exportações são uma treta ".
Os governos "vêm sempre com teorias algo esdrúxulas, nomeadamente o actual, que estava convencido que com o estímulo ao consumo interno iria resolver o problema da economia portuguesa. Remédio já testado sem resultados. Em Julho teremos os indicadores económicos do 2º trimestre que tudo indica serão bastante maus na linha do 1º trimestre mas ainda piores. E não há dúvidas que a verdadeira oposição ao governo são os indicadores do Instituto Nacional de Estatística. E a receita dos impostos insuficiente porque o PIB vai crescer 1,2% e não 1,8% como consta no orçamento. E o investimento cai e sem investimento não há emprego.
António Costa com as calças na mão já tem exigências dos empresários que são pouco amigas do PCP e do BE. Baixar o IRC, ajudas ao investimento e soluções para o crédito mal parado em Angola.
O caminho é cada vez mais estreito ao fim de apenas seis meses.
Puxada pelo consumo privado e pelas exportações a economia cresceu 1,5% em 2015. É preciso recuar a 2010 para encontrar semelhante desempenho.
O investimento é que não melhora o que é a sentença de maior empobrecimento para o país e não criação de postos de trabalho. O crescimento previsto para 2016 é de 1,6%/1,7% com o perigo de degradar as contas externas e de haver derrapagens orçamentais. E vamos aguardar pelas medidas que Bruxelas não deixará de exigir.
Estávamos no caminho certo vamos lá ver se a ambição de chegar ao poder não estraga tudo.
António Costa o "grande educador da classe média". Não fumem, andem de transportes públicos e não consumam. Ora se ao mesmo tempo diz que é pelo aumento do consumo que o país lá vai...
Não sejam piegas. Diz António Costa que "se fumarem muito, se meterem muita gasolina e se contraírem crédito, parte do que ganham no IRS consumirão nos impostos". Ora bem, aquilo que se exige a um primeiro-ministro é que governe, de preferência bem, e não que dê bitaites sobre aquilo que cada um de nós deve ou não fazer na sua vida privada. Bem sabemos que a tentação moralista dos governos é grande.
Se deixarmos um dia o Estado toma conta da nossa vida
Só quem não conhece a realidade do país é que acredita que se induz o crescimento através do aumento do consumo.
E é aqui que considera que "o actual Governo anda apostado em propor exactamente o contrário do que devia", concluindo que "não o poderá cumprir", embora mesmo assim "os estragos serão consideráveis".
"Sugerir estimular o consumo para obter crescimento é uma ideia de quem não conhece a situação nacional", defende. "Com a taxa de poupança das famílias em 4% e o investimento em 15% do produto, os registos mais baixos da história de Portugal, o mal do consumo é excesso, não falta de estímulo".
É com este quadro que João César das Neves considera que "as políticas de aumentos de rendimentos, pensões e salários só servirão para subir impostos, reduzir lucros e, portanto, atrasar o crescimento".