Dois meses antes da estação crítica dos fogos os comandos das operações foram substituídos. Depois queixam-se que as coisas correm muito mal e acenam com inquéritos. Foi o governo que substituiu pessoas com algum tempo nos cargos por gente sem experiência mas da cor.
A Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) sofreu uma restruturação na estrutura de topo desde que o Governo entrou em funções, com consequências posteriores no terreno, noticia o Público. Todas as alterações aconteceram a dois meses da época de incêndios.
Dos 36 comandantes distritais, 20 já mudaram e 17 cargos ‘foram mexidos’ em abril, com novas pessoas a entrar e membros já experientes da ANPC a mudarem de posição.
Sou da geração que fez a guerra em Àfrica. Aos dezasseis anos começávamos a ouvir a frase " és carne para canhão" .
Aos 20 anos lá íamos para a recruta que tinha que ser exigente. O que sofríamos por cá podia salvar-nos a vida no teatro de guerra. O pior não eram os exercícios e as corridas. O pior era a prepotência e a impreparação de quem tinha como função instruir.
Rapidamente me apercebi que quando o instrutor era um oficial preparado, um profissional, as coisas corriam bem. Raramente havia incidentes, éramos tratados por igual, e havia respeito mútuo. Mas quando faltava o oficial - não raras vezes - e o instrutor era um miliciano mal preparado e arrogante porque tinha mais dois ou três anos de antiguidade, aí o perigo espreitava.
Redobravam os castigos por tudo e por nada - as vítimas eram quase sempre a mesmas - campeava a prepotência e arrogância, vinham ao de cima as preferências e as amizades. Depois havia uns quantos que tendo dinheiro e carro - fundamental - fomentavam uns jantares e umas idas aos bares mais próximos com umas menina à mistura. Quem, como eu, não tinha cheta, levava pela medida grossa. No que me cabe apanhei uma carecada e cinco dias de detenção. Porquê ? Porque na minha versão gritei caralho quando caí sobre uma pedra mas na versão do suposto superior mandei-o para o caralho. Não é que ele não merecesse mas na verdade quando me atirei para o chão não dei conta que ele estava tão perto de mim.
E pronto, assim arranjei um ódio de morte a tudo o que cheirava a tropa, os quatro piores anos da minha vida.
Vem isto a propósito de nas recentes mortes no curso de comandos estarem ausentes o Tenente-Coronel, comandante do curso, o capitão, segundo comandante e o médico. Sabe-se que duas enfermeiras foram jantar quando os dois recrutas já estavam recolhidos na tenda médica de campanha.
Os principais responsáveis pelo curso souberam das duas mortes e dos nove acidentados pela imprensa tal como nós. Como profissionais devem ter tido boas razões para estarem longe dos postos que lhes competia assegurar.